Uau, parece que faz um século desde que eu fiz uma resenha de livro, e, começando a escrever essa parece que ainda não terminou.
O clube do crime de quinta-feira pode ser muitas coisas, mas um 'livro', eu não sei se é uma delas. É ruim, claro. Uma tentativa de um comediante de criar um material que funcionaria para uma sitcom ou seriado da BBC? Provavelmente. Mas um livro, eu tenho minhas reservas em muitas escalas.
Primeiro porque, a ideia central do livro que provavelmente o autor (e seu editor) enxergaram como uma ideia revolucionária, brilhante e genial, bem, não foge muito do conceito da Miss Marple da Agatha Christie, né? A aposentada (tricotando) que anda pra lá e pra cá e resolve assassinatos entre um suéter e outro.
Quer dizer, é uma versão mais moderna, com a Miss Marple morando em uma 'casa de repouso' (sabe, o que nós tradicionalmente chamamos de 'asilo' aqui no Brasil), e com mais aposentados para fazer coro (assim consegue inflar mais páginas, e, se o material for produzido como série, é possível trabalhar com um elenco variado e diverso de atores).
Inclusive o elenco variado de outros aposentados para fazer coro também está ali para fomentar a condição de vender para uma sitcom ou uma série para a BBC. Um 'será que eles ficam juntos?' aqui, um espaço para desenvolver subtramas (inúteis) ali e o livro chega a mais de 400 páginas em 115 capítulos divididos em duas 'partes' (a primeira com pouco menos de 200 páginas apresentando os personagens e os dois principais crimes do livro. Curiosamente, Conan Doyle me 170 escreve seu primeiro romance, Um Estudo em Vermelho (menos que a primeira 'parte' do romance de estreia de Osman, e, vale lembrar, O Ladrão de Casaca também não chega nas 200 páginas, ainda que eu não considere exatamente um romance, e mais uma coletânea de contos com mesmo temática) enquanto possui vários contos menores compilados nas diversas coletâneas - assim como Agatha Christie e Edgar Allan Poe. E existe um motivo enorme para isso:
(Na verdade dois: Esses livros mais antigos eram publicados em jornais/revistas e por isso compilavam pequenos capítulos que depois seriam compilados como livros, e os capítulos periódicos tinham de seguir estruturas limitadas pelo espaço disponível nas publicações dos jornais/revistas que os publicavam).
É muito difícil manter a atenção de um leitor por muito tempo, e com mistérios - onde os detalhes são cruciais e importantes, tanto para envolver o leitor, quanto para engajá-lo - há uma linha delicada e sútil entre o ponto de apresentar os pontos principais, oferecer o mistério e solucioná-lo com eficácia (e a contento).
Quanto mais tempo leva, mais o público esperará uma resposta mirabolante e fascinante que seja satisfatória a cada um dos aspectos, e, que, caso não seja, a decepção e frustração dos leitores torna impossível que o leitor volte a outra obra (e, no caso de autores de mistério SEMPRE existe outra obra - algo como Sherazade - e não, aquela escrota do SBT, por favor - , mas talvez a simples natureza do mistério, que sempre haverá mais um, e, na mente do autor, "e que seja eu a produzi-lo e lucrar com isso"). Mas também tem o elemento de que, e isso é importante, o próprio autor se enrole, se perca na própria história e os eventos ou não façam sentido ou não sejam de fato (assim tão) interessante(s).
Aí a solução fica parecendo daqueles desenhos do Scooby Doo mal costuradas para justifique que hologramas, projeções e mais uma série de bobagens façam a ilusão do crime perpetrado - quando chega um ponto em que é mais fácil admitir que fosse simplesmente um fantasma mesmo.
No caso de Osman, quanto mais a trama avança, perdão, quanto mais as páginas avançam sem que pareça haver qualquer real trama (ou investigação, ou motivação, ou suspeitos ou...) fica difícil para o leitor se engajar na história e esperar qualquer interesse na solução. Ah... O culpado é aquele cara? Putz, que legal, hein? Joinha pra você.
A investigação é lenta, oferece pouco ou nada de cativante até a conclusão enquanto passamos capítulos e capítulos lidando com as vidas de aposentados entediados cortando os cabelos e perturbando policiais.
Meu conselho: Só nesse texto tem vários livros bem mais interessantes (e, inclusive mais baratos, diga-se de passagem) para se ler do que esse.
Talvez um dia Osman encontre sua voz literária, talvez desista disso e foque na comédia onde eu acho que é o ponto dele, não sei. Hoje, sem sombra de dúvidas eu digo que O Clube de Crime das Quintas-Feiras é fraco e mais um pitch que um livro, só que eu não sou um investidor, sou um leitor.
Me chame de novo quando o livro estiver pronto.
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