A série vai por um caminho bem próximo das histórias de Jeff Lemire à frente do personagem (de 2016 com 14 edições) assim como se valendo de não apenas um ou outro aspecto de outras encarnações do personagem (algo que o próprio Lemire fez em 2016) assim como uma amálgama disso ou daquilo tanto de seriados de super heróis quanto de filmes de ação. Resumindo, não é nenhum Pacificador, mas, francamente também não é nem mesmo um Defensores (que eu ainda acho a pior série de super heróis já feita, mesmo que eu particularmente não veja grande atrativo na série aqui presente).
Meu maior problema com o Cavaleiro da Lua - tanto de Lemire quanto na versão mais recente da Disney - é o de abraçar uma ideia que mesmo para os anos 1980 quando o personagem surgiu não era exatamente das mais (e eu não sei como dizer isso sem soar perigosamente em tom de pregação) acertadas.
A sacada do Cavaleiro da Lua é que ele é um herói com problemas mentais (acho que o termo que usam na série é esquizofrenia e múltiplas personalidades) e por isso ele acaba perdido em seu mundinho inconsciente das ações de seu(s) alter-ego(s) ou mesmo de si próprio. E como eu escrevi na minha resenha da fase do Warren Ellis há quase oito anos (ai): "uma das falácias históricas do personagem, com a falta de pesquisa sobre doenças mentais, que em outras séries chegou a medidas absurdas".
Sabe, em 1980 essa baboseira pseudo-científica de que um personagem tem múltiplas personalidades e sofre de esquizofrenia e ISSO é seu super poder (além dele não precisar de medicação por que isso é coisa de mulherzinha, ra ra) já não era exatamente algo a ser celebrado, mas, quando a competição eram histórias em que os X-men resolvem o apartheid enfrentando um robô aranha gigante (sim), não é exatamente como se estivéssemos falando de Shakespeare em quadrinhos aqui. E, vamos abrir um pequeno parênteses, claro, afinal a ideia de que doença mental = superpoderes sempre foi algo que tanto filmes (como Rain Man) ou livros (como bem, quase todo livro do Stephen King com um autista que justamente por isso é o portal para alguma outra dimensão ou algo do tipo) adoraram glamourizar.
Ou, claro, como assassinos frios e sem coração (afinal, eles tem alguma doença ou problema mental)... Só que, será que é tão difícil, sei lá, fazer o mínimo de pesquisa e escrever personagens críveis e com alguma base de humanidade - e dentro de suas limitações em virtude de quaisquer que sejam seus problemas...? Quer dizer, nem toda série precisa ter a mesma qualidade de Atypical, mas, será que é tão absurdo esperar ao menos uma fração do zelo dedicado à série da Netflix em outros materiais...?
Na série da Disney, Oscar Isaac ouve vozes e tem lapsos de memória (além de, claro, ter alguns tiques esquisitos e por isso ser alguém incrivelmente genial e brilhante) e, como é um material do MCU tem um bocado de "piadas" (sim, entre aspas porque eu realmente não vejo como alguém encontre graça naquilo mesmo com um GPS e um mapa). Ah, e como é algo da Marvel ele sofre bullying também (porque claro que sim) ainda que tenha grandes poderes e por isso grandes responsabilidades.
Olha, pode melhorar muito - e o elenco é excelente para justificar que melhore - mas eu não esperaria muito não. Na verdade, minha expectativa é mais a de que isso acabe cancelado (como Inumanos) e desapareça para debaixo do tapete com todo mundo fingindo que nunca aconteceu...
O que, verdade seja dita, é bem parecido com o que nossa sociedade de fato faz com pessoas com doenças e problemas mentais.
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