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24 de fevereiro de 2022

{Resenhas de Quinta} Paucificador Primeira Temporada [QUASE Sem Spoilers]

É preciso reconhecer que o miserável James Gunn é um gênio. Ele pegou uma franquia que fracassou retumbantemente alguns anos atrás e relançou o material com considerável sucesso (mesmo que no meio de uma pandemia e que mal foi lembrado num ano com lançamentos como Homem Aranha) e depois simplesmente lança uma série com o personagem menos interessante do filme (e olha que é um filme com um personagem chamado Doninha e outro que é o Homem das Bolinhas).

Então como fazer um herói de quinta que faz parte de uma linha de heróis de quinta da DC que vieram num pacote quando compraram uma editora falida - e que nos últimos 40 anos só foi relevante como inspiração para um dos personagens de Watchmen e depois para uma história inspirada em Watchmen usando os personagens da Charlton escrita pelo Grant Morrison...?

Bem, basicamente ligando os amplificadores no volume 11 e deixando a loucura rolar abraçando o metacomentário e a ideia básica de que num mundo com super heróis como Batman e Superman também obviamente surgiriam caipiras trumpistas seguidores de QAnon que se acham super heróis - ao defender os valores de gente de bem e matar uma bela quantidade de gente marrom no processo. Claro que a série abre a deixa para temas mais sérios - e pode até abordá-los em episódios no futuro - mas honestamente, quando um maluco começa a fazer caretas para que não descubram sua identidade secreta, será que a gente realmente precisa de mais metacomentário sério e sombrio colocando o Pacificador chorando no telhado além de que gente que se fantasia para combater o crime é francamente insana?

Droga, um super herói racista que assiste a Fox News e acredita em teorias absurdas do twitter, enquanto abraça o absurdo a cada curva e reviravolta (sejam uma invasão de parasitas alienígenas, uma luta contra um gorila gigante com uma serra elétrica ou uma águia como animal de estimação) e é incrível como tudo isso funciona. John Cena é claro brilhante no seriado, mas não está sozinho - e com certeza não é o talento do cara que fez Não vai dar (2018) ou aquele outro clássico imperdível Brincando com Fogo (2019).

É óbvio que o diálogo e roteiro fazem enorme diferença aqui, assim como a direção cuidadosa de Gunn e o elenco brilhantemente escolhido mesmo para os papéis menores e (aparentemente) menos importantes. Tudo funciona organicamente e se integra para construir um mundo coeso, tanto que funciona no esquema maior do universo DC - incluindo a participação especial do episódio final da temporada - ao mesmo tempo que constrói um mundo digno de se explorar por mais algumas temporadas, flertando em partes iguais de comédia e ação.

Isso não tenta ser Demolidor da Netflix (todo sério e chorando no telhado ou algum dos mais recentes (e na minha opinião bastante idiotas) projetos da Marvel pro Disney Plus. A série entende que é idiota. Que o personagem é idiota, que o conceito de alguém que mata em nome da paz é idiota (e hipócrita e só seria seguido por algum tipo com sérios problemas, provavelmente até alguém que pensaria em fazer a América grande de novo ou outro slogan protofacista qualquer... Se fosse brasileiro, provavelmente competiria com o 'Doutrinador' - só que esse é mais idiota que se leva a sério porque a corrupção matou a família dele então ele chora no telhado).

A série entende que é sobre um milico babaca com um penico na cabeça que mata gente de cor (porque, de novo, ele é um caipira racista e trumpista) e acha que ao fazer isso ele é um super herói. A série não perde essa autoilusão do personagem ao ver em si próprio uma grandeza que não existe, mas também não deixa de apontar os motivos para suas falhas de caráter (sua formação com um pai caipira e racista que o fazia lutar contra outras crianças para entreter outros idiotas caipiras), e faz tudo ao som de glam rock podreira (ciente de que isso é podreira). E, droga, isso funciona.

Droga, eu podia escrever o texto só elogiando o brilhante Freddie Stroma que faz o Vigilante (mas aí eu teria que mencionar que ele está em Bridgerton, né?).

Além do mais, e aquela abertura? Não, sério, aquilo tem que ser a melhor abertura de um show nos últimos vinte anos, fácil, né? Tá, tá, talvez mais porque não é nem como se alguém de fato tivesse tentado desde Game of Thrones (ou The Wire)... Curiosamente todas da HBO, né?

É a melhor coisa de 2022 (ainda que o ano mal tenha começado), e eu já assisti duas vezes aos episódios ciente de que vou assistir pelo menos mais uma(s) antes de declarar o imposto de renda desse ano. Tem seus erros e problemas, claro, mas o saldo é pra lá de positivo.

Nota: 9,0/10

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