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26 de fevereiro de 2022

{Reactorial} Respondendo a uma análise (nada) competente

Que empresas de investimentos gostam mesmo é de te vender cursos (porcaria) que você não precisa não é segredo pra ninguém. Mas se o conteúdo de seus cursos for da mesma estirpe que essa análise sobre 'a batalha do streaming' da Infomoney, eu tenho até medo.

O texto é ruim, raso e com uma análise que é uma merda e eu diria até bastante calhorda afinal chega à conclusão que a 'vítima' da batalha dos serviços de streaming é o lucro das companhias.

Pobres companhias multibilionárias que tem lucros (razoavelmente) menores numa pandemia global, né? Jeff Bezos não poderá destruir DUAS pontes históricas para passear com seu iate, terá que se contentar em derrubar uma só. Tempos difíceis...

O primeiro erro crasso da análise é de não estabelecer um parâmetro base para comparação. Com dados de pesquisa entre 2020 e 2021 os números são viciados em um cenário macroeconômico mais complexo com a pandemia, e não tem um paralelo de cenário prévio a esta realidade... Até porque nem tem como olhar esse cenário. A HBO Max lançou seu serviço em maio de 2020 nos EUA e em 29 de junho de 2021 na América Latina. A Disney um pouco antes, em novembro de 2019.

Em março de 2020 a pandemia bateu forte (caso você seja uma inteligência artificial escrevendo um artigo para a Infomoney) derrubando as principais bolsas de valores com circuity breaks em cima de circuity breaks e no Brasil foi a maior queda em 22 com a maior alta do dólar.

Então a comparação dos números destes serviços, apresentando crescimento ou não, não representa um cenário normal. LONGE DISSO. Os cinemas ficaram fechados com ciclos de reabertura ou condições bastante atípicas e até o grande sucesso de Homem Aranha: Sem Volta Para Casa (uma das maiores bilheterias de todos os tempos), os resultados de bilheteria vinham em enorme declínio desde 2019 com, bem, outro filme dos Vingadores.

Warner lançou quase todos seus filmes diretamente no HBO Max e eles não performaram exatamente bem nos cinemas (Matrix Resurrections como o fracasso mais recente, mas Tenet, Mulher Maravilha 1984 com quase um terço da bilheteria do primeiro filme e mesmo Duna com 400 milhões ficou atrás da sequência para Venom). No lado da Disney, com exceção do já mencionado Homem Aranha, Eternos e Viúva Negra tiveram bilheterias mornas (e no caso do filme do grupo de Jack Kirby, estamos falando de um elenco estrelado com Salma Hayek e Angelina Jolie - só focando nos cachês mais altos). 

E essas são as grandes companhias e os blockbusters. Essa realidade adversa de uma parcela enorme do filão do mercado destas companhias - que lucram consideravelmente com a bilheteria e subsidiam a produção de novos projetos. O artigo sequer usa as palavras 'cinema' ou 'bilheteria' em sua análise dos números e resultados de um setor baseado em entretenimento...

Não obstante, a Netflix que fez muito mais sucesso com seriados que com filmes emplacou qual grande sucesso nos últimos dois anos...? Você lembra de Stranger Things (primeira temporada em 2016, a última saiu em 2019), certo? Mas de 2020 para cá (os anos analisados na 'reportagem') o serviço de streaming até que tentou e lançou alguns sucessos como Round 6 e Bridgerton, só que olhando na lista apontada como o Top 10 no Brasil você vê novelas (?) do SBT que já reprisaram incontáveis vezes enquanto mesmo lançamentos recentes (alguns muito bons como Cuphead e Inventando Anna) acabam desapercebidos.

Talvez um problema com o algoritmo sugerindo material ruim, talvez um problema com um público que prefira material ruim (ou familiar), talvez uma série de outras afirmações que poderíamos ponderar e discutir. Mas que vai de encontro da noção de que exclusividade garante assinaturas (um dos argumentos do artigo), quando claramente alguns dos materiais mais assistidos na Netflix são porcarias derivadas da TV aberta, e não seus exclusivos e material do qual investiram milhares/milhões para produzir.

Mas talvez, e esse é um talvez importante, as pessoas estejam com medo pra caramba e estão buscando um material mais confortável e amistoso em seu entretenimento, e por isso uma novela do SBT que já passou 900 vezes apareça semana após semana no topo de material mais visto na Netflix e não o ótimo Gambito da Rainha ou o igualmente ótimo Sweet Tooth (sabe, aquele seriado sobre a importância de manter sua humanidade mesmo num cenário apocalíptico?). É um apelo constante e nostálgico que empurra cada vez mais o sentimento de 'ei, lembra disso? Tipo Ei, lembra de Karatê Kid? Sim, continuação! E Beavis e Butthead? E Jogos Vorazes? Que tal uma versão coreana?

Droga, mesmo a maior bilheteria recente, Homem Aranha Sem Volta Para Casa faz basicamente a mesma coisa de Homem Aranha no Multiverso (de 2018) com várias versões do personagem só que como o Arquivo Confidencial do Faustão apelando para a nostalgia com vários "Ei, lembra do Doutor Octopus de 2004 ou do Duende Verde de 2002 ou mesmo do Electro de 2014?". (E eu sei que alguém pode comentar que Matrix apelou para nostalgia e fracassou, mas existe uma grande diferença - que é fácil de ver somente assistindo os primeiros cinco minutos de ambos filmes).

O segundo grande problema é ignorar completamente o efeito devastador da pandemia mesmo chegando à conclusão calhorda de que as 'vítimas' da batalha do streaming sejam os pobres multibilionários pela redução de faturamento, e não os literalmente pobres mesmo.

Os pobres que ficaram na fila do SUS para receber placebo como tratamento e foram ordenados a trabalhar em subempregos encarando baldeações e convivendo com redução de salário e desemprego num cenário com efeito cascata onde dados apontam para 19 milhões de brasileiros passando fome, (e inclusive um cenário em que tem gente comendo literalmente lixo). Ou cenários em que famílias perderam entes queridos - e inclusive responsáveis financeiros - que componham os quase 650 mil mortos pela pandemia no Brasil somente. Some a isso a alta do dólar, o aumento de preço de commodities, os problemas com cadeias de suprimentos e mais toda a situação que nós vivemos nos últimos dois anos que levaram ao aumento de, bem, todos os preços de produtos essenciais para subsistência enquanto entretenimento não é nem de longe essencial - e esses serviços tentem cada vez mais espremer um centavo e te vender serviços pela metade do quadruplo com 2 plataformas pelo preço de 1 (sabe, Disney e Star que são essencialmente uma única plataforma - mas você precisa assinar duas vezes para que os números aos acionistas apontem DUAS assinaturas) ou a Amazon que comprou a MGM mas te cobra uma assinatura à parte para acessar o conteúdo desse estúdio... 

E eu sei que esses portais de investimento tendem a ter a empatia de um psicopata com uma faca ensanguentada nas mãos com enorme frequência - ei, uma guerra na Europa? Mas como isso afeta seus investimentos e sua viagem para a Disney - e talvez para autores de texto para portais de investimentos e que vendem cursos online de qualidade duvidosa e questionável (ou 'inteligências' artificiais que produzam tal conteúdo) não tenham muita a ideia da realidade das filas gigantescas para recebimento de auxílio emergencial (sabe, míseros R$600,00 por míseros 3 meses para você durar malditos 2 anos e meio já).

Comprar uma cesta básica ou manter a assinatura do Disney Plus? Realmente, dilema quase shakespeareano...

"Oh pobre Yorick. Comer ou assistir o Mandaloriano? Eis a questão!"

Até porque, sejamos bem francos, e daí se a Disney quebrar a cara com o serviço de streaming...? Ou a Paramount pelo que importe (é, eles lançaram um serviço ruim de streaming também porque eles acham que tem o mesmo cacife que Disney e Warner com seriados da MTV)? Aí eles reavaliam, voltam atrás e vendem de volta os direitos para serviços melhores tipo a Netflix e tudo volta como era antes dessa patacoada toda (Disney preocupada com parques e produzir filmes ruins com o Johny Depp e a Netflix preocupada com streaming que é a plataforma dela).

Quer dizer, você entende que esse não é exatamente o modelo de negócios dessas empresas (multibilionárias), né? A Disney tem parques, vende quadrinhos, licencia seus produtos para mochilas e mais uma cacetada de opções... A Amazon com o Kindle e as vendas de basicamente tudo, o Prime é só mais um apêndice da coisa toda... SE o streaming der ruim? Dane-se. Eles não são vítimas e sim agressores - que escolheram entrar nesse mercado para prejudicar a Netflix, cujo modelo de negócios É o streaming - retirando as opções de seu conteúdo próprio e engolindo outras empresas como Marvel, Fox e ESPN para formar uma bolha gigantesca.

A ideia basicamente é de oferecer um concorrente pra Netflix com robustez para - ou ir recrutando engenheiros e ótimos profissionais da empresa aos poucos, ou fragilizar a estrutura de maneira sistemática (afinal tem nomes, talentos e gente gigantesca na Disney e Warner) para simplesmente comprar a empresa de uma vez.

E vale lembrar que o serviço de streaming é bem mais abrangente que, bem, serviços de assinatura fornecidos pela Disney, Warner ou Netflix. Sim, há um item sobre o Youtube - que tem um modelo diferenciado no quesito assinatura, porém um modelo imitado por empresas como Twitch, ou Vevo ou, sim, o Pornhub. E aí? Essas informações não são relevantes se estes serviços produzem e vendem muito mais horas de conteúdo - e visualizações, e geração de receita através de propaganda e seus serviços de assinatura...? Você só joga num gráfico a palavra 'outros' (sem descrever ou deliberar sobre o que inclui nesse item) e finge que está tudo certo?

Ou você finge que a pobre coitada (multibilionária) Disney está sofrendo porque tem menos assinaturas do que esperava...?

Pois é. Grande análise!

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