Eu confesso que não dei a mínima quando a Netflix lançou um reboot/remake de She-ra em 2018 (nossa, parece que 2018 foi há uma década...), até porque, bem, tinham coisas bem mais preocupantes acontecendo no mundo.
Com a quarentena e tanta notícia ruim tragando nossa atenção e demandando nosso tempo, eu fiz de tudo para desligar ao máximo de tempo que eu pudesse... Revi Community, Cavaleiros do Zodíaco, Psych, vários filmes do Studio Ghibli e acabei encontrando meio sem querer, meio por indicação She-ra e as Princesas do Poder.
Não é a reinvenção da roda, e é fácil de entender porque não vai chamar tanta atenção logo de cara: é um reboot/remake de um spin-off de um seriado bem do sem-vergonha dos anos 1980.
Só que EXISTE uma diferença essencial que faz com que não seja SÓ isso, e essa diferença tem nome e sobrenome: Noelle Stevenson.
Ela, para quem não conhece, é a criadora da premiada (e ótima) série de quadrinhos Lumberjanes, e consegue transportar muito bem as características marcantes de seu projeto mais famoso enquanto incorporando isso aos elementos do seriado original enquanto agregando muito de novo, interessante e original. E isso transpira por cada poro da animação com as interações bastante humanas das personagens (sem parecer forçado, manipulado ou não-característico), assim como aproveitando de sentimento sem ser sentimentalóide, vazio ou piegas.
Justamente nisso a série vai criando e construindo camada sobre camada com base no que já existe mas acrescentando os temperos que a autora tem para oferecer, e isso vai agregando e construindo uma narrativa coesa e interessante, que, mesmo que falhe ou peque em dados momentos, você precisa lembrar (vez após vez) que isso ainda é um reboot/remake de um spin-off sem vergonha dos anos 1980. O fato de ser bom (ou, em minha modesta opinião, MUITO bom) já é digno de nota, elogios e louvores.
Só que eu acho que vai além, justamente por uma mensagem de otimismo que a história oferece com sua noção de camaradagem e amizade - enquanto um exército fascista toma controle do mundo e avança a cada dia. As personagens enfrentam uma guerra constante e frequente, e mesmo assim ESCOLHEM por manter e viver seus valores perpetuamente. Mais que isso, muitas vezes é denotado o quanto é NECESSÁRIO manter esses valores em face à adversidade e caos.
De novo, não é perfeito - acho que as três primeiras temporadas parecem bastante 'vazias', com cidades sem gente morado nelas, e mesmo o exército da 'Horda' parecendo pequeno e muito menos que uma ameaça real, além do fato que parece não existir adultos nesse mundo... - só que os positivos suplantam em muito os negativos.
Além de ver algo bom saindo de um material que... tá, eu já fiz isso demais, mas é bem 'nhé' pra dizer o mínimo, a série dá uma grande chance para uma autora talentosa mostrar seu trabalho e ganhar voz e tem inclusive a inesperada redenção de Chuck Austen (isso mesmo, o cara que escreveu potencialmente as piores histórias em quadrinhos, senão de todos os tempos pelo menos dos últimos 30 anos).
Então se até o Chuck Austen, um dos sujeitos que produziu algumas das piores merdas da história das histórias em quadrinhos conseguiu se redimir... Ei, existe esperança para a humanidade.
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