Diferente de O Bem Amado, O Pagador de Promessas envelhece mal.
Quer dizer, enquanto eu imagino a trama de O Bem Amado acontecendo no Brasil de 2020 ou mesmo como uma analogia para o Brasil de 2020, a trama de O Pagador de Promessas do conflito de um religioso com a igreja parece bem menos coerente.
Em partes por, O Bem Amado ser uma comédia enquanto O Pagador de Promessas é um drama, e o exagero cômico consegue se manter mesmo que a situação seja diferente, mas o contexto do drama, bem, nem sempre.
Os temas se mantém, o drama se mantém, mas parte do contexto se perde.
Entendo que a religião mais rigorosa se mostraria avessa à ideia de Zé do Burro - e talvez isso até se aplique para alguns dos cultos evangélicos de 2020, ao que nisso faltaria a devoção e determinação da parte dos fiéis - e tudo isso que escala o conflito parece mais e mais tolo.
Sim, funciona no contexto da época (acho o filme uma obra-prima inigualável), só, ao meu ver, falha em ressoar com um paralelo do nosso contexto atual. Cabe, talvez, uma atualização (ou várias) de como era uma blasfêmia levar uma cruz a uma igreja na década de 1960 mas hoje em dia não há nada de errado em um evangélico de se comparar com o Messias (afinal, ele é Messias mas não faz milagres, tá ok?), e isso poderia enriquecer um debate bastante coerente sobre os dogmas religiosos e seu significado.
Nenhum comentário:
Postar um comentário