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7 de abril de 2019

{Resenhatorial} Sim, Bohemian Rhapsody é uma droga eis o porquê

Algumas semanas atrás eu comentei sobre os Oscar e falei um pouco mal sobre o filme de Bryan Singer de 2018. Não muito, mas bem pouco perto do que eu deveria.
Agora destrincharei um pouco mais sobre o filme explicando minhas razões pelas quais acredito que este seja um dos mais estúpidos filmes a ser mencionado numa lista de premiação.

Primeiro vale destacar o filme da Netflix The Dirt - Confissões do Mötley Crüe de 2019, que, ainda que seja um filme sobre uma banda muitas vezes pior que o Queen e sofra do mesmo mal de ser autorizado pelos envolvidos, o filme é bem mais visceral e honesto.
Sim, extremamente indulgente e masturbatório mas HONESTO.
E isso falta demais na produção que foi indicada ao Oscar.

Com todo o auge do sucesso e todas as discussões da banda, em apenas uma cena se vê algum dos membros da banda consumindo álcool. E quem é esse integrante senão Freddie Mercury? Droga, durante uma extravagante festa na mansão do cantor, os demais integrantes do Queen sentam-se mais comportados que coroinhas com suas esposas a tiracolo (dando mão comportadamente com um rosto transparecendo o rubor virginal) e mesmo na mais longa cena de gravação de música (daquela que dá o nome ao filme) não se vê uma mínima alusão aos integrantes da banda sequer mijarem fora do penico.
Todos garotos comportados, educados e de boas maneiras que dizem não às drogas, dormem cedo e vivem suas vidas puras e sem vícios... Qualé!

O filme esforça-se para criar uma imagem carola dos membros da banda enquanto no revés Mercury é o transviado, degenerado e único a se culpar dos excessos enquanto Brian May, Roger Taylor e John Deacon todos eram e continuaram nobres donos de casa e senhores de família. E isso soa tão falso quanto a platéia criada por computador para a cena final no Live Aid.

Droga, acredito que só uma cena traz Roger Taylor fumando (e um cigarro comum, careta) - enquanto o filme sobre o Mötley Crüe traz uma orgia na primeira cena e não faz qualquer tentativa de negar que os integrantes usavam todo tipo de droga inventada (e algumas ainda por se inventar), assim como viviam em todo o tipo de excesso que uma de estrela do rock pode imbuir a uma pessoa.
Mesmo o mais reservado membro da banda (Mick Mars vivido por Iwan Rheon, o bastardo Bolton de Game of Thrones) do documentário da Netflix se entrega de cabeça nos excessos dos demais, e, de novo, enquanto o filme da Netflix tem um tom bastante misógino, auto-indulgente e masturbatório sobre uma banda medíocre na melhor das hipóteses, a honestidade do filme não parece passível de questionamentos. Droga, o filme da Netflix não tenta mostrar um lado melhor de nenhum dos integrantes da banda (talvez Mick Mars com sua doença), mostrando o quanto todos eram obcecados pelo sucesso e sujeitos com índoles bem questionáveis (para dizer o mínimo).

E enquanto é possível dizer que, bem, não é necessário mostra uma vida de excessos para contar a narrativa de um artista do rock... Bem, eu falho em enxergar como.
Mas se a tentativa é de humanizar a persona pública através da imagem do conflito do homem particular com os demais personagens como adereços para narrar essa história, bem, puta que pariu como o filme falha em fazer isso também...
Sim, sim é uma adaptação dos fatos mudando eventos para seu bel prazer na tentativa de traçar uma narrativa que seja coerente com sua própria história, mas sequer é uma história interessante.
Ou bem contada.
Segue a maldita mesma estrutura que o Guitar Hero usava no começo dos anos 2000 para tirar sarro dos clichês de bandas (das bandas se separarem para se juntar novamente para um show grandioso).

Mesmo tentando focar na tragédia pessoal de Mercury, bem, o filme não parece exatamente captar e capturar a essência do conflito dele, de sua personalidade e mesmo sua vida e sua tragédia.
É verdade que Rami Malek mesmo com as ridículas perucas, dentaduras e trejeitos consegue uma performance que chama atenção, mas não faz justiça ao cantor.
A família de Mercury só aparece aqui e acolá para justificar o quão distantes são e para se reconciliar ao final (minutos antes do Live Aid, o grande show para encerrar o filme).
Nem de longe.

Parece mais uma coletânea, um apanhado de maiores hits para compilar em uma embalagem belamente apinhada de duas horas sem forçar nenhum limite, sem buscar nenhuma contemplação maior. Eu perdi a noção de quantos minutos o filme foca no show Live Aid (sei que são pelo menos três músicas executadas na seqüência) e nada disso oferece qualquer desenvolvimento para os personagens ou narrativa do filme.
E isso meio que mostra o quanto o filme peca ao tentar ir na onda das ótimas canções do Queen ao contrário de desenvolver narrativa, história e personagens (de novo, só a cena do Live Aid são uns belos 10 minutos de um show ao vivo que não representa absolutamente nada para ou por esses personagens).
Poderíamos ter um filme sobre o verdadeiro Mercury, sem os holofotes e os palcos, buscando encontrar a voz interior do homem que dá vazão à figura pública, ao cantor mesmo ao que imagino um filme muito mais interessante que esse. Mas se fosse assim seria Não estou lá, de Todd Haynes  ou No Direction Home do Martin Scorcese não é mesmo (sim, dois filmes sobre Bob Dylan)?

Uma pena que um filme da Netflix sobre uma banda inferior (e que ainda é ruim) consiga ser mais interessante e melhor que uma enorme e milionária produção de Hollywood...

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