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8 de fevereiro de 2018

{Resenhas de quinta} Blade Runners sonham com ovelhas elétricas?

Sem chover no molhado sobre como Blade Runner - O Caçador de Androides de Ridley Scott lançado em 1982 revolucionou e influenciou o cinema e a ficção científica, eu tenho de destacar ao menos o quanto eu gosto do filme, com certas reservas.

A primeira no título brasileiro, tentando ir na onda do sucesso anterior com Harrison Ford (os CAÇADORES da Arca Perdida, de 1981) que era e ainda é uma tendência das distribuidoras nacionais de adaptar títulos sem qualquer conexão com o título original (e nessas comédias ruins como 'Os Espartalhões' tem exemplos e mais exemplos, sempre seguindo o título de alguma comédia mais famosa para tentar justificar a atenção do público).
Não é de todo mal, mas é desnecessário (e longo), e, ainda mais desnecessário com a continuação lançada ano passado...

Minha maior reserva/ressalva contra o filme particularmente está na construção de cenas de ação que são algumas das piores que eu já vi na vida. SÉRIO.
Tem uma luta entre Deckard (Ford) e um dos replicantes em que o sujeito começa a dar TAPAS (?!?) no rosto do protagonista! Várias das outras cenas dos confrontos de Deckard também trazem momentos risíveis (porque Pris vivida por Daryl Hanna usaria um movimento de ginástica ao aplicar um golpe contra Deckard?).

Dito isso, e dito isso após ler o livro de PKD (que eu só fui fazer em 2017), eu realmente tenho que recomendar ainda mais o filme de 1982, principalmente pela sua capacidade de tecer paralelos com o livro e crescer a partir deles, derivando da trama mas se mantendo extremamente fiel ao seu propósito.

O protagonista Deckard mesmo no livro e no filme são duas pessoas completamente diferentes, e não somente pelo fato de que no livro ele é um homem casado adepto do mercerismo enquanto o do filme é um detetive noir alcoólatra. Tem várias sutilezas no estilo do detetive noir calejado contra o burocrata que vê sua grande chance de ascensão profissional.

Inclusive a abordagem cyberpunk de Scott é bem diferente da abordagem do livro - que sim, se passa em um 'futuro' alternativo com robôs inteligentes e colônias em Marte, mas, não é exatamente um 'futuro' propriamente dito, inclusive ao criar esse universo cyberpunk que é, tanto bonito de se ver quanto aterrador em seus detalhes - e é onde a abordagem do Deckard como detetive noir casa perfeitamente.
E tem a trilha sonora do Vangelis que é uma atração a parte na criação desse mundo.

No fim, tanto quanto o livro há o debate sobre o que faz - ou não - a humanidade de uma pessoa, ainda que de maneiras distintas. São vislumbres complementares sobre o assunto. O monólogo de Roy vivido por Rutger Hauer sobre sua humanidade - enquanto um robô assassino no filme é algo que não casa com o tom do livro, enquanto a abordagem sobre religião e sociedade (e como essa visão coletiva forma o indivíduo) exploradas por PKD não tem o mínimo vislumbre na obra cinematográfica.

Espetacular filme, espetacular livro. Recomendo os dois, mas o livro é melhor.
Nota: 9,5/10

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