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10 de dezembro de 2015

{RESENHETORIAL DE QUINTA} E quem ficou de fora?

Existem algumas ausências óbvias em minha lista de melhores quadrinhos, mas verdade seja dita, não é uma lista com as melhores 100 ou 1000 obras de todos os tempos com opiniões de especialistas e o escambau.
Sim, eu sou o mais objetivo que posso, e me esforço para julgar de maneira criteriosa o material que estou comentando, e sei separar algumas dezenas de materiais que eu adoro de materiais que são excelentes (tem um bocado de graphic novels do Will Eisner que poderiam dominar uma lista só dele).

No entanto não há um algoritmo de predição que estabeleça a curva da qualidade de forma que possa quantificar e escalonar todo quadrinho numa escala (onde cada 0,1 diferencia milhares de obras e um 9,9 sem dúvida não é uma obra-prima).
É a minha lista e eu obviamente não li todo o tipo de material nem gosto de todo tipo de material - como destaquei em minha resenha de Berserk, eu não sou grande fã dos quadrinhos orientais, mas minha lista também aponta que os quadrinhos europeus são bem espaçados (alguns motivos são até óbvios, já que cada álbum de Ken Parker custa umas sessenta pratas, mas a estrutura de leitura também é bem diferente, como no caso de Incal e outros quadrinhos bem porralocas).

Mas existe uma série que eu inclusive falei semana passada sobre, que eu passei praticamente toda a minha adolescência e início de idade adulta comentando e que a cada dois ou três anos é republicada por demanda popular e que eu não inclui na lista.

Tá, duas, pois V de Vingança também não está, mas eu acho que seria Alan Moore demais...

O Cavaleiro das Trevas de Frank Miller, Klaus Janson e Lynn Varley é uma obra fantástica e que eu realmente gosto e recomendo para praticamente todo mundo que começou a gostar de quadrinhos ou que nunca foi muito fã de leitura.

Frank Miller está ainda em sua boa fase, sóbrio, com diálogos bem escritos e um roteiro coeso. Mas eu não pude deixar de notar durante minha última leitura da série algumas coisas que foram me deixando encucado, e que foi me perturbando conforme eu relia o Cavaleiro das Trevas 2, lia algumas das obras de Sin City e tentava montar um quebra-cabeças assustador.
Talvez seja apenas a pulguinha atrás da orelha, talvez seja algo mais, honestamente não importa. Eu vi.

A minha leitura de Miller nesse período é a de Al Pacino.
Enorme talento, grandes trabalhos e aí após obra que ganha o devido reconhecimento é a forma que passa a definir o restante do rumo da carreira, por copiar, repetir e hiperbolizar esse material.
Pacino com seu Perfume de Mulher - que define boa parte de seus filmes após, com atuações ainda mais exageradas, forçando sotaques e maneirismos que não pertencem ao contexto - Miller com o Cavaleiro das Trevas - que ele vai transportando nos ranzinzas, carrancudos e violentos heróis para cada outro cenário que o autor trabalhasse depois.

Inclusive acho que essa comparação é excelente justamente porque tanto Pacino quanto Miller fizeram outros espetaculares trabalhos com muito menor reputação e que não apenas são muito melhores que seus trabalhos mais conhecidos, são bem mais dignos de seus talentos.
Pacino como Michael Corleone em qualquer um dos Poderoso Chefão, e Frank Miller no Demolidor, principalmente com o espetacular A Queda de Murdock (e também porque depois de um tempo os dois chegaram ao mais fundo dos fundos do poço, um contracenando com Adam Sandler e o outro dirigindo um filme pior que os de Adam Sandler).

Enquanto O Cavaleiro das Trevas trabalha em lustrar aquele ego masculino ferido dos baby boomers que adoravam filmes de faroeste (Batman surrando um guri trinta anos mais novo no auge de suas condições físicas e com o triplo dos músculos, naquele ápice masturbatório de ego), de uma geração 'oitentista' que precisava do entretenimento para salvar o mundo (Rocky vencendo a guerra fria com luvas de boxe enquanto Rambo vencia o Vietnam quase uma década depois dos EUA correrem de lá com o rabo entre as pernas), A Queda de Murdock segue numa trajetória completamente oposta de 'homem no buraco' e o Demolidor só vence quando encontra sua própria paz.

Sim, Matt Murdock não vence o dia quando derrota o vilão que causou o turbilhão sobre sua vida, ou quando surra alguém duas vezes o seu tamanho.
Ele vence quando perdoa a mulher que o vendeu por uma dose de heroína e a aceita de volta, e segue em frente com sua vida. E é isso (na verdade ele apanha pra cacete durante todo o caminho até isso, mas é meio oposto de Batman Eastwood surrando o Superman só pra mandar uma mensagem - a de que pode).

Não perco minha admiração pela obra. Ainda acho este um dos melhores trabalhos de Miller e que merece ser lido por todo fã, não fã e qualquer curioso que procure um bom entretenimento.
Mas não acho que mereça um lugar na minha lista, pois eu preferia e adoraria que o Miller de sucesso fosse o de A Queda de Murdock, e que esse fosse o estilo que ele trabalhasse em aprimorar. Só imagino o quanto perdemos com isso...

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