Nota: 8,0/10 |
Dados bibliográficos: Companhia das letras, 2015, 400 páginas.
Título original: The buried giant (2015)
Resumo dinâmico: Assustadoramente belo.
Resenha: "Que espécie de Deus é esse, senhor, que deseja que injustiças permaneçam esquecidas e impunes?", questiona o autor num dos momentos cruciais da obra, provocando o leitor a reflexões profundas sobre o poder da memória e das escolhas (principalmente as difíceis).
Eu não li os outros livros de Ishiguro, não sei dizer se esse é o ápice ou o maior fosso do autor, e com toda a sinceridade não sei como me deparei com esse livro além de mera causalidade (estava em uma livraria e vi essa estranha e bela capa azulada com uma árvore quase morta estampada), e ao ler o verso com uma recomendação por parte de Neil Gaiman resolvi apostar.
Não que as recomendações e notas que saiam em livros e filmes valham de alguma coisa (a deste mesmo traz também algum resenhista sem imaginação que compara O Gigante Enterrado a Game of Thrones), mas eu particularmente respeito o Gaiman pra caramba, e, como disse antes, a capa do livro me intrigou. Então já que estou na livraria, porque não ler umas páginas?
E eis que quase na metade do primeiro capítulo com uns vendedores coçando a garganta perto de mim enquanto passam e com aquele olhar de "Isso não é uma biblioteca, você sabia né?" me vi compelido a comprar e destrinchar essa obra fantástica.
Terminado, após menos de uma semana depois, tenho de admitir que o começo é melhor que o desenvolvimento (conforme novos personagens e tramas mais convolutas vão se agregando) e sem a menor vergonha admito que o livro poderia ser bem mais curto para transmitir a mesma mensagem, mas ainda assim a experiência que Ishiguro produz permite relevar mesmo esses personagens menos interessantes e suas subtramas, uma vez que isso permite o uso da brilhante técnica e qualidade narrativa do autor desafiando os limites do assunto do livro (a memória).
Sem os saltos e alternâncias entre os personagens, seria uma única narrativa e permitiria menos possibilidades para questionar a memória do leitor, e os artifícios para isso são muito bem executados.
Reforço, poderia ser um livro mais curto, sem dúvidas, e a mensagem seria a mesma, mas gosto do tom, da narrativa e da qualidade artística do autor, e consigo ver as vantagens aqui em um bocado mais de páginas que um pouco menos. Funciona, e, permite maiores questionamentos, maiores liberdades.
Se será um clássico ou se falha em comparação a outras obras do mesmo autor, eu não sei responder, mas sei que é uma leitura agradável que permite carregar questionamentos perturbadores (e, conforme o final se aproxima, desoladores). Ainda que se passe num mundo de fantasia com ogros, dragões e fadas, há um lado nefasto e perverso, e, como não pode deixar de ser, essa perversidade vem muito mais, se não exclusivamente, do coração humano que de qualquer monstro que possamos imaginar.
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