Poucas coisas são mais difíceis que o mercado independente/alternativo de quadrinhos.
Quer dizer, se as vendas de personagens famosos (como os Vingadores, os X-men, Batman e cia) já vem diminuindo ano a ano, e a exposição e oportunidades de mercado para novos autores é cada vez menor (afinal, baixas vendas = baixa ousadia e baixo risco).
Só que para um produtor sozinho bancar custos de produção, transporte e tudo o mais... Eu tenho medo só de pensar nas cifras.
Isso torna o acesso a esse material extremamente difícil (tente achar "Cerberus" - assunto do próximo Grandes clássicos dos quadrinhos - pra você ver), uma vez que são tiragens muito mais limitadas, extremamente direcionadas ao público alvo (que levanta a grande pergunta de identificar o nicho de um produto de entretenimento que ainda nem começou a contar sua história?), o que faz parte do interminável ciclo de dificuldades e problemas para os autores que querem lançar seu próprio material.
Mas não só isso.
O mercado de quadrinhos é bastante saturado, e infelizmente muito pouco inteligente.
Existe muito pouca variedade, e raramente se foge dos temas chavões e assuntos padrões (ficção científica, mitologia/fantasia, crime, terror e super heróis - às vezes cruzando alguns destes temas uns com os outros para produzir 'algo novo'), e é nos quadrinhos independentes que vemos algo completamente diferente.

Nada de crimes violentos, imperadores espaciais, sangue (além do da menstruação das meninas) ou outros dos mais comuns clichês do mercado comum ao que estamos acostumados.
Ainda que o começo seja meio truncado (pois é extremamente verborrágico, em alguns momentos cartunesco demais), a primeira mini-série em três edições é a porta de entrada indicada para a apresentação das personagens e o começo do enrolado caso que será desenvolvido pelas próximas 103 (14 edições do volume 2, entre 1993 e 1996 e 90 do volume 3, entre 1996 e 2007), elaborando e desenvolvendo o próprio estilo, o que permite que Terry Moore teste, experimente e alce novos horizontes para seus limites criativos. Com o progresso da série, é perceptível o progresso do autor, que consegue se soltar mais, ficar mais confortável com o trabalho que está fazendo e saber testar e brincar com os limites que lhe são impostos (a quantidade de páginas, as limitações de arcos de histórias para as posteriores coletâneas, a estrutura dos painéis, quadros e páginas duplas - e quando usar cada estrutura a favor da história), e é bastante interessante acompanhar isso. Somente nos quadrinhos independentes - de preferência aqueles que levam longos anos em desenvolvimento - é possível ver essa evolução do autor, e, comparar o começo com o final é suficiente para deixar claro a longa jornada que foi caminhada.
Pois, afinal, "sem amor, não somos nada além de estranhos no paraíso"...
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