Facilmente alguém pode dizer que existem obras mais relevantes nos quadrinhos (mundiais e até mesmo só americanos) que a série mensal publicada entre 1995 e 2000, eu mesmo particularmente poderia elencar umas vinte séries, graphic novels (só Will Eisner e Art Spielgeman já tomam todo o top 5) e outros condicionantes...
Mas eu não consigo ignorar essa série.
Existe algo na forma como Garth Ennis e Steve Dillon trabalham cada um dos persnagens de forma que seja clara e nítida a caracterização de cada um deles (mesmo que se resuma a um mero estereótipo), principalmente no elenco principal - o trio formado por (reverendo) Jesse Custer, Tulip O'Hare e Pronisias Cassidy (imagem ao lado, na mesma ordem da esquerda para a direita).
Cada um desses personagens, mesmo com suas particularidades (um é um vampiro, ela foi treinada pelo pai desde pequena para lidar com armas - o que a levou para um cargo de assassina profissional - e o último, um pastor que se vê possuído por uma entidade cujo poder rivaliza o de Deus), que inclui o abundante número de aberrações que permeia a série a atormentar o grupo - como a presença do fantasma de John Wayne, um pistoleiro que escapou do inferno e se tornou o santo dos assassinos, e um rapaz que tentou se suicidar e fracassou, ficando com... Ah, tem uma imagem dele que explica bem, vide abaixo...
E são essas bizarrices que vão dando o charme da série e definindo um tom satírico como poucas vezes se faz possível em toda a indústria do entretenimento, ainda mais em contraste com uma história central (que tange o amadurescimento dos protagonistas em suas jornadas pessoais), de maneira que em muitos dos momentos é possível identificar cada um deles como pessoas reais.
Inclusive fazendo diversos paralelos com pessoas e situações reais, como a participação especial de Bill Hicks (lembra dele?), a guerra do Vietnã e o cenário musical dos anos 90.
Justamente no contraste entre humor e drama com um profundo equilíbrio e - curiosamente, graças ao deboche - respeito dado a cada personagem, a história cresce de maneira rica e prolífica caracterizando a história americana - como o Álamo, palco do ato final da série - e do século passado - com direito a histeria do fim do milênio e promessas de fim do mundo - e uma complexa discussão sobre religião e religiosidade (Jesse e companhia procuram nativos americanos e praticantes de religiões com descendência africana - retratados de maneira muito mais digna que os opulentos templos de religiões cristãs, caracterizados principalmente pela ordem de Herr Star).
E é entre situações estapafúrdias, deboche, saracasmo que somos
apresentados a uma história incrivelmente densa, com diversos vislumbres
de termos filosóficos pesados e complexos, que são abordados com
considerável maturidade, dada a levianidade da trama - justamente para
amenizar a situação toda, tornando-a uma leitura agradável e acessível... Só por isso, Preacher é uma leitura mais que recomendável.
Nenhum comentário:
Postar um comentário