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30 de maio de 2013

Moonshadow


Quando era jovem (mas velho o suficiente para admitir)... Um viajante retornou à cidade que outrora morou: uma cidade erigida em Lembranças, Inocência e um prazer raras vezes sentido em seus longos anos de viagem.
Era tolice voltar, e ele estava certo disso. O que teria a ganhar com esta visita? Desilusão? Pesar? Desapontamento, com certeza. Ele esperava se deparar com um lugar diferente sem nenhuma relação com aquilo que conhecera. E, assim que chegou numa colina, olhou para baixo, para aquelas casas, gramados esverdeados, crianças correndo, sem fôlego (soltando pipas, jogando bola, subindo em cercas), em direção a destinos tanto reais como imaginários, e percebeu mudanças; no entanto, para sua grata surpresa, nenhuma delas era grande o suficiente para alterar o semblante da cidade, e muitas eram tão ínfimas que ele quase acreditava que tempo algum havia se passado desde sua partida.
Mas o tempo tinha passado: A casa onde morou há muito havia desaparecido; quantos dos seus velhos conhecidos, ele imaginou, também teriam ido – se tornado comida para vermes, como todos nós um dia nos tornaremos? Ele recorda, subitamente, dos muitos mares que navegou durante os anos entre o Antes e o Agora: as terras estrangeiras percorridas, as estranhas coisas que viu. A miséria, o êxtase, a infinita agitação e a tranqüilidade sem fim.
Por tudo isso, alguém mais atento poderia considerar o viajante muito parecido com a velha cidade: mudado, mas não o suficiente para alterar seu rosto.
Embora estivesse no fim dos seus trinta anos, com um toque de cinza em seus cabelos suaves linhas sob os olhos, ele ainda aparentava jovialidade; Infantil em suas maneiras, mas não em espírito.
Parado lá, com um dos pés no Ontem, seu coração parecia carregado de melancolia –e, ao mesmo tempo, livre de tudo exceto uma doce nostalgia. Ele havia feito tanto em seus anos de viagens... mas o quê, ele refletiu, o que ele alcançou nesses dias que ele não poderia alcançar aqui? O que ele aprendeu lá fora que não poderia ter aprendido neste lugar tão adorado, tão familiar?
Ele voltou seus olhos para o sol, um enorme globo brilhante, obscurecido somente por escassas nuvens, e Algo surgiu em sua memória; Algo esquecido, porém inexplicavelmente guardado. Ele avançou profundamente em seu ser a procura deste Algo – perscrutando ecos de pensamento e sombras de sentimento – enquanto erguia sua mão, tentando alcançar o sol.
Ambos estavam longe de seu alcance.
Então, erguendo sua bagagem que ali estava, espalhada ao seu redor, e o gato bem alimentado, miando, rodeando e dançando aos seus pés, o viajante desceu a colina e adentrou a cidade.

Ele antes cultivava sonhos sobre Amor Perfeito, Esposa Perfeita, uma Vida Perfeita – mas em seus anos de viagem, ele descobriu que a Perfeição era uma farsa. Ele havia estado com várias mulheres, amado uma boa parte delas, e desejado muito mais; mas era sempre uma questão de tempo – dias, semanas e, ocasionalmente, anos – até que os rostos adoráveis se tornassem velhos ou cruéis; os cabelos dourados, finos feito palha... uma doce voz, estridente. Um corpo outrora repleto de paixão, se tornasse frio e pálido como um cadáver.
Ele não era idiota. Percebera que suas amantes também notavam tais defeitos nele, e que ficavam tão aliviadas quanto ele – provavelmente até mais – quando o relacionamento findava. Solidão e isolamento – duas coisas que quase o levaram ao suicídio – estavam agora unidas por uma negra satisfação. Melhor, ele pensava – ao iniciar uma nova aventura rumo às margens do mundo e além dele – ser um celibatário frustrado do que sofrer as agonias do amor desgastado pelo tempo.
Mas então ele acabava sendo seduzido por olhos brilhantes, ou seios perfeitos, um sorriso convidativo, um intelecto tentador – e o amor agarrava seu coração e o apertava com tanta força que toda a lógica explodia para fora de suas orelhas e um caos negligente inundava suas veias.
Inevitavelmente, depois de dias, semanas, às vezes anos de juras eternas e paixões incontroláveis, ele acabava sozinho. Miseravelmente só.
E estranhamente feliz em sua miséria.


Escrito por John Marc DeMatteis

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