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19 de dezembro de 2024

{X de Quinta} A Queda da Casa das Resenhas

A Queda da Casa de X (A ascenção dos poderes de X) é talvez a única série completa da Marvel que eu li em todo 2024. E para explicar um pouco mais sobre isso, nós precisamos voltar para 2019 quando Jonathan Hickman lançou duas mini-séries (A Casa de X e Os Poderes de X) para capitanear a franquia pelos dois anos seguintes com a premissa de que finalmente os mutantes se uniram e reuniram sob uma única bandeira em um estado nação na ilha (sentiente) de Krakoa. Existe bem mais contexto que isso - pois tudo isso toma forma com a personagem Moira MacTaggert que tem o poder mutante de ressuscitar com as memórias de sua última vida e usa isso para influenciar Xavier a moldar um mundo melhor para os mutantes, e, mesmo isso é uma simplificação que omite uma série de outros fatores, mas vamos tentar deixar tudo em um único parágrafo.

Obviamente a ascenção dos mutantes causa desconforto à humanidade, e, enquanto nações denotam sua hostilidade claramente com as intenções de Krakoa, são grupos como Orchis e a Hordecultura que vão forjando o caminho da resistência humana (e pós-humana) contra os mutantes, se aproveitando da tensão já existente. Não obstante, na nação dos mutantes, para manter um governo funcional são necessários concessões e maior espaço a vilões (como Apocalipse, Mística e o Sr Sinistro), gerando espaço para vários segredos e intrigas. Dito isso, não são estes os maiores obstáculos ou vilões mais terríveis da fase.

Longe disso. Os piores inimigos dos X-men a partir de 2019 são os péssimos roteiros e autores (como Tini Howard, Bryan Hill, Benjamin Percy e muuuuitos outros que eu provavelmente ficaria um post inteiro só comentando toda a bobagem), e talvez a própria Marvel que não sabia exatamente que rumo tomar com a coisa toda e foi lançando título após título, evento após evento. Nos dois anos de Jonathan Hickman, a série começa com as duas mini-séries citadas no começo do texto - Casa e Poderes de X -, passa por um evento de vários títulos  de toda a editora chamado Impéryo, que já termina em outro chamado X de Espadas - que é um mega-crossover de todos os títulos X -  e o Hellfire Gala (que é verdade um evento menor mas que acaba relevante nos anos seguintes), eclodindo em uma última mini-série chamada Inferno e que encerra a fase de Hickman mas não a fase de Krakoa.

Após a saída de Hickman, no entanto, vemos os mutantes assumindo papéis mais relevantes do contexto geral da Marvel, com a Vampira se jutando aos Vingadores ao passo que os X-men precisam se aliar a esses Vingadores (e os Eternos) para deter uma ameaça dos Celestiais - mas não é necessário falar muito sobre isso agora - enquanto tentam melhorar a opinião pública, inclusive criando um super-herói de Krakoa para atuar num aspecto global, o Capitão Krakoa (que, sejamos honestos, é uma ideia bosta), e mais um número cada vez maior de relances e ações no universo Marvel maior. Sejam Sentinelas com tecnologia Stark (que inclusive se casa com a Rainha Branca, Emma Frost) ou o Noturno se tornando o Homem Aranha ou mesmo a Mary Jane como pessa crucial do Hellfire Gala, além da Ms Marvel (que morre nas histórias do Homem Aranha, spoilers eu acho) aparecendo como uma mutante, enquanto mais e mais eventos e séries ocorrem (o grupo de Tempestade e Magneto que parte para colonizar Marte enquanto o Senhor Sinistro descobre que possui outros clones de si mesmo cada quais com seus motivos e propósitos).

Enquanto a fase de Hickman surge com uma missão audaciosa de revitalizar a franquia e servir de ponto de entrada para novos leitores (e aqueles que estavam afastados por algum período), os anos seguintes tornam tudo maior, mais confuso e convoluto, o que é curioso, uma vez que Hickman apresenta conceitos complexos e bastante complicados (estabelecendo uma religião própria para os mutantes, contextualizando sua posição no palco geopolítico global enquanto lidando com uma narrativa de viagens no tempo, ameaças tecnorgânicas e o que mais), é fácil acompanhar as ideias e a construção de mundo.

Depois? Bem, surgem mais e mais conceitos que não se encaixam ou funcionam no contexto geral (ou sequer são desenvolvidos), e que vão se avolumando com novos conceitos que não se encaixam ou funcionam no contexto geral. E dá-lhe viagens no tempo, clones brigando por controle, robôs assassinos e efetivamente uma guerra entre a humanidade e os mutantes, que, curiosamente parece vazia de propósitos ou riscos.

Com o Hellfire Gala de 2022 são colocadas algumas das peças que vão tornar a população do mundo ainda mais desconfiadas dos mutantes (ainda que seja como argumento para a série com os Eternos do parágrafo anterior) enquanto no evento de 2023 os vilões Orchis mostram sua cara e entreguem o plano mais terrível contra os mutantes, executando diversos deles no processo e incriminando Cíclope por um ataque em Washington.

Esse é o ponto em que começamos as mini-séries da Queda da Casa de X, Cíclope preso e aguardando julgamento (que não vai a lugar algum, porque não é um argumento relevante), diversos mutantes mortos enquanto um grupo pequeno move uma resistência para enfrentar Orchis (que se resume a espaço para violência gratuita) enquanto Xavier tenta resolver os problemas de Moira (que após os eventos de Inferno traiu os mutantes e se junto a Orchis) e do Senhor Sinistro (que possui outros clones que, eu nem vou fingir que me importei com essa narrativa)...

O grande problema dessa série é que, desde muito antes da primeira página de sua primeira edição ser publicada, já fica bem claro qual é o propósito da coisa toda e qual a finalidade dessa história: Apagar a fase Krakoa e voltar para as histórias convencionais de grupos heróicos mutantes enfrentando grupos vilanescos mutantes (porque, sabe, leitores adoram reclamar que os quadrinhos de hoje são muito repetitivos mas ou não compram ou reclamam ainda mais quando algo diferente e ousado é lançado).

Nisso a grande guerra entre mutantes e Orchis é inconsequente (além de repetitiva quando meses atrás saiu a outra série em que mutantes passaram por uma gigantesca guerra - sem consequências reais - contra os Celestiais), ao mesmo passo que o julgamento de Cíclope (que mesmo como conceito é um argumento raso e extremamente fraco, afinal todos sabemos que ele não é o culpado pelos crimes sob os quais é julgado) e basicamente todo o resto (os mutantes em Marte, os mutantes mortos, a mutante infiltrada na Orchis - e que é odiada por todos os demais mutantes e etc).

{Editado} Por mais que a série 'fale' de um número gigantesco de mortos, do acesso aos códigos nucleares ou o que for, nada tem peso ou substância, sempre ocorrendo fora de painel. Xavier acaba como um criminoso de guerra, e Apocalipse volta a ser o grande vilão (que inclusive muito mais páginas retratam o personagem enfrentando X-men do que efetivamente o resultado das ações terríveis de Xavier) {fim da edição}

Mesmo o que poderia render algum caldo no conflito entre Xavier e Moira (e porque não com Sinistro encontrando quase divindade com o próprio Sinistro) acaba desprovido de qualquer impacto ou nuance. Moira se redime no momento final, Xavier passa incólume (e até mais limpo se pensarmos bem pois tudo o que ele faz de ruim na fase Krakoa acaba esquecido ou ignorado com o reboot) e efetivamente tudo volta a ser como antes, e o 'grande evento' é um exerício em frivolidade.

O que, novamente, é bastante curioso pois na fase Krakoa os mutantes contemplam uma potencial imortalidade (o que faria a morte dos personagens bastante inconsequente - ao passo que releva questões morais e espirituais mais complexas), enquanto o fim deste recurso não parece de maneira alguma trazer algo concreto que efetivamente mudará o status quo nesse universo (na verdade, como sabemos bem, quem é morto sempre aparece em quadrinhos de super-heróis, é só perguntar para o Professor X).

O que o "futuro" promete? Do que vi, mais do mesmo, e se eu já não estava acompanhando de perto a fase depois de Inferno de 2021, agora que eu duvido que volte para a série sem um sufixo (como '97).

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