E, deixe-me ser bastante honesto: Eu entendo os ressentidos que votam no Bozo. Eu entendo, afinal, ao contrário deles, eu sei o que é empatia.
São pessoas ressentidas por vários motivos, e eu posso citar exemplos e mais exemplos (a tia da minha namorada que faz décadas tenta - sem sucesso - passar em concurso público para professora, profissão que já exerce, ou meu tio que foi um empresário pilantra a vida toda sempre querendo da medida do possível chegar ao 'high society' de minha cidade, do jeito que fosse, incluindo a participação em paróquias e tudo mais, ou funcionário público vagabundo que recebe salário alto - e trabalha pouco - e insiste que o Bozo é bom para 'acabar com a mamata'), algo que essencialmente é Dunning-Krueger em efeito mas vai além pois tem a questão da empatia que eu usei no outro parágrafo, sabe?
Deixe eu explicar: Antes do Paulo Freire (que esse pessoal odeia), a ideia de ensino era uma coisa horrorosa e nojenta em que professores sádicos e cruéis espancavam crianças quando achassem conveniente pelo motivo que fosse. Chegou atrasado? Ajoelha no milho. Não trouxe lição de casa? Tome uma palmada com régua de madeira! E não só isso, tá. Minha avó sofreu uma humilhação que já era absurda (e até o leito de morte dela, ela ainda sofria com a dor dessa humilhação), quando foi chamada por uma diretora escrota e rancorosa que disse, sem a menor vergonha que os filhos de minha avó seriam, com sorte, trombadinhas, bandidos e criminosos (Se, como eu mesmo disse, alguns se tornaram pilantras, bem, essa palavra ela não usou).
Não é difícil ver porque esse pessoal é ressentido com o intelectualismo e tenta de toda forma justificar absurdos conspiratórios para masturbar o próprio ego e fingir que foram capazes de 'mitar' sobre algum intelectual liberal. Eles acreditam nos absurdos de remédios que não funcionam, desde que eles tenham acesso aos melhores e mais caros médicos (danem-se os pobres).
Aí você soma que, no período econômico em que boa parte dessa galera cresceu, era fácil abandonar o ensino fundamental e arranjar algum emprego, o que, no período de 1950-1980 era algo bastante fácil de se achar, e com grande potencial e perspectivas (é um dos poucos momentos, senão o único, na história em que a demanda e oferta estavam não só em alta, porque 'alta' não representa o que realmente havia). A migração massiva para as cidades com demandas por serviços e produtos que não existiam (como eletricidade e saneamento, mas não apenas, pois em termos de utensílios domésticos como geladeiras e televisores) havia um mercado enorme, e um mercado enorme que exigia uma mão de obra enorme. Nisso se abriu mão da qualificação (se você quisesse trabalhar, emprego havia, e, destaquemos, esses empregos pagavam bem).
Era projeto de país não investir em educação e sim em commodities (o agro é forte, não é mesmo), enquanto nações que investiram em educação e não em commodities (como o Japão, que inclusive, saiu devastado e derrotado da segunda guerra mundial), passa a crescer exponencialmente.
Com isso em mente, é tão difícil entender que essa galera se veja ressentida com todos os pobres na época do Lula tendo acesso à universidade, estudo no exterior e a uma educação de qualidade - que a eles foi negada? Que os pobres consigam montar empresas unicórnio e que, na época do Lula podiam se recusar a aceitar emprego merda de turnos horríveis e longas horas - pois investiriam em sua formação e depois carreira?
É difícil entender quanta gente que critica os 'nem nem' (mas curiosamente não vê nada de errado no filho do presidente intercedendo negociata e ganhando carro pra isso, né?)? Afinal, contanto que sintam o cheiro de gente pobre morrendo pela manhã, eles estão felizes.
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