Na década de 1990 ocorreu um fenômeno um tanto curioso no mercado de quadrinhos, que, de uma hora para a outra conseguiu angariar considerável atenção e conquistou um acentuado volume de vendas, com exemplos de X-men#1 de Byrne/Claremont batendo recordes de venda, que, vale lembra não é o único numa década que trouxe a morte do Superman e diversos outros mega-eventos para chamar atenção do público que não lia nem acompanhava os quadrinhos.
Os aumentos de vendas, no entanto, ocorreu em decorrência de notícias pululando aqui e ali sobre os leilões de edições raras da década de 1960 (como Homem Aranha que em 1962 era vendido a 0.12c e na década de 1980 já se vendia em leilões por quase 10 mil, com o recorde de 135 mil), e, com isso nos anos 1990 não leitores viram a oportunidade de eventual lucro - gastar um dólar e cinquenta numa edição e deixá-la conservada por alguns anos para vender por dez mil? Parecia uma boa ideia, né?
O problema, como você deve estar imaginando, é que investir em um produto de nicho pensando que ele valorizaria num futuro (para esse nicho cada vez mais em queda), uma vez que o valor de investimento é baixo com perspectiva de resgate alto... É que você DEPENDE da perspectiva de revenda no futuro para que exista essa valorização.
E foi o que o pessoal que comprou essas edições #1 e tentou revender em alguns anos - e descobriu que suas compras além de não valorizarem, depreciaram de preço... Mesmo em caso de quem acabou por comprar toda uma coleção tentando vender o pacote completo.
Então porque aconteceu isso, você pode se perguntar? Bem, motivos são vários. As revistas dos anos 1960 valorizaram justamente por seus gastos baixos na época (os supracitados 0,12c) que fizeram do produto não ser mantido e/ou conservado, no que o pessoal que anos mais tarde para o pessoal DO NICHO buscando completar coleções (nos anos 1980, principalmente isso, agora já chegou em pontos mais ridículos).
Legal tudo isso, mas o que tem em paralelo com as criptomoedas?
Bem, no caso dos quadrinhos, o pessoal comprou o PRODUTO esperando sua valorização do investimento - e não nas ações das empresas que produzem esses quadrinhos especificamente, visando que o aumento das vendas acentuasse a perspectiva do investimento.
Com as criptomoedas a ideia foi a mesma.
Isso se chama ESPECULAÇÃO de maneira bem simples.
Compra-se um produto (ou ação) com a visão de que ele virá a dar retorno no(um) futuro.
Quando falamos de produtos, principalmente, isso é um problema porque, bem, produtos não são investimentos, com exceção (óbvia) de produtos DE INVESTIMENTOS (como ações, debêntures, derivativos e fundos em geral). Produtos em geral, podem valorizar (como ocorre com os imóveis) e podem oscilar de acordo com o tipo e nicho do produto.
Colecionadores tendem a pagar muito por produtos 'raros' mesmo que esse conceito de raridade não tenha exatamente muito mais para justificá-lo. Os quadrinhos são ótimo exemplo disso.
Temos edições assinadas de materiais excelentes que se valorizam (por esse motivo), assim como material terrível que valoriza somente pela quantidade baixa de demanda/distribuição (como aconteceu com as capas 3d do mês dos vilões de 2013).
Produtos, em si, tendem a valorizar CASO exista DEMANDA por eles mas baixa OFERTA, e isso favorece àqueles que compraram e mantiveram algum estoque para revenda.
Acontece que essa lógica de mercado depende, bem, de que as empresas produtoras não considerem essa demanda como oportunidade de lucro (o que, eventualmente acontece).
Foi o que aconteceu com uma boa parte das criptomoedas com oferta restrita (com as condições específicas para consegui-las) enquanto, a eventual condição de lucro subsidiava uma demanda considerável.
A especulação valorizou (rapidamente) as criptomoedas, mas não levou em momento algum à maior aceitação das mesmas - no que elas em momento algum tiveram grande aceitação e circulação, não sendo opção de método de pagamento na Ali Express ou na Amazon - e acabaram se tornando produtos de nicho, que hoje só tem alguma perspectiva de lucro para quem nelas investiu SE essas moedas forem adquiridas por alguma empresa no futuro que vá investir no segmento (como a Visa e Master que pretendem trabalhar com blockchain para aumentar a segurança nas transações de seus cartões e até mesmo lançar sua própria forma de moeda digital).
Hoje, sem a aceitação e circulação das moedas para o grande público, elas em geral são produtos de nicho, utilizadas por gente que (ainda) acredita no produto e em sua recuperação, mesmo que não exista muita perspectiva desse mercado resultar em crescimento (como com os quadrinhos).
As perspectivas mesmo provém de que produtores de moedas digitais sejam incorporados por empresas maiores (como o citado caso das operadoras de cartões, bancos e outras possibilidades mais), ainda que isso não provenha qualquer eventualidade de retorno para aqueles que compraram essa(s) moeda(s).
O que, como eu disse para um amigo que estava falando da ex que hoje está casada e com três filhos, "Ela provavelmente não vá voltar, e, se voltar, não vai ser a mesma coisa..."
O que, como eu disse para um amigo que estava falando da ex que hoje está casada e com três filhos, "Ela provavelmente não vá voltar, e, se voltar, não vai ser a mesma coisa..."
A estrutura das "coins" mineiradas não funciona para comercialização em larga escala e não adianta querer que isso se aplique e funcione no mercado... Sem isso, continuará sendo coisa de nicho de early adopter especulando valoração (que, provavelmente não virá ainda mais com tendência de empresa sólida e consolidada no mercado lançar produto similar).
PS) Pra quem é bem leigo no assunto, um pequeno parênteses: Criptomoeda e Blockchain não são sinônimos. Apesar de, normalmente estarem associados e aparecerem quase sempre que um dos assuntos está presente, os dois representam coisas bem diferentes.
Blockchain é a tecnologia brilhante por trás das moedas, mas que pode ser empregado para uma dezena (e provavelmente bem mais) de perspectivas, enquanto as moedas digitais são um negócio que ninguém nunca conseguiu justificar como um produto funcional que possa vir a facilitar ou quiça resolver o problema do dinheiro atualmente (francamente, com débito/crédito, transferências online, Western Union, Paypal e tantas outras opções de fluxo de pagamentos atualmente disponíveis, eu em momento algum consegui ver ONDE as moedas digitais poderiam oferecer alguma solução que não estava disponível... Além de alguém perder o acesso a seu dinheiro ou tê-lo hackeado e perder tudo).
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