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2 de março de 2019

{Resenhas} The Witcher Livros 3 a 7

Sim, de uma vez os cinco livros que faltam da série num especial de carnaval - até porque depois dessa vou ficar umas semanas de férias...

Primeiro vamos aos dois pontos cruciais que vejo como falhos da edição brasileira da Martins Fontes (que é a edição que eu tenho).
Um é bem bobo, problema de padronização do material ao traduzir em cada livro de uma forma diferente a forma dos capítulos (em um é 'Capítulo Primeiro', no outro 'Primeiro Capítulo' e tem alguma alternância entre os volumes que é desnecessária).
O segundo é um pouco pior, que está vinculado ao fato que optaram por traduzir 'Witcher' como 'bruxo'. Enquanto eu não tenha uma tradução melhor para o termo, bem, vale lembrar que vários nomes de criaturas não são necessariamente traduzidos e mais para adaptados, então, qual o motivo do uso de uma palavra que já existe?
E essa questão se torna um problema maior nos livros que seguem, uma vez que a jovem Ciri passa pelo treinamento dos witcher em Kaer Morhen, adotando assim a alcunha de 'bruxa' (como uma witcher mulher), o que mesmo assim não seria um problema em outros contextos, mas, lembremos que é um universo de fantasia permeado por feiticeiras e magia, então o termo 'bruxa' acaba surgindo mais de uma vez para se referir a algo bem diferente do caçador de monstros (das 'witches' e não 'witchers'), e, por algumas vezes isso gera alguma confusão. É fácil dizer quando estão chamando Yennefer ou outra feiticeira de 'bruxa' que estão tentando insultá-la, mas e quando se trata de Ciri?
Quando a chamam de bruxa existe o fim de insulto ou somente a alcunha de sua profissão?
De novo, o problema vai aumentando conforme os livros avançam... Cabiam várias soluções como notas editoriais deixando claro qual o termo utilizado no original, por exemplo, mas o mais fácil seria não usar o termo 'bruxa' para descrever alguém que faz uso de magia em momento algum, por motivo algum.

Então vamos por as mãos à obra:
Os livros bons:

Livro 3 - O Sangue dos Elfos - Esse livro é bem raso no que tange história, sendo uma continuaçãoA Espada do Destino" e focando mais na caracterização de personagens e no relacionamento de Geralt e Ciri e como este relacionamento afeta as pessoas próximas de ambos.
direta dos eventos do último conto do livro "
É o primeiro livro propriamente dito, nada de compilação de contos e traz uma das mais sólidas narrativas da saga toda, o melhor de Andrzej Sapkowski de longe.
Nota: 8,0/10

Livro 4 - Tempo do Desprezo - Ao contrário do livro anterior, este livro é repleto de eventos. Parece que tudo que tinha para acontecer acaba acontecendo aqui, e com um clímax extraordinário ao meio da história, fica a sensação de que algo mais está por vir, mas depois daí, bem, dá uma pisada no freio e começa o pior da narrativa do autor.
Após o clímax da história (de novo, no meio do livro), a narrativa segue crescendo e se espalhando para cada miríade imaginável, e, cada perspectiva que se possa imaginar ganha um espaço para expandir a história pelo universo do livro e não mais ser apenas a trama de Geralt, o bruxo.

Aqui ainda funciona bem, afinal, essa pisada no freio serve para oferecer algumas ponderações sobre o que está acontecendo, e, mais que isso, permitir ao leitor recuperar o fôlego depois de tudo que aconteceu, vendo as ramificações destes eventos, mesmo que tirando algumas das surpresas, e, por horas se expandindo demais em algo pouco interessante (como a peregrinação de Ciri com o unicórnio).

Nota: 7,0/10

Os livros ruins:
Livro 5 - Batismo de Fogo - De longe o pior da série. Começa repetindo uma série de eventos do livro anterior (recriando alguns deles) para só então iniciar a história colocando Geralt formando uma companhia saída de um jogo de Dungeons and Dragons (um bardo, uma arqueira, um cavaleiro...) que, bem, não faz muita coisa de útil ou descobre qualquer coisa de útil.
Andam de lá para cá somente para o livro terminar numa piada sem graça - de Geralt salvar a rainha do protetorado de Rívia e fazê-lo cavaleiro (entendeu? Porque agora ele realmente pode se chamar Geralt de Rívia, ha! que hilário!)
Seguem as ramificações dos eventos do livro anterior, ao que aprendemos o que aconteceu com Yennefer e as outras feiticeiras (e o que estão tramando), assim como com Ciri, mas, sinceramente é mais fácil pular esse livro sem nenhum prejuízo na compreensão dos volumes seguintes.
Fraquinho, fraquinho...
Nota: 2,5/10

Livro 6 - A torre da Andorinha - Não é muito melhor do que o anterior, ainda que pelo menos avance mais a trama e prepare o tabuleiro para o capítulo final da saga.
O problema é que a forma utilizada para a narrativa que é insuportável. O autor parece querer experimentar, ao contar uma trama em um intervalo de mais ou menos um mês para vários personagens sob estruturas narrativas diversas, ao que cai em capítulos truncados, com a história contada num pinga-pinga de múltiplas formas (ora num relato de um tribunal, ora num livro de memórias e depois voltando para uma narrativa tradicional e por aí vai), e pior ainda, cortando entre os mais diversos personagens para contar os eventos de cada personagem e grupo se preparando para um conflito final (que seria a ideia do próximo livro).
Há uma falha enorme na tradução em dado momento quando uma nova personagem é apresentada (Angoulême), que, por algum motivo que escapa completamente a lógica, é apresentada como Ciri  - que é o objetivo da busca de Geralt desde a metade do volume 4... Eu acredito que seja falha na narrativa, afinal, pelo que verifiquei online, a personagem compartilha alguns dos atributos físicos (cor do cabelo bem claro e cor dos olhos) além da idade e origem geral, e, não duvido que no texto original Geralt até pense por algum instante (ou se confunda) com a garota.
Mas a narrativa EM TERCEIRA PESSOA por parte de um narrador onisciente errar o nome da personagem? Isso é uma falha mais grave...

No geral, é melhor que o anterior mais pelo fato de avançar a trama, mas não é lá grandes coisas também. Muita coisa é bem anti-climática ou pouco interessante, e serve muito como uma continuação do volume 5... Anda, anda, anda para chegar a lugar algum.
Nota: 3,5/10

Livro 7 - A senhora do Lago - Ainda que seja o melhor dos três livros finais, ainda é bem ruinzinho.
É mais comprido - tanto que foi dividido em dois volumes - mas não tem conteúdo suficiente para esse excesso de páginas.
Na verdade umas 200 páginas das 560 poderiam ser eliminadas sem o menor prejuízo à compreensão da história. SÉRIO.
Tem um longo capítulo de um personagem quinternário - que apareceu minimamente no volume 3 e 4 - ingressando o exército, e toda sua peregrinação até se alistar, tem os relatos de uma batalha (seguindo o irritante molde do volume 6 com narrativa a conta-gotas intercalada incluindo chamada oral de uma escola!), sendo que essa batalha em si não muda exatamente o desfecho do livro, e, tem um capítulo longo com diversas 'aparições' de Ciri em diversos mundos e universos (é, ela aprende a fazer isso em dado momento), e, além do fascínio inicial só traz repetição conforme ela vai passando de mundo por mundo.

Na história principal, de Geralt, Yennefer e Ciri a situação avança melhor com a conclusão das tramas de cada um deles, a revanche de Geralt e o feiticeiro Vilgefortz e mesmo a revanche de Ciri contra seu carrasco Bonhart (que eu particularmente preferia que morresse no livro anterior, mas...) e a eventual reunião dos três, finalmente se reconciliando e fazendo as pazes com o passado, e, com isso concluindo também a história toda da guerra (é).

Aqui é onde o livro se perde bastante... Quer dizer, todo o conflito, toda a guerra e devastação... Tudo
pausa de repente (depois de se gastar páginas neste mesmo volume relatando episódios do conflito, mas dando elevada importância nos volumes anteriores) se resolve de maneira enormemente anti-climática somente para que a história chegue a um final.
Dado isso partem-se aos epílogos e quase todo mundo que apareceu minimamente volta para se despedir, até um evento no finalzinho do livro que é incrivelmente estúpido (sem spoilers) e estraga ainda mais o final da série.

E é estúpido por ser tão anti-climático, vindo bem do nada e servindo a bem pouco propósito além de encerrar a história (com chave de bosta). Mas até aí segue na linha do próprio livro com soluções anti climáticas (para cerrar com chave de bosta) a trama de vários personagens, como Cahir, Milva, Angoulême e Regis (que apesar de ser um spoiler leve) todos morrem de maneira anti-climática e idiota neste volume final.

É verdade que sai melhor que os volume 5 e 6 combinados, mas não concluí de maneira interessante ou mesmo satisfatória.
Ver alguns tantos personagens morrendo de maneira tola sem realizar coisa alguma e a história se concluir de maneira tão parva (droga, um dos personagens até destaca o quão improvável seria a ocorrência dos eventos relatados como algo tirado de contos e histórias).

Nota: 4,5/10

E por fim, o que me irritou no final (aqui contém spoilers):

Veja bem, são sete livros, dois de contos (com índices variados de qualidade) e cinco narrativas (com dois bons e três bem fraquinhos) trazendo a história de Geralt de Rívia, da feiticeira Yennefer, de Ciri e do mundo desses personagens, e depois desse trio se separar dos eventos no quarto livro, eles seguem cada qual na sua trama para conseguirem se reunir, e, para isso tem de enfrentar seus algozes na forma de Vilgefortz e Bonhart.
É um livro de fantasia, então obviamente isso acontece e todos se reencontram e está tudo bem...
Droga, eles até se deparam com um personagem dos volumes anteriores prestes a ser enforcado publicamente por algum motivo no 'epílogo', e partem para jogar os dados pelo seus destinos e concluir a trama de cada um deles.
Aí ocorre uma briga num bar e Geralt é ferido por um forcado... E morre.
É, é isso. Na verdade não só isso porque depois Yennefer chega na cidade e tenta ajudar Geralt, e, depois de ser torturada e sabe-se-lá mais o que nos volumes anteriores, ela leva uma pedrada no rosto, atacada por uma turba furiosa e pouco depois morre também com Geralt!

Sim, sim, o livro sugere que não é o caso e que Ciri leva os dois a algum "outro lugar", mas a visão dos demais personagens mortos durante a série deixa meio evidente que lugar é esse...
E, de novo, isso vem do nada no final do livro com um acidente tolo e sem muito propósito.
Droga, a morte deles sequer serve para concluir a história de maneira satisfatória.
Mais serve para sugerir que todo o caos e violência da guerra anterior se deflagariam em muito mais caos e violência (agora somado a uma enorme dose de racismo - e literalmente afinal se tratam de raças diferentes como elfos e etcs).

É para ser um final pós modernista ou chocante? Bem, não funciona... E não funciona porque num mundo com magia e uma personagem que salta entre dimensões, você dificilmente consegue oferecer algo surpreendente.
Na verdade fica subentendido que tudo pode acontecer quando uma personagem pode singrar pleo tempo e espaço a seu bel-prazer, ou quando a narrativa resolve mudar sua estrutura para contar a trama pelo viés de uma chamada oral...

Então o final só fica vazio e sem impacto.
Seria melhor um final 'feliz'? Bem, seria um final mais aberto a possibilidades, incluindo novos volumes num futuro mas não se limitando a isso, porque ao menos seria um final honesto com a natureza dos volumes anteriores.

Prefiro sem qualquer sombra de dúvidas qualquer um dos muitos finais do jogo The Witcher 3...

Um comentário:

  1. Eu achei uma obra bem bacana, e o final fica em aberto, admitindo várias possibilidades.

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