Nota: 8,0/10 |
Continuando as resenhas dos livros do bruxo Geralt de Rívia e do cimério Conan começadas em janeiro desse ano aproveito para ver o que o volume 2 de cada um dos livros destes personagens traz e o quanto de semelhanças notadas no volume 1 se mantém nas respectivas continuações.
E não continuam.
Enquanto Conan se mantém bastante monocórdio - mesmo que mudando de profissão de acordo com a necessidade da história, afinal, ora é pirata, ora mercenário, ora ladrão - Geralt de fato tem algum desenvolvimento e crescimento como personagem.
Conan se torna enfadonho depois do segundo ou terceiro conto com uma estrutura formulaica: Conan se depara com um problema insolúvel [1] (que assusta todo tipo de ser humano normal e coerente), Conan resolve o problema, seja por mera sorte [2.1], coincidência [2.2], uma combinação de ambos ou pelo fato de ser a dádiva dos deuses para a humanidade [2.3].
Isso se mostra bastante claro no conto "A Filha do Gigante de Gelo". Ainda que, inicialmente não fora publicado como um conto de Conan, é tão inegável que se trata do personagem pela assombrosa quantidade de coincidências e falta de tato que talham o conto.
O personagem sobrevive a um sangrento combate [1], e, ao se deparar com uma bela mulher simplesmente pensa que ela é seu prêmio após tamanha batalha - e parte em seu encalço. Cansado e exausto depois do combate, ele ainda consegue pensar com a cabeça de baixo para perseguir uma mulher por milhas e milhas na neve E enfrentar uma raça de gigantes invencíveis [1] como se fossem feitos de papel!
Claro que ele escapa por pouco (afinal, é uma dádiva dos deuses para a humanidade [2.3]) e é salvo [2.1] por um grupo de amigos que por coincidência [2.2] estavam passando por ali e resolveram checar pra ver se estava tudo bem!
Outros contos variam na dose de sorte/coincidência e do personagem chegar em um lugar e todas as mulheres do lugar ficarem grávidas por osmose, mas a ideia geral está sempre aqui e acolá. Ele vem, ele vê e ele vence. De novo, e de novo e de novo.
Tanto que mal é um desafio...
Por outro lado, Geralt realmente cresce nesse segundo volume que dá menos enfoque na releitura de clássicos - que destaquei do primeiro volume - dá lugar para mais desdobramentos sobre Geralt, Yennefer e o universo em que o personagem se situa. Ciri surge na história que dá título ao livro e é uma grande adição à mitologia do personagem. Mais que isso as histórias vão crescendo de maneira natural até uma conclusão, ainda que obviamente aberta para capítulos futuros, que tenta encapsular o debate do livro sobre destino e eventos predeterminados.
Nota: 3,5/10 |
Ainda que leve um pouco de tempo pra engrenar, os últimos contos são muito bons, e, realmente fica uma vontade por mais, para saber o que se dará da ameaça dos nilfgaardianos (que é o mote da Caçada Selvagem, o terceiro jogo da franquia de games) e uma série de outros detalhes aqui e ali que chamam bastante a atenção (sim, eu fiquei bastante intrigado com a possibilidade de Triss Merigold estar morta), e traz algo de muito bom nos outros contos também.
O conto "Um fragmento de Gelo" particularmente chama a atenção, principalmente como efeito de comparação com os contos de Robert E Howard. Enquanto o primeiro conto (O limite do possível) serve para consolidar o relacionamento de Yennefer e Geralt após a conclusão do primeiro livro, o segundo conto é o que realmente define a relação dos dois, e a partir do qual se constroem os contos seguintes, apresentando novos dilemas que vão se construindo com base nessa história.
E é interessante o quanto Andrzej Sapkowski realmente constrói em Geralt um personagem cheio de dúvidas, constantemente em conflito com sua missão e seus desejos e o quanto isso o leva adiante, assim como molda as reações para os serviços em questão que lhe são apresentados.
Fiquei realmente intrigado para ler o terceiro livro (O Sangue dos Elfos) agora.
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