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26 de outubro de 2017

{Resenhas de quinta} O último grito (do imperador) - Thomas Pynchon

Talvez minha birra com o livro seja no marketing safado (e as resenhas que estampam a contracapa do livro) de como é a obra definitiva sobre o Onze de Setembro de 2001... E tenho de dizer que é, em grande parte uma birra sim, e explico em duas partes.

Primeiro porque é o livro é muito bem escrito, sim, senhor. Uma história envolvente, cativante e que é ao mesmo tempo um emaranhado confuso típico de filmes noir (com uma camada de tinta mais moderna) e uma comédia psicodélica (com toadas sexuais/eróticas), que envolvem cenas em um clube de strip terminando com um ato de podolatria. Ainda que tenham muitos personagens e tramas paralelas, é fácil ver os temperos de cada um. Cada personagem construído e apresentado de maneira natural e orgânica para sua parcela da trama e conduzindo seu papel de maneira natural.

Ok até aqui? Então aí vem a grande pergunta: E porque diabos essa trama se passa cotangente ao maior atentado terrorista contra os Estados Unidos?
E digo cotangente porque setembro de 2001 só chega no livro depois da página 300 (o livro tem 584, então não precisa ser um matemático para saber que é bem depois da metade do livro)... E não é exatamente como se ele se esforçasse para explicar ou mostrar algo novo/diferente de diversos trabalhos sobre o assunto.

Acaba com aquele excesso de fatores que mais parecem teorias de conspiração, e, o evento em si acaba meio que travando todo o restante do livro - Maxine, a protagonista é uma investigadora de fraudes, e, durante vários dos capítulos seguintes ao 11/09 passa tentando se ajustar à nova realidade novaiorquina, deixando de lado os passos lógicos do caso que estava investigando.

E, de novo, a trama pós onze de setembro é bem interessante e bem escrita, focando na mudança de direção na vida das pessoas e como a caótica Nova Iorque se tornou um episódio estranho de Além da Imaginação para seus moradores por alguns dias até tudo voltar ao normal, e, Pynchon faz questão de expor um pouco dos lados menos observados desse tipo de evento (a corrupção e excesso policial ou o hiato entre o estouro da bolha das empresas ponto com até a grande monetização com o youtube, facebook e outros mais recentemente), mas fica um enorme senso de que tem alguma coisa que se perdeu na tradução (e não digo necessariamente na tradução para o português, e sim do autor em traduzir suas ideias para um texto).

Talvez encurtar mais algumas coisas, eliminar tramas paralelas que pouco ou nada acrescentaram e chegar logo ao cerne do que se pretendia... Menos personagens secundários e terciários, menos tramas sobre sociedades secretas de hackers de NY ou fetishistas que frequentam boates de strip tease durante o dia ou ex-maridos que investem na bolsa de cereais ou maridos de irmãs que podem ou não ser agentes do governo de Israel... Entende o que estou dizendo?

Ficou uma impressão que são dois livros diferentes, um sem conclusão lógica e outro que só mantém os personagens do primeiro em uma situação completamente diferente.
E sei que muitas vezes isso é a vida, mas, bem, se a vida fosse um livro ela seria um porre... Por isso existe a ficção...
Nota: 7,0/10

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