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30 de agosto de 2017

{Editorial parte 4} No caminho de Swann

Às vezes, não obstante, o que nos parece bom num momento, com o tempo, conforme nossas experiências vão mudando, conforme vamos crescendo e cultivando maiores conhecimentos, assim como amadurecemos como indivíduos, bem, simplesmente parece diferente.
Não melhor, não pior, mas diferente.

E às vezes isso é tudo que precisamos para mudar nossa opinião por completo sobre algo.

É o olhar para velhas fotos do colégio e reparar no seu corte de cabelo ridículo para perceber que você nunca foi tão legal quanto acreditava em suas falsas memórias do período. É ver alguma pessoa altamente pretensiosa comentando seu livro favorito que o faz repensar se ele é assim tão bom em primeiro lugar. É ouvir uma música de novo, alguns anos mais tarde e ela ganhar todo um novo significado...

Talvez não funcione para tudo, talvez em alguns casos só sirva para solapar a idiotice de que algumas coisas trazem (como o Sérgio Malandro contando a mesma piada a quarenta anos - e eu realmente não consigo entender como isso ainda existe), e, é verdade, muitas coisas nunca ressoaram da mesma forma para todas as pessoas.

Há décadas dizia-se que infinitos macacos digitando em máquinas de escrever seriam capazes de recriar as obras de Shakespeare, numa alusão de que, dado tempo e condições à aleatoriedade ela pode produzir e formar qualquer coisa. Creio que hoje vivemos em tempos que com infinitos youtubers seria possível recriar as obras completas de Kurosawa...
Mas não digo isso como algo ruim, e, sim como apenas uma noção e análise do poder do significado - e talvez até mais que isso a ausência dele - e o conteúdo de pontos, caracteres e marcas. A aleatoriedade (propiciada hoje pela imensa rede de conhecimento possível e difundido que nos cerca e acomete a todo momento) nos leva a uma maior quantia de informação, mas essa não é uma informação filtrada e refinada, e esse é o ponto primordial para levar da noção a para o ponto b.

E duvido claramente que seja exclusividade da geração atual.
Minha geração cresceu com outro certo tipo de noções e pré-conceitos, de estruturas sociais e convenções que, bem, hoje fariam pouco ou nenhum sentido para os jovens que brincam com seus handspinners e acham a Kéfera legal (e essa frase sozinha já me assusta em soar um idoso caquético a uma bengala de dizer 'no meu tempo...'). Eram fanzines, produções independentes e fita demo para tudo que é lado (coisas que hoje foram se adaptando e singrando para outras mídias).
Outras gerações anteriores tiveram outras mesmas condições, e, esse é um ciclo que começou há mais tempo que podemos compreender e seguirá ad infinitum.

Calça boca de sino já foi legal assim como permanente e mullets, e mesmo saindo da moda muitas e muitas coisas já foram relevantes e simplesmente deixaram de ser, por milhares de motivos (Michael Jackson foi naufragando em escândalo após escândalo até uma semi obscuridade, por exemplo).
Faz parte do nosso comportamento social, de nossa estrutura de grupo, na tentativa de identificação - e mesmo diferenciação - dentro de uma mesma turma.

E acho que esse é bem o grande mistério da coisa toda debatida nas últimas semanas nesse espaço de editoriais... De compreender o nicho e até mais do que isso entender os motivos e públicos sem julgamentos ou pré-conceitos e aceitar os caminhos que levam do ponto a ao ponto b que é o que faz com que isso se torne relevante e popular.






Com exceção do Sérgio Malandro, é claro.
Isso não faz sentido mesmo, e deve fazer parte de alguma conspiração da CIA como uso de mensagens subliminares e indução hipnótica pra que alguém tão manjado e sem graça continue por aí...

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