Entenda, primeiro de tudo que para entender o fim de Watchmen é preciso entender mais do que apenas a hq, e esse é o grande e importante ponto que diferencia quem entende (e não) o fim da graphic novel.
Digo isso porque achar que o fim do filme é melhor é a mais pura e incontestável prova de não entender o final (ei, fique a vontade para tentar ao máximo 'me explicar' o quanto o final do filme é mais lógico, mas vai por mim, eu vou derrubar esse argumento nos próximos parágrafos).
E a questão da contextualização e bagagem necessária para entender a história de Alan Moore e Dave Gibbons é bastante importante, afinal ela muda completamente a percepção dos pontos e sua estrutura... É como ler o diário de Anne Frank ignorando que havia esse negocinho pouco divulgado e conhecido que foi a Segunda Guerra Mundial.
Quer dizer, Moore cavoca fundo para fundamentar o alicerce de seu universo nas bases do mundo real construindo o universo fictício de Watchmen nas pequenas nuances e mudanças que se dão. Como o sucesso de Superman, ao invés de criar enorme buchicho e gerar uma enorme e popular indústria de entretenimento, acaba por gerar gente fantasiada combatendo o crime (sim, isso está ali num dos primeiros capítulos da biografia de Hollis Mason).
Isso também explica outras mudanças na história alternativa que se molda, não apenas com os EUA vencendo o Vietnam e Nixon escapando ileso de Watergate (e chegando a um terceiro mandato que é algo que a Constituição americana impede), como os detalhes mais sutis que vão surgindo com pequenas pistas aqui e acolá para a reflexão do leitor.
É o caso de Kitty Genovese que serve como uma luva para contextualizar a psicose de Rorscharch e, tal qual o capítulo que lhe dá maior destaque, mascarar a si mesmo dando mais espaço e voz a sua identidade secreta.
São os paralelos (como Os Contos do Cargueiro Negro, mostrando o herói que vai aos poucos perdendo a sanidade e se tornando exatamente naquilo que mais teme), são as pequenas peças aparentemente soltas (como o press-release para os novos produtos da marca Veidt) e são os absurdos contrastando com a violência crua e a lógica racional (o Comediante expondo as hipocrisias dos demais personagens no capítulo 2, por exemplo, enquanto não deixa de ser ele próprio um gigantesco hipócrita) e todos os pequenos pontos e detalhes de uma rica peça de tapeçaria finamente moldada que requerem atenção e percepção do leitor para, não apenas ler, não apenas entender e interpretar, mas juntar ambas as condições (ler e entender e interpretar) com um verdadeiro trabalho de detetive para julgar e com isso se permitir compreender quais nuances são mais factuais que o que foi dito por esse ou aquele personagem.
É o caso de Kitty Genovese que serve como uma luva para contextualizar a psicose de Rorscharch e, tal qual o capítulo que lhe dá maior destaque, mascarar a si mesmo dando mais espaço e voz a sua identidade secreta.
São os paralelos (como Os Contos do Cargueiro Negro, mostrando o herói que vai aos poucos perdendo a sanidade e se tornando exatamente naquilo que mais teme), são as pequenas peças aparentemente soltas (como o press-release para os novos produtos da marca Veidt) e são os absurdos contrastando com a violência crua e a lógica racional (o Comediante expondo as hipocrisias dos demais personagens no capítulo 2, por exemplo, enquanto não deixa de ser ele próprio um gigantesco hipócrita) e todos os pequenos pontos e detalhes de uma rica peça de tapeçaria finamente moldada que requerem atenção e percepção do leitor para, não apenas ler, não apenas entender e interpretar, mas juntar ambas as condições (ler e entender e interpretar) com um verdadeiro trabalho de detetive para julgar e com isso se permitir compreender quais nuances são mais factuais que o que foi dito por esse ou aquele personagem.
Mais que isso, Moore busca em uma construção que é, ao mesmo tempo pós-moderna (pois busca subverter as estruturas clássicas das hqs e até mesmo da jornada do herói de Campbell) e dadaísta (criando enormes alegorias reticentes de um enorme teatro do absurdo que são as 'conclusões lógicas' como o homem azul pelado discutindo o sentido da vida em Marte), e esse é o ponto em que a oba é mais sagaz e complexa, pois é nesse casamento entre o dadaísmo e pós-modernismo que Moore vai alternando a construção e apresentação dos elementos pelos capítulos.
Entenda, durante muitas décadas a noção de quadrinhos construindo algo genuinamente relevante e com importância literária foi ridicularizado por todo e qualquer crítico com bom senso - afinal, leitores de quadrinhos eram semi-analfabetos e tarados sob a visão de Fredric Wertham ou nerds babões e estúpidos sem qualquer capacidade de reflexão e raciocínio pela, bem, essa ainda persiste, na cultura popular graças aos Big Bang Theories apesar do Watchmen figurar em listas de maiores obras do século XX, né?
Nisso, com uma obra em quadrinhos flertando com filosofia de maneira adulta e coesa - enquanto brincando com o absurdo como base (de novo, o cara azul pelado que vê todo o tempo ao mesmo tempo e que resolve discutir filosofia em Marte) e onde saem muitas pinceladas que só um mestre com o calibre de Moore poderia tornar em obra-prima (e esse é o grande problema da Zack Snyder, o cara que resolveu um conflito entre Batman e Superman porque a mãe dos dois tem o primeiro nome).
Nisso, com uma obra em quadrinhos flertando com filosofia de maneira adulta e coesa - enquanto brincando com o absurdo como base (de novo, o cara azul pelado que vê todo o tempo ao mesmo tempo e que resolve discutir filosofia em Marte) e onde saem muitas pinceladas que só um mestre com o calibre de Moore poderia tornar em obra-prima (e esse é o grande problema da Zack Snyder, o cara que resolveu um conflito entre Batman e Superman porque a mãe dos dois tem o primeiro nome).
Os absurdos compõem e dão forma à sociedade e esse é um dos pontos da filosofia que Moore vai traçando ao lidar com algo quase como Camus (e seu mito de Sísifo), que, pode se refletir (de novo essa palavra) nas diversas soluções dos personagens INCLUINDO a do Ozymandias para o Nó Górdio.
ABRAÇAR e FLERTAR COM o absurdo é bem diferente de TORNAR O ABSURDO LÓGICO (que é o que Zack Snyder tenta).
A lula gigante alienígena jogada sob Manhattan para impactar os psíquicos da Terra é somente aquele tapa na cara para quem estava inerte ou confuso pelo canto da sereia sendo dragado cada vez mais longe para o mar (do universo da hq) para ressaltar de sobremaneira com um absurdo além de todos os outros que, bem, tantos outros absurdos foram passando e se apresentando vez sobre vez.
Isso serve também como camadas extras e meta - o raciocínio para a formação de uma conclusão definitiva - e não aberta para sequências e continuações infindáveis enquanto alguém possa tirar leite dessa vaca, e o quanto isso é incrivelmente louco por justamente permitir como uma conclusão 'definitiva' a de um final cíclico da cobra ouroboros (que come o próprio rabo), quando o diário de Rorscharch com a absurda narrativa dos eventos que se passaram - escritas pelo psicótico vigilante com sérios problemas mentais - chega ao nada confiável tabloide que pode ser o único meio jornalístico com um semblante da verdade do que aconteceu.
Então usar ogivas nucleares (formadas a partir do poder do Dr Manhattan) ao invés de um monstro moldado com literais vaginas dentatas (que, a sexualidade é um ponto importante dos muitos problemas de Rorscharch, e, vale lembrar que a história reflete o texto de SEU diário, e não necessariamente os fatos como - e que - aconteceram) ainda mais quando o primeiro ataca MAIS alvos (que IRIAM retaliar quando um agente norte-americano comete um ataque contra uma nação soberana no que pode ser tratado como uma declaração de guerra, ainda mais no panorama de Guerra Fria que é o cenário da história).
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