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12 de junho de 2016

{Editorial} A música realmente piorou?

* (Para sair um pouco do clima pesado dos últimos editoriais, proponho um assunto mais simples relacionado a entretenimento e nossas opções pessoais. Juro que farei o possível para manter leve).

Quando uma conversa sobre música surge com amigos e familiares, raramente o assunto deriva de 'Ah, mas antigamente é que se fazia música boa' com as variações (principalmente quando algum artista contemporâneo faz algum merda, como o caso recente do tal Biel*) 'Olha só essa porcaria de hoje em dia!'.

Eu, particularmente tenho sérias dúvidas dessa visão nostálgica de belos e lindos campos verdejantes em que a música era maravilhosa, o ar mais puro e a vida era muito melhor. Acho que é fácil sustentar meu argumento com familiares com a simples busca de algum álbum de fotos antigo (sério, quem quiser que argumente que aqueles cabelões, ombreiras e bigodes horrorosos eram melhores que o que usam[os] hoje).

Com amigos, e, principalmente gente mais nova que provavelmente nem tinha nascido quando a era dos cabelões era moda, fica um pouco mais difícil. Pouco.

Você conhece Echo and The Bunnymen?
Eu conhecia a banda por dois sucessos enormes que eles fizeram (Lips like sugar e The Killing Moon), e, sei que eles tiveram até uma fase considerável na onda da MTV, produzindo clipes que ganharam alguma notoriedade, mas, que sejamos bastante honestos e sinceros hoje são anos 80 demais para sobreviver, e, a banda parece uma versão 'b' demais de The Cure para soar diferente.

Não minto que gosto de um bocado de coisas da banda, mas, sem sombra de dúvidas eles foram um produto mercadológico de sua época como Duran Duran, Tears for Fears e outras tantas bandas (The Cult? The Church? The The? Midnight OilOingo Boingo?). Droga, conversando com amigos eu até me perguntei onde foi parar o Van Halen que era uma banda que lançava hit atrás de hit!

Sei que alguns podem ver padrões claros que eu não quero focar (sim, sim, todas as bandas citadas até agora são uma coleção de artistas caucasianos* - com Robert Smith do The Cure ganhando o troféu de mais caucasiano ser humano do mundo sem chegar a ser albino - e, sim, também era uma festa da salsicha*), que foram mudando com a chegada dos anos 90 (Michael Jackson, NWA e toda a levada do hip hop mudando o cenário musical).

Só que a verdade mais profunda e importante sobre tudo isso é que nenhum desses artistas foi exatamente julgado por seu talento e competência e sim pela sua habilidade de vender discos - e se manter relevante. Essa É ainda uma moeda bastante utilizada na indústria fonográfica, e, é de muitas formas uma moeda bastante injusta.
Quer dizer, Danny Elfman - que talvez você não saiba, mas faz parte de uma das já citadas bandas nesse texto - depois de sua carreira como artista pop fez algumas das mais famosas, grudentas e conhecidas trilhas sonoras dos últimos 30 anos. A música dos Simpsons? Da série animada do Batman? Dos filmes bons do Tim Burton?
É...

Isso é apenas uma condição bastante discreta, e, que, sejamos honestos não faltam exemplos para apontar de artistas que floresceram e perseveraram e nomes que francamente reservam um enorme exercício de memória (e Google) só para saber de quem ou o que se trata.

O tempo ajuda os bons, que, não só vão produzindo mais e mais trabalho, mas ganham mais notoriedade. Da mesma forma que muita gente não conhecia Echo and the Bunnymen, a brilhante Gentle Giant ou King Crimson (que são ainda mais antigas), raramente são lembradas em listas e fãs de música em geral.
Graças a internet, estão há alguns cliques de distância competindo por sua atenção da mesma forma que Beyoncé ou Taylor Swift (ou Anita para pelo menos um nome nacional).

Na época das cabeleiras, ombreiras e bigodões, para ouvir um In the Court of King Crimson (um dos álbuns mais fodas de todos os tempos), você precisaria encomendar e esperar semanas, talvez meses (e, talvez graças à censura do governo brasileiro nem receberia graças ao 'Crimson' - rubro - que algum censor poderia interpretar como propaganda comunista).

Hoje quem escolhe se vai ouvir 21st century schizoid man ou Lemonade, bem, é o público (não julgando um como melhor ou pior, diga-se de passagem). Mais que isso, existe o acesso a toda uma gama de outros, diferentes e diversificados artistas.

Essa é uma grande diferença sobre a distribuição musical, inclusive. Enquanto muitos nomes se fizeram (e foram desfeitos) por gente dançando, dançando, dançando ao som do radio, e depois comprando uma MTV hoje nós temos até o acesso aos próprios artistas através de suas redes sociais! Droga, dependendo do estágio na carreira que o grupo esteja, você não precisa de muito mais que um cutucão no facebook para receber um cd autografado! E olha que eu sou bastante tradicional, porque com o acesso hoje, achar bandas de rock progressivo nortecoreanas, de pop tibetano, folk lituanês e/ou de canto gregoriano costarriquenhas não é exatamente um desafio, e sim um teste de paciência, que a ferramenta que você está usando para ler esse post te dá as mesmas condições de encontrar um, se não todos os itens anteriormente citados.

O que quero dizer, de maneira geral e clara, é que a forma como consumimos música mudou, e, não tem mais como comparar com o jeito antigo. Em tempos passados existia um Darwinismo enorme que só os rentáveis sobreviviam no mercado fonográfico, enquanto hoje isso não importa (ainda existem discos de ouro?).

Hoje nos adaptamos e evoluímos a algo diferente, e, em alguns anos será outra coisa completamente.
Talvez você desgoste ainda mais do que virá, talvez os artistas de cinco anos no futuro sejam aquilo que você procurou a vida inteira.
Como aconteceu com seu prato favorito, primeiro se faz necessário conhecê-lo, e, hoje mais do que nunca existem condições para se conhecer de tudo.

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