Começa com algo pequeno.
Você esquece de devolver uma caneta - e quando se toca, sabe que a viagem de volta não compensa a devolução.
E, francamente, isso não é um crime preocupante em qualquer escala. É uma caneta de cinquenta centavos e que não representa nada na escala maior do problema e da grande situação de maneira mais objetiva.
O problema é que, sabendo que isso é, e faz parte do processo, isso também entra no cálculo dos gastos e ajustes de custos e preços.
O que quero dizer, é que os outros consumidores pagam para compensar o(s) roubo(s) de caneta(s).
Isso é o que chamamos de meias-medidas ou meias-soluções.
Quando sabemos que existe um problema, e não há justificativa em investir na solução ou busca de soluções para ele, ou quando simplesmente as soluções oferecidas resolvem o problema pela metade (ou, pior ainda, são soluções paliativas).
Quer um exemplo de solução paliativa? O desconto concedido a advogados para livros jurídicos.
Acompanhe meu raciocínio por um instante: O público de livros jurídicos é um nicho bastante específico, e com raros casos e exceções vai fugir dos advogados. Quem publica esses livros SABE que seus consumidores SERÃO advogados, juízes e outros profissionais formados na área.
Esse É o público alvo desse tipo de trabalho.
Então, qual o ponto de oferecer um "desconto" e não trabalhar efetivamente com um preço de capa mais baixo?
Ótimo que os advogados também tem descontos em outros livros, e tudo mais, mas não é disso que estou comentando... Eu, que vou a livrarias pelo menos duas vezes por mês, jamais passei mais que dois minutos na seção de livros jurídicos (muito menos olhei para 'Anais da jurisprudência brasileira 2014-2015' e pensei, "Uau! Eu não posso esperar para ler!!!!").
Isso, pra mim, é a área cinza entre certo e errado que não é exatamente corrupção, mas também não é exatamente certo.
Quer dizer, se livros jurídicos são vendidos para advogados e advogados tem direito a descontos sobre o preço de capa... Porque é necessário que os advogados exijam esse desconto...?
Bem, posso estar errado, mas é porque alguns (muitos) advogados talvez não saibam desse benefício e nisso paguem 1/4 a mais do preço de um livro, aumentando os lucros da livraria, editora e toda a cadeia até o consumidor final.
Essa é a enorme área cinza onde, bem, coisas como as altamente suspeitas vendas de ingressos para o filme "Os Dez Mandamentos" da Record/Igreja universal, sejam ao que tudo indica perfeitamente legais.
Ou a discussão proposta pelo economista (e ex secretário do trabalho) Robert Reich com seu livro 'Supercapitalismo' sobre a estrutura política que molda e muda ao redor dos grandes capitalistas para facilitar suas vidas (que resulta em situações como os 'Panama Papers' e gente defendendo brechas legais às grandes fortunas) enquanto aperta, esmaga e afoga os pequenos.
Ou a discussão proposta pelo economista (e ex secretário do trabalho) Robert Reich com seu livro 'Supercapitalismo' sobre a estrutura política que molda e muda ao redor dos grandes capitalistas para facilitar suas vidas (que resulta em situações como os 'Panama Papers' e gente defendendo brechas legais às grandes fortunas) enquanto aperta, esmaga e afoga os pequenos.
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