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23 de outubro de 2015

{RESENHAS} A menina que brincava com fogo - Stieg Larsson

Nota: 3,0/10
Dados bibliográficos: Cia das Letras, (5ª edição) 2015, 610 páginas.
Título original: Flickan som lekte med elden (2006).
Resumo dinâmico: A importância de um bom editor

Resenha: Esse livro é bem ruim tanto considerando-o isoladamente como considerando que é a continuação de um dos melhores livros publicados na atualidade.

Os motivos para isso no entanto parecem claros: O autor Stieg Larsson falecera em 2004, antes de publicar todos os livros da série Millennium, com a conclusão lógica de que dedicara mais tempo (e revisões) ao primeiro que estava em vias de ser publicado no ano seguinte de seu falecimento.

Com o sucesso da publicação, a editora responsável pelo material compilou a partir dos esboços originais entregues as versões finais dos livros seguintes, e, bem, fica clara a falta de visão e mais importante revisão.
Esse parece um esboço, talvez avançado, mas ainda assim apenas um esboço.

Como assim?
Veja o seguinte:
O livro tem quatro grandes seções além de um prólogo (1 - Equações Irregulares, 2 - Da Rússia com Amor, 3 - Equações Impossíveis e 4 - Terminator Mode), mas digo isso sem o menor pudor e medo, as duas primeiras seções se extirpadas do volume não apresentariam grande perda no conteúdo (a primeira seção 'Equações irregulares', inclusive, não acrescenta absolutamente nada).

A estrutura dos capítulos também se beneficiaria bastante caso seguisse uma ordem não linear, ao contrário da progressão diária (como no caso do primeiro livro), por motivos óbvios, e principalmente da condição da investigação criminal que se dá a partir da terceira seção do livro.
Só que não obstante é na terceira seção onde o livro de fato começa e onde o maior problema do livro se encontra.
Com a apresentação de inúmeros novos personagens - por se tratar de uma investigação policial, o livro passa a reconstituir os passos da investigação sob a perspectiva dos policiais. Mas esses investigadores são clichês horrorosos e pouco inventivos - assim como a investigação - e o grande e efetivo revés é que os detetives estão sempre vários passos ATRÁS do leitor.
Isso mesmo que você leu: Você, leitor, sabe mais que os detetives que investigam o caso do livro...
Empolgante, não?

Mas uma coisa é sempre importante e indiscutível quando se trata de um mistério comum: Quando um livro de mistério acrescenta um lutador de boxe aposentado enfrentando um gigante niilista que sequestrou uma lésbica satanista (não necessariamente mas todo mundo tinha um adjetivo) é o momento claro de repensar se esse esboço foi submetido a escrutínio suficiente.

Os fatos que eles revisam já são de conhecimento comum do leitor (pois foram detalhados e destrinchados no livro anterior e nas duas primeiras seções deste) pois o suspeito, não apenas número um como único e insubstancialmente, indiscutivelmente culpado (que como todo mundo sabe em livros e conteúdos similares, significa que o suspeito é inocente... Vide 'O Fugitivo', 'Busca Implacável 3' e tantos outros).
E justamente o próprio maldito livro deixa claro que o suspeito inexorável não é o culpado!!!
Então... Pra que serve a longa investigação policial (no livro) que o próprio livro deixa claro que não dará em nada?
Enquanto isso, o livro anterior destaca que existem décadas de investigações infrutíferas, mas não gasta setecentas ou mais páginas descrevendo essas investigações!

Um outro fator aponta claramente para o fato de ser um esboço avançado, como a repetição demasiada. Seja de fatos recentemente explicados que são re-repetidos e explicados por outros pontos de vista, ou a absurda quantidade de vezes que alguns nomes e palavras se repetem por páginas a fio - existe um nome em particular que é dito dezenas de vezes ao longo dos capítulos, com uma ênfase para as páginas 167-168 em que o nome em questão (omitido para não revelar maiores spoilers) em que aparece SETE VEZES, repetido e jogado aleatoriamente como se devesse significar algo...

Um ponto eu já não sei se é problema do original ou da tradução (e meu sueco é horrível demais para tentar descobrir) mas existe um excesso de palavras em inglês que salta aos olhos em comparação com o primeiro livro.
Salta mais aos olhos por parecer falta de cuidado da tradução - ei, eu leio bastante em inglês e me viro mas será que todo leitor será capaz de entender o que elas dizem quando não existem notas de rodapé ou traduções em todos os casos?
Acho que fica um tanto no meio a meio, uma vez que o responsável pela tradução se omite de usar notas para explicar as traduções e parece optar pelos nomes em inglês como condição estilística (e de novo sem imaginar que notas de rodapé viriam a calhar).
É a única explicação que vejo para o uso de 'terminator' ao invés do bom e conhecido 'exterminador' (talvez até seguido do já bastante famoso 'do futuro' para deixar ainda mais claro do que se trata a referência).


NOTA DO AUTOR:::: Spoiler sobre o final (não muito, mas pode te encher o saco, portanto fique avisado)

Não obstante, há um seríssimo problema com o final abrupto (ao padrão do livro que gasta 600 páginas para chegar em um final em aberto). Falta a conclusão para a trama...
Reforço, depois de 600 páginas, com uma seção sobre um furacão em um país da América Central - que nada tem de relevante para o restante da trama - terminar com um vilão amarrado a uma placa e um protagonista se levantando de uma cova (após uma bala se alojar em sua cabeça)... Assim.
Sem explicar o fim da investigação policial, o desfecho da investigação jornalística (afinal a revista Millenium de Mikael Blomkvist tinha programada uma matéria sobre o tráfico de mulheres, e, ela foi publicada...?)

Terminar de maneira tão anti-climática quando o livro gasta toda uma seção para algo que infrutífero e tanto tempo numa investigação criminal com personagens nada relevantes parece demonstrar um final inacabado ou uma séria provocação ao leitor (talvez para instigá-lo a buscar a continuação para saber o que acontecerá/aconteceu). Com todos os fatores relatados aqui, eu aposto bem mais na primeira opção.

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