Um mero segundo e ele bate duas vezes, três e até mais se estiver aflito, ansioso ou assustado.
Olhando-o parece tão pequeno, quase do tamanho de um punho fechado, tão frágil e é no entanto esse instrumento poderoso é o que põe para funcionar corpo.
Por isso é um tesouro escondido e protegido no peito.
E é lindo vê-lo pulsando, distribuindo o sangue para essa máquina imperfeita.
Mas você deve estar se perguntando que tipo de pessoa vê um coração pulsando, não é mesmo?
Bem, eles se dividem em duas categorias apenas, uma é de médicos e cirurgiões.
Eu sou da outra.
E não é preciso imaginar muito que eu faça algo bem diferente que médicos e cirurgiões, não é mesmo?
Eu vejo você ;)
*
Nota do autor:
Acho que é preciso um pouco de contexto para esse pequeno conto (é um conto?), que eu comecei a coletar de histórias policiais que eu venho escrevendo. Andei com um severo caso de bloqueio de autor mas acho que consegui reunir algumas coisinhas aqui e acolá, alguns contos de mistério e horror e estou pensando em coletar um material sobre uma equipe policial investigando casos, que eu quero chamar de comuns (não precisariam de um Poirot, Sherlock Holmes ou a simpática Miss Marple para solucioná-los - ainda que eu tente oferecer uma investigação mais longa e detalhada, quase didática com o passo a passo lento e gradual do processo investigativo).
Entre um crime e outro entram as cartas do assassino serial que assina com 'Eu vejo você ;)' e se denomina 'Tempo' sem jamais demonstrar sua idade, sexo ou sequer que é real...
'Tempo' é um intelectual frustrado. Seus conhecimentos raramente são tão brilhantes quanto ele próprio pensa ou tenta demonstrar, e a composição de suas cartas em geral forma imagens perturbadoras de uma criatura perversa e sádica. Sua diversão maior é essa provocação, é induzir o leitor de suas cartas a temê-lo, pois como disse anterior mente, ele nunca deixa claro sequer se existe.
Espero que seja tão divertido lê-lo quanto é escrevê-lo.
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