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2 de maio de 2015

Sob o radar - Fé demais não cheira bem.

Existem aqueles filmes que são excepcionais, com um roteiro brilhante, atores em seu auge ou suas melhores performances e, que por algum motivo, raramente são lembrados.

Esses filmes geralmente passam abaixo do radar de muita gente, talvez por baixa marketabilidade (wow), seja na distribuição, comercialização ou simplesmente não encontra o público no momento de seu lançamento (que ocorre com filmes cultuados após o lançamento dos dvds/blu-rays ou seja, após a exibição nos cinemas, às vezes até anos depois disso).

No caso desse filme de Steve Martin de 1992, é bastante simples o que atrapalhou a percepção de um público maior pelo filme: Seu tema.

Para parâmetros atuais ele ainda é bastante ousado ao falar de religião - e mais importante do uso de religião para fins escusos. Ainda mais com o tom de comedia (e por favor, quando digo comedia pense mais para Monty Python que Adam Sandler) que realmente consegue extrair o melhor de Martin (que eu acho excepcionalmente mal aproveitado em Hollywood) com um roteiro contundente, piadas bem cadenciadas e um humor inteligente e até complexo abordando muito mais que simples facetas de um tema amplamente difícil.

E é justamente onde o filme tenta apaziguar a discussão complexa com o final em que meio aceita uma noção maior de espiritualidade em seu ato final (mesmo que possa ser uma grande fraude, mas a possibilidade está ali), e sem dúvidas é uma concessão necessária para conseguir lançar o filme.

Claro que com exceção de Steve Martin que brilha como nunca, o filme não tem nada efetivamente marcante, genial ou excepcional... Mas e porque precisa?
É o show de um homem só, e, é um homem excepcional em fazer isso!
Martin consegue impressionar como o pastor/showman, consegue impressionar com um arco mais intimista do personagem questionando seu posicionamento e sua própria vigarice, e ele abusa de seu talento para ir de um extremo ao outro sem complicação (coisa que em outros filmes ele ou fica numa beira da piscina ou na outra).
Melhor filme de Steve Martin sem sombra de dúvidas - e sim, eu acho que o cara é um puta ator que merece muito mais respeito.

Sobre o elenco de apoio, não é que estejam apagados, mas dizer que qualquer uma de suas histórias secundárias é minimamente interessante é um exagero. Mesmo o ótimo Liam Neeson e a carismática Debra Winger não conseguem construir um arco secundário digno de lembrança (assisti o filme essa semana e só sei que eles tem um flerte/relacionamento).
Outros grandes atores como Phillip Seymor Hoffman pouco tem a acrescentar - além de boas performances de personagens que pouco aparecem... Mas reitero o parágrafo anterior: É o show de um homem só, e é alguém extremamente competente com isso e faz com uma naturalidade que é impossível se importar com as histórias secundárias/terciárias que não interfiram diretamente com a trama ou a atuação de Martin.

Do roteiro, é claro, fica a impressão de comprometimento dos autores para 1) conseguir o lançamento e 2) conseguir uma censura mais branda possibilitando o lançamento, só que não compromete tanto. A história está ali, e, ainda que poderia seguir uma conclusão diferente ou menos religiosa (que teria que ser um final aberto, e, bem, estamos falando de comedias aqui) não altera o restante do tom do filme, não muda a personalidade, os personagens ou o que representam. No máximo complementa ao oferecer uma perspectiva diferente, ou ao menos uma perspectiva.

Grande filme, melhor performance de Steve Martin e fácil uma das minhas comedias favoritas de todos os tempos. Nota: 9,2/10.

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