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24 de março de 2015

{RESENHA} O Hobbit - J R R Tolkien

Dados bibliográficos: Martins Fontes (WMF), 2012, 328 páginas. Edição comemorativa do 75º aniversário da publicação original, com ilustrações do autor e capa dura.
Título original: The Hobbit, or There and Back Again, 1937
Resumo dinâmico: O pai de todos os RPGs.

Resenha: Depois de fazer um texto criticando os filmes, nada mais prudente que criticar o livro em si, não? (Melhor não pra que fãs furiosos de Tolkien não me encham o saco por comentários mais maldosos...)

Enfim, o livro serve como uma introdução para o universo da Terra-Média (que inclui a trilogia do Senhor dos Anéis, o Silmarilion entre outros), mas é facilmente ignorar toda essa visão maior e focar na história em mãos.  Na verdade, é até melhor.

Tolkien é de fato um escritor primoroso e sua narrativa é envolvente e cativante, com bela cadência e exemplar construção de história, mas nada disso faz com que o livro deixe de ser chato pra cacete com suas milhões de canções e poemas, a repetição constante dos nomes dos malditos anões (que por algum motivo são 13 mesmo dos quais só importem dois - O gordo carismático e o herdeiro do reino da montanha que se torna um cretino) capítulos longos para eventos sem importância (um ataque de aranhas na floresta vai quase trinta páginas enquanto o confronto com o dragão Smaug? O epicentro e foco de todo o livro? Se muito umas doze - e spoiler 78 anos depois - ele morre com UMA flecha).

E eu sei, eu sei... É um livro pra crianças, com foco mais na aventura para se ler ao filho antes de dormir, sem querer forçar em complicações e ramificações (e pra quem acha que não é voltado ao público infantil, volte pra parte em que as águias estavam falando e leia várias vezes até entender o quanto isso é voltado ao público infantil), mas nem por isso precisa deixar de ser complexo! O pequeno Príncipe e Alice no país das Maravilhas são livros pra crianças mas com reverberações e reflexões altamente difíceis mesmo para adultos.

O Hobbit é cristalino em suas observações sobre dinheiro, poder, ganância e cobiça. Durante todo o livro, as pessoas vivem felizes e contentes em meio a banquetes, enquanto o dragão com toda a riqueza do reino vive solitário e constantemente temendo que alguém surja para lhe furtar os tesouros (até por isso fica claro que raramente ele abandonou a guarda do montante durante séculos), e, tão logo esse tesouro muda de mãos, tão logo mudam os personagens (nobres se tornam mesquinhos, heróis se tornam cobiçosos, líderes se tornam corruptos).

Bilbo, o Hobbit titular da história, porém é impassível a isso tudo, e por diversas razões.
Sua espécie é a de criaturas pacíficas e acovardadas que dificilmente se metem a ir além dos limites de suas propriedades, o que o torna único, entre os seus por partir em tamanha empreitada, e, no próprio livro entre todos os demais personagens, por seu conjunto individual de valores. Faz bastante sentido ao ler que isso ressoe tão verdadeiro aos adolescentes, perdidos em meio a pressão e condições de tantos povos (não é uma insinuação racial, é de povos mesmo, de gente que gosta de sertanejo, gente que gosta de Heavy Metal, gente religiosa... Enfim, os tipos diferentes e esquisitos que perambulam pelos colégios mundo afora) diferentes durante o colegial (época que eu mais vi gente lendo Tolkien) e tentando se apoiar a seus princípios e valores...

A tradução dá umas escorregadas em certos pontos com um gerundismo, às vezes disfarçado (até porque a sucessão de três verbos que é lugar comum no inglês não existe no português), mas não compromete. É o acabamento que fica devendo mais, com uma inconstância nas páginas que trazem ilustrações.
Não que eu ache que todas as imagens do original sejam coloridas, com legendas e etcs, e nem é disso que estou reclamando. O problema é que não existe um padrão.
Em determinada sequência, a figura ocupa uma página E a seguinte (de seu verso que fica em branco por algum motivo), em outras está tudo normal, enquanto os belíssimos e detalhados mapas acabam relegados a página de rosto.

NOTA: 7,0/10.

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