Se você não vive numa caverna.... Deixe-me recomeçar, pois se você vive numa caverna, provavelmente não estará lendo isso em nenhum lugar (apesar daquela época em 2011 quando eu tentei colocar meus textos em paredes de cavernas)...
Se você não viveu em uma caverna pelos últimos vinte anos, ou cinco anos, provavelmente você já viu e ouviu a quantidade enorme de gente ganhando dinheiro baseada em videos do youtube.
Gente ensinando como usar maquiagem, gente discutindo tópicos comuns (incluindo novelas), gente discutindo literatura e filosofia... O cara ganhando mais dinheiro com o site hoje não faz nada além de jogar videogames fazendo vozes gozadas e piadas tolas!
Não quero fazer vista grossa para a alternativa pornô do que estou discutindo (e sim, é bem próximo do que você deve estar imaginando: Gente com câmeras ligadas em seus quartos e que cobram taxas para fazer shows eróticos), até porque acho que entra no grande esquema proposto, só acho que não há exatamente grande necessidade de distinção (apesar desse parágrafo, e sim, eu entendo a ironia).
Ao contrário do que aconteceu nos anos 90 com a explosão do mercado '.com' com a Enron e outras situações do mercado virtual, hoje existe uma base sólida e o youtube conseguiu edificar uma noção de negócios viável, rentável e possível (nenhum dos usuários se vê explorado, nem ao menos como mero empregado do site, e sim como gerador de conteúdo).
E isso faz uma substancial diferença.
Como colaborador, você vê a correlação direta de seu trabalho e o resultado, afinal É o seu trabalho e ele GERA seu resultado. O autor MOLDA seu trabalho a partir disso, mudar o estilo do vídeo de acordo com a quantia de visualizações, aperfeiçoando o método, a técnica e inclusive o conteúdo - existem vários exemplos disso, como o fantástico Glove and Boots já há quatro anos no ar, e é visível a transição do primeiro 'blog' deles para a última 'temporada' como eles chamam com o astronauta Chris Hadfield)...
Mais que isso, o modelo de produção de conteúdo é razoavelmente barato, e fácil de se obter.
Uma câmera mais ou menos, um computador mais ou menos, um ou dois programas de edição e você tem tudo que precisa pra fazer. O difícil - e mais oneroso - é a produção efetiva.
Planejamento, roteiro, edição... Pode parecer amador, mas não se engane (o conteúdo amador raramente vai longe, com exceção de um ou dois vídeos comentados, enquanto bons produtores conseguem longas sequências de conteúdo - de novo, Glove and Boots desde 2011, mesmo que mais gente se lembre do garoto mordendo o dedo do irmão).
Volta para o título do post: Porque sustentável, então?
E é aqui onde as coisas ficam realmente interessantes.
Veja: A produção de conteúdo, a pesquisa... Toda(s) a(s) etapa(s) do trabalho de produção normalmente envolve poucos recursos (uma sala com bom espaço para filmagem - boa iluminação, boa acústica e ângulos suficientes para, se necessário, movimentação ou mudança de perspectiva), e uma vez que a reciprocidade não depende de um único - e instantâneo - sucesso (a menos que sejam casos REALMENTE estrondosos), o produtor de conteúdo precisa pensar a longo prazo, o que significa manter um custo de produção baixo (justificando eventuais perdas se o conteúdo não for bem recebido).
Isso vai de encontro com a concepção de comerciais, por exemplo, que tem durações muito menores mas custos de produção astronômicos (sem nem citar a situação de Roberto Carlos, vegetariano, comendo carne por uma bela quantia de $$$). Comerciais são produtos difíceis que demandam toda uma série de análises para refinar os campos de abrangência e probabilidades de aceitação.
Um comercial TEM de atingir a todo um público sem soar ofensivo ou, deliberadamente excluir parte de sua potencial fatia de negócios (o que volta para o vegetariano comendo carne... Sacou a nuance do marketing?). Um vídeo do youtube não.
Eles podem focar em nichos.
A mulher que só faz maquiagem não precisa comentar sobre a situação sócio-política do Iraque (mesmo que o produto que ela esteja usando seja feito por lá e etc). O revisor de games não precisa produzir seu conteúdo esperando que gente que não goste - ou se importe - com games vá procurar seu conteúdo...
E por aí vai.
Ainda que o autor possa gastar uma quantia exorbitante na produção de seu conteúdo, ele tem de manter em vista que a competição é nivelada por baixo nesse nicho.
Não adianta ser Stanley Kubrick, levando cinco anos para produzir um vídeo de três minutos se a sua concorrência lança um vídeo a cada três dias...
Mas de novo, porque isso é sustentável? Porque é justamente esse o ponto.
A produção de vídeos no youtube mais do que outras formas de entretenimento produzido para massar é, em sua essência a representação do Ouroboros (a cobra comendo o próprio rabo pra simplificar): Os produtores precisam de sua audiência - e produzem seu conteúdo com essa audiência em vista - e a audiência é a estrutura que sustenta e estimula a produção do conteúdo.
Se um vídeo tem um milhão de visitas, será comentado. Farão videos parecidos, irão discutir esse vídeo e tudo segue ao redor e sobre a movimentação cíclica de conteúdo. Todo o conteúdo está disponível a todo o momento - e acessível a todo mundo. A qualquer momento o espectador pode mudar sua postura e se tornar colaborador (não só assistindo como comentando ou divulgando) e até produtor de seu próprio conteúdo.
Isso não vale para outras mídias. Se um programa não tem audiência mas tem bons investidores com bolsos largos (ou custa pouco para produzir para ocupar uma faixa de horário específico, como aqueles programas de leilão que ocupam a madrugada) ele terá seu espaço. Não importa o quanto chiem, questionem ou refutem: Programas rentáveis para seus investidores (como o BBB) sempre terão seu espaço em detrimento de conteúdos elaborados e de qualidade (como 90% das produções da Cultura).
Mas ainda assim é aqui que a situação também se torna mais complexa.
E esse é o motivo do ponto de interrogação - e do texto da próxima semana.
Até lá!
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