Eu cresci lendo histórias em quadrinhos, e, isso significa obviamente que enquanto um homem nascido no meio da década de 80, eu obviamente li muito de Frank Miller.
Miller despontou como uma força a ser reconhecida nos anos 80 com clássico após clássico.
Salvou do cancelamento a série do Demolidor (ao lado) e estabeleceu o personagem como uma força motriz no universo Marvel (a série serviu inclusive como um fabuloso celeiro da editora para desenvolver e apresentar novos talentos), servindo como base para algumas das mais profundas mudanças no mercado de quadrinhos americanos (maior qualidade nos roteiros, histórias mais longas, conteúdo e temas maduros, conduzidos sem soluções mirabolantes e respeitando a inteligência do leitor). Mais que isso, recriou o mito do Batman com as duas histórias mais importantes do morcegão (Ano Um - que remodela a estrutura e forma do gênero de origem de personagens - e O Cavaleiro das Trevas - que, junto de Watchmen de Alan Moore redefine o conceito de Graphic Novel).
Ele ainda fez uma série de trabalhos menores (várias histórias curtas do Homem Aranha, iniciando a série mensal do Wolverine, lançando sua primeira graphic novel independente "Ronin" além de ajudar a trazer para o ocidente o mangá Lobo Solitário - são deles as capas das primeiras doze edições pela Dark Horse).
Com os anos 90 vieram Sin City, Elektra Assassina e 300 de Esparta, e ainda que ninguém fosse admitir na época, eram evidentes sinais de desgaste do monumental trabalho dos anos 80.
Encurtando um pouco a história (pois Sin City é o tópico em questão em virtude do filme de 2014), depois vieram outros trabalhos ainda menos memoráveis, e aí vieram as verdadeiras e incontestáveis provas que Miller não era mais o gênio que conhecemos algumas décadas atrás.
O Cavaleiro das Trevas 2 (com o horroroso efeito computadorizado e a pífia história), Grandes Astros Batman e Robin (o maldito Batman, porra!) e a direção de Spirit de Will Eisner numa das mais patéticas adaptações para o cinema de qualquer coisa já adaptado para o cinema (e isso inclui Batalha Naval, o filme do Super Mario e a vindoura adaptação de Tetris).
Eu nunca gostei de Sin City como obra.
Nada contra os fãs do trabalho, mas o gênero detetivesco noir tem histórias muito mais elaboradas e melhor conduzidas. Miller se esforça demais no estilo em todas as instâncias (a escolha de cores fortes com ênfase num contraste - preto e branco primordialmente com vislumbres eventuais para ênfase, como o dourado dos cabelos, o azul dos olhos, o vermelho do sangue, etc), enquanto o roteiro patina numa fantasia masculina de poder. Todos os protagonistas masculinos são fortes, poderosos e viris distribuindo balas e palavras sarcásticas para todos os cantos - quando não estão fazendo prostitutas (curiosamente quase todas as personagens femininas da história) se apaixonarem por eles.
Não faltam circunstâncias e exemplos do grande herói das histórias passando pelas mais absurdas provações, se sacrificando para vencer adversidades e, reforçando a situação sendo irresistivelmente sedutor a toda e qualquer mulher. Eu até definiria a série como 'misógina', mas curiosamente, mesmo todas as mulheres sendo prostitutas são personagens mais femininas e em controle da situação que muitos quadrinhos (filmes, séries...) protagonizados por personagens femininas.
Os vilões, em sua essência bi-dimensionais ou unidimensionais que raramente saem dos clichês de serem maus por serem maus. Chegam a pontos bem forçosos em que para serem vilões precisam praticamente de toda característica negativa que se imagine (são canibais, são pedófilos, filhos de senadores, carolas e usam óculos...), e raramente as histórias fogem da perspectiva pessimista do noir (o detetive/protagonista está ferrado desde antes da história começar, e é justamente seu faro por problemas que o afunda cada vez mais em situações adversas), e raramente alguém tem um desenvolvimento,/crescimento. Os personagens são o que são e ponto (bem diferente da excelente Scalped de Jason Aaron, que também segue o gênero noir).
Mas o negócio muda de perspectiva quando nas entrevistas sobre a continuação de Sin City, Frank Miller baba o ovo de Robert Rodriguez como se ele fosse o único diretor competente de Hollywood - algo difícil de ser, já que competente não entra na descrição de quem faz quatro filmes dos 'Pequenos Espiões'. Rodriguez também devolve o favor ao fazer de Miller - e principalmente o material em Sin City - a melhor obra já produzida desde que as primeiras pinturas rupestres...
Enquanto ninguém vai promover um trabalho dizendo que é medíocre ou que foi uma experiência horrível, pelo menos que tenha decência, e alguma modéstia (até porque a bilheteria do filme não foi nenhuma marca da história do cinema, nem a recepção da crítica - que pra dizer o mínimo, foi morna, mas mais se disse que o filme é uma péssima continuação que nada teve a acrescentar para a história do primeiro), mas eu particularmente acho que Miller acredita nas bobagens que vem vendendo.
Sério. Eu acho que ele diz de boca cheia essas babaquices sobre o Rodriguez ser o único diretor capaz de adaptar sua obra pro cinema, e o quanto seu trabalho seria impossível de ser adaptado e o quanto ele foi fiel à obra de Will Eisner (da mesma forma que uma britadeira é um instrumento indicado para cirurgia dentária)... Eu realmente acredito que o cara que rasgou a Wizard num discurso anti-conformista e blá-blá-blá ainda acha que seus quadrinhos ruins de atualmente ainda tem algum valor artístico.
Sinceramente não vejo como mau caráter ou mesmo caduquice... É só uma pessoa que estava ali o tempo todo (ei, o Demolidor invade uma ala de hospital com um revólver em riste para brincar de roleta russa com o Mercenário e em Cavaleiro das Trevas um sujeito invade - e dispara - contra um cinema pornô lotado), só era mais sutil.
Sério. Eu acho que ele diz de boca cheia essas babaquices sobre o Rodriguez ser o único diretor capaz de adaptar sua obra pro cinema, e o quanto seu trabalho seria impossível de ser adaptado e o quanto ele foi fiel à obra de Will Eisner (da mesma forma que uma britadeira é um instrumento indicado para cirurgia dentária)... Eu realmente acredito que o cara que rasgou a Wizard num discurso anti-conformista e blá-blá-blá ainda acha que seus quadrinhos ruins de atualmente ainda tem algum valor artístico.
Sinceramente não vejo como mau caráter ou mesmo caduquice... É só uma pessoa que estava ali o tempo todo (ei, o Demolidor invade uma ala de hospital com um revólver em riste para brincar de roleta russa com o Mercenário e em Cavaleiro das Trevas um sujeito invade - e dispara - contra um cinema pornô lotado), só era mais sutil.
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