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17 de setembro de 2014

Ray Bradbury e suas Crônicas Marcianas

_ Yll? - chamou baixinho. - Alguma vez você já pensou se... se existem pessoas vivendo no terceiro planeta?
_ O terceiro planeta é incapaz de sustentar vida - afirmou o marido, paciente. Nossos cientistas disseram que há oxigênio demais naquela atmosfera.
_ Mas não seria fascinante se existissem pessoas? E se viajassem pelo espaço usando alguma espécie de nave?
_ Ora, Ylla, você sabe que detesto esses seus choramingos emocionais. Vamos retomar ao trabalho?

Ray Bradbury em seu "Crônicas Marcianas" de 1950 (republicado no Brasil recentemente em 2013 pela Biblioteca Azul, com excelente tradução e prefácio assinado por Borges). Preço sugerido R$39,90 (mas o buscapé existe pra isso mesmo, e você acha por menos...)


Existem poucos grandes autores do século XX que merecem respeito incondicional.
Ao lado das vacas sagradas como Jorge Luis Borges, Adolfo Bioy Casares, José Saramago e John Steinbeck (ei, eu acho que as Vinhas da Ira e A Leste do Eden são obras pivotais para a compreensão do século passado), Bradbury é aquele cara esquisito, meio nerd e com óculos grossos fundo de garrafa. Talvez usando uma camisa do Superman (no máximo escrevendo um prólogo para publicarem na compilação da nova série).
Ele faz dupla com Kurt Vonnegut numa tentativa de fazer uma literatura que, enquanto permeada pelas mesmas regras e estruturas de romances clássicos invoca a uma maior liberdade nos temas e imaginação. Os protagonistas (quando existem) não precisam ser amargurados sofredores em meio ao caótico mundo que vivemos contemplando a loucura de fora: Não, eles podem abraçar a loucura e nos levar para esse passeio maluco até a outra margem.
Justamente por isso Bradburry consegue obter sucesso em mesclar o horror e isolamento que Lovecraft tanto tenta capturar (e falha em seu ímpeto de masturbar o próprio ego com inserções repetitivas a seus outros trabalhos e ao maldito Necromonicon a cada vinte linhas como se tornasse a leitura mais sinistra), e dando uma aula de ficção científica INTERESSANTE (Sim, Asimov é mais chato que dissertação de doutorado sobre as influências de documentários iranianos sobre geologia no desenvolvimento de sociedades), e não apenas isso.
O autor cria cenários coerentes, personagens fascinantes e envolventes, dramas factíveis (quer dizer, em meio a todo o absurdo de ficção científica) e ele não teve medo de fazer ridículo.
Claro, claro, hoje tudo que é velho é cult (vide 'O Rei Amarelo'), mas se você acha que Bradbury é velho, bem, você obviamente não leu Bradbury.

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