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31 de agosto de 2014

Batman 75 anos - Parte 2

Um dos aspectos mais interessantes do homem morcego, em contraste com outros personagens, se traduz nas muitas condições em que ele se vê refletido (ou suas facetas) pelo seu universo ficcional.

Eu, particularmente por mais absurda que minha teoria seja, acredito que o morcegão na verdade ainda é um garoto de oito anos - talvez em algum ponto de metástase, talvez sendo submetido a tratamento pelo Dr Hugo Strange ou seja lá o que valha - e essas malucas e absurdas aventuras que ele vivencia são nada menos que uma realidade aumentada concebida por sua mente estabelecendo diferentes traços de si mesmo sob diferentes concepções... Acho que fica mais claro nos próximos parágrafos.

Existe uma metáfora sobre como se estabelece a mente humana como uma casa (castelo ou simbolismo que se queira), e nada faz mais sentido para representar a conturbada mente de Bruce Wayne que pelos meandros de toda a cidade de Gotham.


Gotham é uma cidade suja, estranha e cheia de segredos... E curiosamente vazia.
Seja nos jogos de videogame (como da imagem acima), seja nos filmes e seriados ou nos mais de 1000 exemplares das revistas mensais, a cidade raramente traz algo além dos enormes contrastes de uma vida opulenta com jantares beneficentes e festas para um cenários menos claros e iluminados onde todo tipo de perversidade e crime se planta.

Por suas ruas percorrem as mais distintas figuras, e, cada qual parece mais representar um aspecto da personalidade de Wayne que de fato ser seu próprio personagem, seja no lado dos anjos (com um senso de moral e dever mesmo alheio a toda sorte de adversidade e motivo par abandonar esse manicômio à própria sorte) como no lado dos demônios (que toma as ruas e espaços da cidade pela noite esperando sua oportunidade, agindo para explorar o pior)

Até por isso a maioria dos vilões do morcego retrata de alguma forma ou outra distúrbios distintos de personalidade. As muitas fobias do Dr Crane (Espantalho), o transtorno de personalidade histriônica de Pamela Isley (Hera Venenosa) a egomania de Edward Nashton, além do distúrbio de personalidade de Harvey Dent (Duas-Caras), que se vê dividido entre o bem e o mal tal qual o Dr Jekyll e o Sr Hyde.

Essa noção de dualidade, inclusive permeia um bocado da noção primordial do personagem - e por conseguinte de seus vilões. Muitos deles lidam com conflitos morais em suas decisões e ações (Duas Caras, Sr. Frio, Mulher Gato, e até mesmo Bane) enquanto outros lidam com a noção de dualidade por representar um espelho maligno do próprio Batman (como o Coringa ou o bioterrorista Ra's Al Ghul e sua filha Thalia), demonstrando algo mais próximo de um direto oposto do personagem - o que aconteceria se ele levasse suas motivações ou convicções longe demais.

Ainda nessa conotação, existem os aliados - que representam os aspectos positivos do personagem. A nobreza (Gordon), dedicação (Alfred), pureza (Robin´s) além, obviamente, dos demais aliados que expandem o universo do personagem para além das fronteiras da cidade sombria.

Alguns outros personagens menores repetem uma tendência que existe mesmo nos vilões maiores de um senso de obsessão com o personagem. Uma obsessão quase infantil e possessiva, no sentido que os inimigos masculinos o admiram e querem de toda forma e sorte conseguir seu respeito, apoio e admiração, enquanto as vilões femininas todas querem que ele as possua e domine (quase como se suas vilanices fossem apenas desculpas para um flerte).

Há uma espécie de, se fizer sentido, complexo de édipo invertido - como se os vilões direcionassem a ele toda a obsessão edipana (o que, sinto reforçar meu segundo parágrafo, ao ser justamente uma fantasia de um homem afetado pela morte violenta de seus pais e que vislumbra criar um símbolo tão infalível e poderoso que cria a admiração indiscutível mesmo de seus perseguidores).

Não obstante, autores tentaram mudar a noção fundamental de alguns personagens com o passar dos anos (como recentemente Scott Snyder em 'Death of the family' estabelecendo que o Coringa não apenas é obcecado ou devotado ao Cavaleiro das Trevas, como além disso tudo o ama).

Acho, inclusive, que minha teoria justifica os absurdos e quase super-poderes do grande vilão (o Coringa que parece, em muitas ocasiões estar em vários lugares ao mesmo tempo, com a superforça para sobreviver a combates com inimigos muito mais fortes - além de transportar os equipamentos requeridos para seus golpes - e controle mental para conseguir contratar capangas dado o histórico e sua instabilidade - em usar capangas como bombas ou simplesmente descartá-los como band-aids usados), ao justificá-lo como uma manifestação dos medos concentrados de um obcecado com ordem. Acho, também, que o motivo pelo qual o personagem não tem uma identidade civil ao contrário de todos os outros é justamente essa noção de um medo incontrolável, tal qual a manifestação desse medo.

E é por isso que eu acho o Coringa um porre.

Pra mim, o mais interessante dos vilões do Cavaleiro das Trevas é ninguém menos que o dramático (quase Shakespeareano) e, na versão de Paul Dini e Bruce Timm anti-herói Sr. Frio. Suas motivações são claras, seu drama tangível e sua história realmente é um primor para a série animada - e tudo que veio depois até Scott Snyder cagar em tudo ao estabelecer que Nora não é a amada esposa, mas a mãe do personagem.

Há algo na voz monótona, na maldição da imortalidade, no complexo relacionamento entre vingança e realização... O Sr Frio é um Batman que deu errado, e como odiar um personagem que é tão próximo que chega a ser o mesmo?

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