Pesquisar este blog

29 de abril de 2014

O medo paralisante que nos molda

Em 2012, Thomas Vinterberg lançou o filme em parceria entre Dinamarca e Suécia "Jagten" (em tradução "A Caça"), que lida muito bem com uma análise de nossa sociedade contemporânea, caminhando pelo gelo fino de assuntos extremamente delicados (no filme o abuso de menores), permeando pelo tema estabelecido por Kafka em "O Processo" (que curiosamente se repete em outras obras querendo ou não), que expõe a insanidade de um sistema judiciário que "funciona" na condição acusativa/especulativa dando lugar a toda sorte de caça às bruxas.

Como a Jack "Hurricane" Carter (narrado na epopeia de Dylan "Hurricane" - do álbum Desire, de 1975), preso por policiais corruptos com base de acusações racistas. Dylan pergunta como é possível "Viver numa terra em que a justiça é um jogo".

Ou a invasão da OTAN ao Iraque e Afeganistão numa missão 'pacificadora' à procura de terroristas e um 'Eixo do Mal', assim como a violação de direitos civis básicos, inclusive além das fronteiras do Tio Sam (como Snowden e todo o escândalo da NSA expuseram), como justificativa ao medo de mais ataques após o World Trade Center. Similar ocorre na Inglaterra com um verdadeiro Big Brother de câmeras de vigilância espalhadas em todo o canto para ver a tudo a todo momento - com base nos atentados terroristas em 2005.

Tudo isso faz parte de uma estrutura de medo que nos mantém domados, passivos e funcionais em uma estrutura que não funciona (e não nos agrada), como empregos ruins que não nos servem - e que pagam pouco em comparação ou relativamente ao alto nível de responsabilidade exigido do funcionário (exemplo abaixo).




Primeiro emprego, jornada de 8 horas, exigência de um ano de experiência - com uma complexa norma de calibração = menos de dois salários mínimos. Parece justo!
Esse medo trava a indústria aos moldes antigos - de uma estrutura que vale apenas os produtores das altas camadas produtivas, enquanto pune e priva os subordinados de camadas inferiores. De maneira similar diminui a possibilidade dos criativos e inovadores, aqueles que ousam novos caminhos - e que podem trilhar novos modelos, assim criando uma nova indústria. Uma nova indústria que já existe, diga-se de passagem, como o modelo do Google e outras empresas de software, em que a estrutura não permeia a falsa noção de hora trabalhada (como usado e difundido pela nossa CLT) mas trabalho realizado - recompensando metodologias novas e ideias criativas - até porque essas ideias criativas podem gerar outras e novas empresas, agregando novos e mais criativos profissionais, fomentando mais empresas, mais profissionais e oferecendo maior estrutura aos jovens e criativos.

Isso reflete na estrutura do modelo de educação que estabelece absurdos como definir que crimes cometidos por crianças são 'bullying', e com campanhas dizendo que isso é inadmissível - ao invés de admitir que é um crime e que deveria ser passível de punição... Enquanto o estado pune severa e exemplarmente usuários de drogas (sim, USUÁRIOS, não TRAFICANTES, parece absurdo confundir, mas não é o que o Estado acha, apesar de definir que não se deve prender usuários - mas portar e consumir entorpecentes ser crime).

E não obstante uma estrutura de educação segregadora que Paulo Freire já comentava em 1974, e que tão pouco mudou, se é que alguma coisa. Isso só aumenta num sistema em que professores são mau remunerados, pouco preparados (afinal, a demanda por professores é sempre alta,  mas os critérios e processos de contratação nem sempre são muito bem estruturados) e tendo de lidar com jovens sem futuro e sem perspectivas (que precisam se manter motivados a 'aprender' coisas que não serão aplicáveis em seu dia a dia, apesar das perspectivas pouco animadoras que veem sobre empregabilidade - com seus pais trabalhando horas e horas a fio... Enquanto alguns semi-analfabetos ganham milhões somente de patrocínio - expondo ainda mais uma falta de necessidade por estudo).

Tudo isso se resume uma frase de Alan Moore na época do lançamento de seu livro "Lost Girls", que está bem no limite entre erotismo e pornográfico - em que disse que enquanto sociedades livres que valorizam a inteligência produzem a Renascença, enquanto sociedades reprimidas e controladas pelo medo produzem o Holocausto e a Idade Média.

Bem, não é exatamente uma escolha difícil, não?

Nenhum comentário:

Postar um comentário