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18 de março de 2014

True Detective - e a importância de valorizar a inteligência do espectador

Valorizar a inteligência do público, dificilmente é a regra quando se trata de entretenimento em massa - até porque do ponto de vista da produção, isso pode custar público em potencial.

São muitos os  exemplos que mostram a produção de conteúdo mastigado, diluído e onde cada mera alternância carece de uma justificativa e clara explicação para não haver conflito ou dúvida no público. É como se o autor se visse como um pai altamente preocupado conduzindo as crianças pela mão até o local que tencionam chegar.

E por mais que esse tipo de material tenha atenção e visibilidade instantânea, o tempo é mais que suficiente para solapar qualquer pretensão e enterrar essas histórias no abismo do esquecimento.

São elementos cuidadosamente construídos para levantar questionamentos que vão criar uma narrativa duradoura, que será revisitada, reanalisada e repensada de tempos em tempos. Seja num drama (como os belíssimos filmes de Kurosawa ou Bergman) seja numa comédia (Monty Python), fantasia (Sandman ou os Sete Soldados da Vitória com toda a narrativa dando voltas sobre o número 7 e seus significados) e mesmo o horror (O Iluminado) e drama policial (Twin Peaks).

True Detective da HBO surge com a premissa de servir ao grande mistério (que infelizmente não decola até o final, com sociedades maçônicas, e uma longa investigação que não conclui nada - parece até algo que Jamie Delano fez em Hellblazer décadas atrás), mas isso não impede que a excelente qualidade e desenvolvimento dos personagens construa um universo factível e interessante, e que mereça ser revisto para efetivamente ser compreendido.

São as nuances - o 'cínico' Rusty que busca redenção pela morte da filha, e demonstra muito mais otimismo que outros dos personagens, com comportamentos muito mais fatalistas - que são o alicerce para a análise, reflexão e releituras do material apresentado.

Quem são esses personagens e porque o mundo os afeta da maneira que faz? O que significa - ou vale - o mistério e elementos sobre Carcosa, o Rei Amarelo e outros mais, e, quais os paralelos com as contrapartes literárias desse material?

É aí que entra o trabalho de verdadeiro investigador, tirando o espectador de mera condição passiva e só assim possibilitando respostas abrangentes - ou ao menos fios condutores mais coerentes para os fatos.
Afinal a única forma pra compreender tudo é fazendo as malditas perguntar certas...

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