É difícil recomendar alguma coisa dirigida por Joel Schumacher, e House of Cards de fato está longe de ser um material imperdível (o roteiro simplesmente se perde para alguns personagens, como fica claro, principalmente nos episódios finais na questão dos repórteres que servem apenas como elementos de retrospectiva).
A verdade é que a série tem um único elemento que vale a pena destacar, e é Kevin Spacey atuando num papel a sua altura. Seu Frank Underwood não seria uma nota de rodapé na história se fosse um ator "menor", e provavelmente os pecados de um roteiro inconstante e pouco polido seriam muito mais execrados por público e crítica. Claro que ele não está sozinho, e são os ótimos atores de apoio do núcleo mais próximo a Underwood - a excelente Robin Wright que faz a esposa de Spacey, Claire Underwood, ou ainda os brilhantes Michael Kelly e Reg E. Cathey (um fazendo o papel de capanga durão enquanto o outro faz o simpático dono de uma baiuca frequentada por Underwood).
O restante do elenco, bem, eles tentam.
Mesmo nos pontos mais brilhantes do roteiro, são poucos os momentos em que os demais atores do elenco de fato se destacam, e, mais comum que não, se deve a um trabalho estelar de Spacey dando as deixas e puxando as cordinhas para que possam, mesmo que por um instante buscar uma oportunidade de brilhar.
Pra alguns destes atores falta carisma, o que torna seus personagens apagados, mas falta também competência para conduzir uma cena com o tom que lhe é pedido - seja elegância, seja degradação, seja o que for.
Claro que com um roteiro mais rebuscado, mesmo esses atores menos carismáticos poderiam transparecer alguma competência, só que o roteiro é igualmente falho para Spacey e Wright e ambos brilham (ei, Underwood é um tubarão de Washington, deputado há vinte anos e extremamente manipulador, cheio de seus segredos, e ao mesmo tempo comete tamanhos erros para lidar com a imprensa?).
Há boas ideias, melhores conduzidas principalmente no começo (o terceiro episódio é uma pérola), com um interessante jogo de bastidores dos perigosos jogos de poder. Só que falha em entregar algo conciso (voltando ao final de temporada, é muito aberto, criando apenas ganchos para uma subsequente temporada que amarrando os plots desenvolvidos até então para começar um novo capítulo).
A grande sacada porém, é a aposta do Netflix na série - trabalhando como desenvolvedor de conteúdo exclusivo para seu sistema de streaming. Mais que isso, a Netflix é uma aposta numa mudança que vem acontecendo silenciosa já alguns anos na nossa maneira de absorver conteúdo.
O espectador mudou, tem menos tempo e menor maleabilidade para ficar em frente a um aparelho televisivo esperando que inicie seu programa favorito. Com a geração de material exclusivo, o serviço inclusive aumenta os motivos pelo interesse de suas assinaturas - não são mais apenas coisas que já passaram na televisão ou cabo, agora também há material que nunca será transmitido em outra forma.
Ao espectador, inclusive, há a possibilidade de assistir de uma tacada só toda a temporada - já que todos os episódios são lançados simultaneamente. É algo interessante também ao mudar a forma de consumo de conteúdo, e por consequência de sua produção (é preciso cuidado redobrado com possíveis indicações de eventos que possam estragar ao espectador a apreciação do conteúdo - como as grandes reviravoltas das temporadas de Game of Thrones, por exemplo).
O que isso vai significar, ainda é cedo para dizer, mas com outras séries (como a quarta temporada de Arrested Development ou Orange is the new black, além dos projetos pra Marvel, como Demolidor, Punho de Ferro e outros), não parece uma aposta arriscada que mais gente vá entrar nesse tipo de mercado e tendência.

Nenhum comentário:
Postar um comentário