A morta apareceu num terreno baldio na colônia Las Flores. Vestia
camiseta branca de manga comprida e saia amarela até os joelhos, um
número maior. Uns garotos que brincavam no terreno a encontraram e
avisaram os pais. A mãe de um deles telefonou para a polícia, que chegou
meia hora depois. O terreno dava para a rua Peláez e rua Hermanos
Chacón, depois se perdia numa vala detrás da qual se erguiam os muros de
uma leiteria abandonada e já em ruínas. Não havia ninguém na rua, de
modo que num primeiro momento os policiais pensaram que era um trote
(...) Isso aconteceu em 1993. Em janeiro de 1993. A partir dessa morta
começaram a se contar os assassinos de mulheres. Mas é provável que
antes tenha havido outras. A primeira morta Esperanza Gómez Saldaña e
tinha treze anos. Mas é provável que não tenha sido a primeira morta.
Talvez por comodidade, por ser a primeira assassinada em 1993, ela
encabece a lista. Mas com certeza em 1992 morreram outras. Outras que
ficaram fora da lista ou que nunca ninguém encontrou, enterradas em
valas comuns no deserto ou suas cinzas espalhadas no meio da noite,
quando nem aquele que semeia sabe onde, em que lugar se encontra.
Trecho do quarto capítulo de 2666, retratando os eventos de Ciudad Juaréz no México (passados aqui para a fictícia Santa Teresa, cidade usada em outras obras de Bolaño também).

Nenhum comentário:
Postar um comentário