Como alguns que leem o blog já por algum tempo devem saber, sou formado na área de meio ambiente, e, obviamente, sei uma coisa ou duas sobre uma coisa ou duas.
E, com diversas notícias de racionamento já circulando (como em Campinas, com multas para quem desperdiçar, e Valinhos segue o mesmo caminho) parece mais pertinente falar um pouco sobre a questão da água que sobre outra bobagem cotidiana qualquer.
1) Não, a água em si não é o problema. Ela não desapareceu, não migrou pra um país mais fresquinho ou resolveu seguir carreira solo como cantora da Axé. Continuamos tendo fonte abundante - inclusive, sem nem contar o Aquífero Guarani, podemos pensar em palavras que parecem proibidas no Brasil, como em dessalinização (mais sobre isso abaixo, no tópico 'tecnologias').
A estiagem se deve ao forte calor e falta de chuvas (a terceira menor média dos últimos 84 anos, segundo a ONS - e vale lembrar que em 53-54 quando houve menos chuvas, a população brasileira era bem menor, segundo o IBGE, ao redor de 50 milhões enquanto em 2013 passamos de 200 milhões).
Então, sim, o calor é o grande vilão, ainda mais nessa condição de altas temperaturas e grande estiagem. E a menos que seja o momento de buscar alternativas estúpidas que mesmo vilões de James Bond pensariam duas ou três vezes antes de cogitar, não existe uma alternativa viável, prática e lógica - tanto para o calor quanto para a falta de chuvas.
2) Desperdício? Sim, há um problema considerável de perda de água tratada ANTES MESMO de chegar ao consumidor final. O Brasil é um dos piores percentuais nessa condição - tendo em outros municípios condições muito superiores de perda a estas apresentadas pela SABESP na imagem abaixo).
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| http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2014/02/1407687-25-da-agua-captada-na-grande-sp-pela-sabesp-e-desperdicada.shtml |
3) Então o problema pode ser tecnológico na questão do abastecimento?
Sim e não.
As tecnologias existem, tenha certeza disso. Com métodos sofisticados de membranas filtrantes ou ainda mais sofisticados como a Osmose Reversa (ou inversa de acordo com a fonte que consultar) é esperado a obtenção de água própria ao consumo humano mesmo a partir de águas salobras, salinas e salgadas (a OR é capaz de produzir água destilada - ou seja, somente com moléculas de H2O).
Existem outros métodos e alternativas, mas antes de fazer uma aula sobre tratamento de água, foquemos no ponto em si: O problema está vinculado ao alto custo destas tecnologias mais avançadas.
Se o método convencional usado pela SABESP custa R$5,00 por 1000L tratados, com OR o preço aumenta para R$20,00 (números inventados somente para ilustrar).
Nisso, porém, fica claro que há um problema e falha de gestão/administração do recurso (combinando os tópicos 2 e 3, principalmente).
O problema de desperdício na linha não é de hoje (mensalmente a SABESP precisa tratar, produzir e mandar para a linha mensalmente 25% A MAIS - ou seja, a cada 4 meses, o equivalente a uma São Paulo inteira - devido a vazamentos/ligações clandestinas). Isso não é um problema local e fácil - tanto que no mundo, mesmo com a média 'baixa' de 11%, ainda há uma perda enorme por ano.
Só que além disso, existe a análise de dados para a tomada de decisão.
Com base nos dados do INPE, já era possível desde meio de janeiro determinar a estiagem e altas temperaturas. Não era ali o momento propício para iniciar as conversas de racionamento?
Pô, mesmo antes! Conscientizar a população dos desperdícios bestas como lavar quintal e carro, ou o desperdício com longos (e muitos) banhos...



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