Eu acredito que já disse mais de uma vez que eu não sou muito fã de cinema brasileiro.
Tem aquela questão de como os filmes seguem duas estruturas básicas ou de operar com o mínimo esforço - como todos os filmes dos Trapalhões, do Sérgio Malandro ou, bem, os mais recentes com Rodrigo Faro como Silvio Santos - ou de buscarem os recônditos mais sombrios da alma humana e criar uma experiência subversiva que vai te fazer querer tomar um banho com esponja de aço depois de assistir - como Pixote a lei do mais fraco ou Ilha das Flores. A terceira opção eram basicamente as pornochanchadas que, bem, combinavam ambos com as tentativas de expor os recônditos mais sombrios da alma humana com o mínimo de esforço possível.
Com os anos 1990, o Brasil passou a produzir filmes com um pouco mais de competência - saindo dessas duas opções - com filmes como O que é isso companheiro e Central do Brasil, mas a verdade é que o grosso da produção brasileira continua sendo filmes ruins com o mínimo esforço e atores ruins.
E eu nem sei por onde começar a falar dos atores ruins que o Brasil insiste em passar como comediantes (como o Hassum se fazendo como anão ou agora o Marcos Mion sendo o Marcos Mion...?) ou como atores e filmes 'sérios' (sabe como biografia do Silvio Santos ou do Edir Macedo).
Talvez em partes por culpa da vitória de Gwyneth Paltrow (uma das piores atrizes de Hollywood a vencer o prêmio) sobre a Fernanda Montenegro em uma de suas melhores atuações foi a grande pá de cal sobre a noção que valia a pena investir a sério no cinema no Brasil. Ainda mais quando os filmes do Leandro Hassum continuam a render muito mais lucro.
E, é, o Brasil ficou anos patinando sem encontrar o tom certo no cinema porque, bem, ou era algo bobo e sem graça ou pretensioso e sem graça, e quando raramente alguma coisa ótima como Cidade de Deus saia, bem... Mais uma pá de cal e mais filmes do Leandro Hassum dominando as salas de cinema.
O que deve acontecer agora? Sinceramente, tenho medo de imaginar o próximo filme de Leandro Hassum com Rodrigo Faro e Sérgio Mallandro... Brrrr...
Ainda estou aqui é um filme muito bom (ainda que talvez não tanto quanto Cidade de Deus) e é a atuação da Fernanda Torres que torna isso espetacular, e se existir alguma justiça no mundo ela leva o Oscar de melhor atriz (ainda que seja vista como uma azarona pelos agenciadores de apostas lá fora), e o filme consegue acertar muito mais do que errar, produzindo um material consistente.
Inclusive porque o filme bate fundo numa série de espantalhos que uma galerinha sempre gosta de contar e construir sobre a 'ditabranda' brasileira e todos os méritos do 'regime militar', mostrando exatamente uma família tradicional que é pura e simplesmente destruída por nenhum motivo além de ser uma terça-feira e um milico estava com vontande de torturar alguém (sabendo que não teria qualquer consequência).
E eu acho que essa mensagem do filme, essa ideia de explorar as consequências terríveis e devastadoras para a família, expor claramente a dor e o sofrimento, colocando os pingos nos is e cortando os ts (sabe, com nome e CPF, não apenas um personagem fictício contando uma história possível) do que ditadura no Brasil causou nas vidas de pessoas reais, eu acho isso incrivelmente poderoso e reascendeu um debate muito importante que foi sendo apagado e diminuído nos últimos anos (com o fim da Comissão da Verdade - enquanto aquela turba nojenta fazendo alusão a torturador como se fosse a coisa mais bonita do mundo).
Muito da moçada mais nova que cresceu assistindo plantão da Globo fingindo que a Lava Jato desencavou o maior escândalo de corrupção da história do país (enquanto os gráficos mostravam um esgoto jorrando dinheiro), sem entender o que a Ditadura fez de tão mais devastador - tanto no aspecto econômico, que inclui uma gigantesca corrupção de obras faraônicas que não serviram para nada como a transamazônica, e foram obviamente superfaturadas... E isso tudo sem falar das empresas cúmplices da Ditadura como a reportagem fantástica do Bob Fernandes denota.
E é muito interessante ver os jovens empolgados e clamando justiça mesmo que isso se apague nos próximos meses e dali a pouco estejam pedindo intervenção militar dos EUA e rezando para pneu tudo de novo.
Se eu falei pouco do filme, bem, honestamente não parece ter muito o que falar. Atuação excelente, direção impecável, talvez pecando um pouco no roteiro em um momento ou outro, produz um filme que facilmente é um dos melhores da nova leva do cinema brasileiro (um 9,0 com sobras).
Chances no Oscar? Filme internacional me parece bastante provável (eu nem vejo outra alternativa com qualquer grau de destaque) enquanto melhor filme me parece que só está lá pra ter o número mínimo de indicados ao ponto que Duna deve ter mais chances (lá pra 0,0001)...
Melhor Atriz, eu acho que Mikey Madison continua a favorita da crítica (ainda que eu não tenha assistido Anora), mas eu genuinamente acho que a performance de Fernanda Torres é inigualável. Aqui provavelmente dependa mais da pulverização dos votos (que iriam para Sofia Gascon que era a franca favorita pouco mais de um mês atrás), e, nisso Fernanda tenha um pouco mais de chance.
Pode até ser que a Fernanda ganhe o Oscar por ser mais velha que a Mikey Madison (e terá muito pouca chance de ser indicada de novo - a menos que entre de cabeça no mercado de Hollywood, e, como Demi Moore viu, nem isso é muita garantia) ao mesmo tempo que a mãe dela perdeu para uma fraquíssima Gwyneth Paltrow e isso monta uma história mais interessante para o prêmio que simplesmente a atriz de Anora ganhando, e, eu aposto inclusive que esse ano não teremos os prêmios de melhor filme/ator/atriz/diretor para o mesmo filme, sendo mais distribuído.
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