Enquanto teóricos da Internet, tais quais torcedores que todos entendem mais de futebol que os técnicos de seus times, sabem mais sobre a gestão de estúdios de filmes que diretores altamente remunerados de empresas multimilionárias, eu me reservo a explicar o que aconteceu, com base em dados e fatos tentando me isentar de juízo de valores.
Não, Star Wars na Disney não fracassou porque a presidente responsável pela franquia era mulher ou porque os filmes são 'woke'.
Na verdade, se o idiota que faz tais comentários não fosse desonesto intelectualmente, sua tese levaria em consideração a trilogia de George Lucas entre 1999 e 2005 (também conhecida como as prequelas), que são criticadas constantemente por fãs do material (e se eu precisasse de apenas dois argumentos eles seriam 'midclorians' e Jar Jar Binks, mas toda a longa discussão vazia sobre política não ajuda nem um pouco, assim como a repetição da trama da estrela da morte - que Anakin Skywalker com oito anos destroi acidentalmente no primeiro episódio).
Inclusive porque esses filmes foram escritos e dirigidos por George Lucas (o criador original da saga), e lançados quase 30 anos desde O Retorno de Jedi (em 1983), o que daria a Lucas tempo mais que suficiente não apenas para aprimorar efeitos especiais mas para efetivamente produzir histórias melhores - e não destruir as carreiras dos dois jovens atores que viveram Anakin Skywalker no processo. Lucas, diga-se de passagem, que disse originalmente ter uma visão para 12 filmes da saga, tinha nesse ponto um vasto catálogo de material produzido nesse intervalo para escolher e produzir baseado em, considerando que a Dark Horse lançou quadrinhos da saga de 1991 a 2012 com um considerável número de histórias para se basear e desenvolver.
Além disso, o filme original de 1977 tinha na visão conceitual a ideia da protagonista ser uma mulher (o que considerando que Jane Fonda já tinha feito em 1968, não era exatamente um conceito tão inovador - e nos anos seguintes com Alien e Exterminador do Futuro).
Mas, sabe, uma mulher protagonista nos anos 2000, e corra para as montanhas, né? Quer dizer, como você pode aceitar a ideia de uma mulher lutando com um monstro com o dobro do tamanho dela de maneira realista... em uma obra de ficção...? Ei, vamos ser honestos só vale pra personagens masculinos enfrentar monstros com o dobro (ou bem mais que isso) de seus tamanhos de maneira 'realista', tá?
Quer dizer 'Ai, mas ela pilota uma nave com enorme capacidade na primeira tentativa'. Ao contrário dos filmes escritos - e dirigidos por Lucas - em que Anakin Skywalker COM OITO ANOS constrói um dos droides mais avançados do mundo com sucata, uma nave capaz de vencer - pilotando COM OITO ANOS - a corrida mais arriscada que um desenho do Speed Racer e a Corrida Maluca combinadas e ainda de lambuja destruir uma Estrela da Morte de maneira completamente acidental. Ou do Luke Skywalker que vivia num planeta nos recônditos mais escondidos da galáxia mas logo é capaz de pilotar uma nave em uma zona de guerra e conseguir disparar o tiro mais impossível da história dos tiros impossíveis...
E eu não vou rebater ponto por ponto da visão de algum golpista que quer e precisa de visualizações em seus vídeos e pra isso produz esse tipo de conteúdo claramente apelando para a visão MAGA do mundo, seja ela a mesma visão do autor ou algo do qual ele claramente está se aproveitando para ampliar a divulgação do material.
Então vamos aos fatos:
A Disney comprou as propriedades intelectuais de George Lucas por 4 bilhões em 2012, e não foi por caridade. A ideia era lucrar estripando as franquias (afinal Indiana Jones faz parte do acordo) por todo e qualquer centavo que eles consigam no processo - e 14 bilhões de lucro em pouco mais de 10 anos não me parecem um péssimo investimento indiferente do resultado final dos produtos.
Mais que isso, a decisão da compra de 4 bilhões não foi realizada por nenhum sonho juvenil, para aplacar o ego de algum executivo ou qualquer outra coisa além de lucro (ao contrário de Musk comprando o Twitter), e, nada nesse processo é obra de uma única pessoa. Tudo isso por motivo de lucro, ponto.
Toda uma leva de diretores precisou votar pra aprovar a aquisição considerando a viabilidade do negócio (e, considerando os 14 bilhões de lucro em pouco mais de 10 anos, eu acredito que mais do que se pagou já a esse ponto). Se a visão de Kathleen Kennedy é diferente da visão de George Lucas em algum ou muitos pontos, no final do dia tudo isso é irrelevante porque o objetivo continua sendo dinheiro, e a menos que a Disney encontre alguém com uma visão que vá entupi-los mais de dinheiro, a empresa honestamente pouco se importa.
E enquanto eu consigo entender as críticas aos projetos da Disney com $tar War$ (até porque eu próprio critiquei esse material e apontei a falta de qualidade neles). Agora, é tão difícil entender porque isso aconteceu?
Quer dizer, quando Lucas lançou os primeiros filmes entre 1977 e 1983 ou as prequelas entre 1999 e 2005, todos os filmes tiveram um intervalo de 3 anos entre cada um deles (tempo suficiente para pré-produção, ajustes no roteiro e se adaptar à reação do público e crítica se necessário).
Com os filmes da Disney a coisa toda seguiu quase uma escala Marvel de produção com a ideia inclusive de lançar filmes todos os anos a partir de 2015, com o lançamento dos novos episódios (7, 8 e 9) com intervalos de 2 anos entre cada filme e a ideia de lançar outros filmes relacionados nos anos intercalados (como Solo e Rogue One).
Além do relançamento dos quadrinhos, séries para a televisão (tá, streaming), jogos de videogames e atrações em parques de diversões...
A partir de 2015 a Disney queria fazer muito mais com Star Wars que a franquia fez em quase 40 anos de existência da franquia, e a ideia para sobrecarregar o mercado com todo tipo de material nem é exatamente nova (porque George Lucas tentou a mesma coisa em 1999, só que com menos capital para bancar a coisa toda).
Só que essa saturação do mercado acaba resultando exatamente em estafa do público - que talvez estivesse animado no começo do projeto e foi se desgastando conforme a coisa toda avançou (não muito diferente do MCU dez anos depois).
Enquanto Lucas tratava cada novo projeto de Star Wars como um evento - a Disney encarou a coisa toda de maneira bem mais metódica, e simplesmente tratou os lançamentos como mais um produto a angariar lucros, com resultados variados e questionáveis.
Mas que, diga-se de passagem, com a margem absurda de lucro obtido, estão longe de ser um fracasso.
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