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4 de novembro de 2024

{Resenhas Lixo} Armadilha

Antes de começar eu acho extremamente importante deixar cristalino que eu não assisti ao filme inteiro. Não, eu não dormi, não eu não desisti na metade, não eu "não entendi"... Eu simplesmente cheguei a pontos que desafiavam completamente a minha tolerância ao material e passava para frente, e, francamente se eu perdi alguma coisa fique a vontade para mostrar minha ignorância nos comentários.

Dito isso pode ter alguns spoilers.

Armadilha é um filme de uma hora e quarenta e cinco minutos dirigido por M Night Shyamalan com a ideia de ser um thriller e com a chamada "30.000 fãs, 300 policiais, 1 assassino em série. Sem escapatória", e essa é basicamente a premissa, mas eu tentarei elaborar.

O filme acompanha um pai (vivido por Josh Hartnett - e "spoiler", sim, ele é o assassino serial se você não percebeu pelos trailers, posters, resumos do imdb ou qualquer outro material publicitário) levando a filha a um show de uma cantora pop onde uma gigantesca operação policial está transcorrendo justamente para capturá-lo. Começa razoavelmente simples, inclusive de maneira gradual apresentando os personagens e o elemento da história.

A reviravolta Shyamalanesca vem por volta dos 25 minutos quando Josh Hartnett vai comprar uma camiseta para a filha e o vendedor simplesmente conta todos os elementos da operação policial para capturar um assassino serial (o próprio Hartnett) no show, que, e aqui é a reviravolta, é a própria operação policial (tan-dan-dan). Sim, a polícia organizou um show para 30.000 pessoas com uma estrela pop (provavelmente pagando o cachê dela também) para capturar um assassino serial e aqui vem a reviravolta mais interessante: QUE ELES NÃO TEM UMA MERDA DE UMA DESCRIÇÃO, SÓ UM PERFIL PSICOLÓGICO ABRANGENTE POR BOSTA! Ah, e sim, a polícia avisou os detalhes (não só o simples fato de que existe uma operação - e contra quem - mas os detalehs sobre as saídas) dessa operação para UM VENDEDOR DE CAMISETAS!

E se ele simplesmente não fosse ao show levar a filha nesse dia, você se pergunta? Ou porque o perfil psicológico chega ao ponto de ter certeza que ele estaria ali mas não consegue uma aproximação mais coerente e inteligente para que permita capturá-lo sem colocar em risco 30.000 outras pessoas além dos artistas e funcionários ali envolvidos e todos os gastos de uma operação desse tamanho...? 

Quer dizer é uma elaborada crítica ao estado policial em que vivemos, certo? Só que esse argumento não funciona quando o assassino serial é um super-herói com todo código de trapaça desbloqueado permeando em um mundo com os piores e mais estúpidos policiais do mundo (e só abre mais dúvidas sobre a incompetência do roteiro).

Droga, tem um ponto no final do filme em que o personagem de Josh Hartnett foi capturado pela polícia, está algemado e sendo transportado para o camburão (por um grupo de policiais fortemente armados) e ele vê uma bicicleta tombada e, sob a mira de diversos policiais, se abaixa para levantar a bicicleta como se fosse a coisa mais normal e natural do mundo (e nem é a única cena, tem outra em que ele escapa de uma limousine completamente cercada por todos os lados sem que ninguém o veja também). Privilégio branco, não estou certo?

E olha, talvez se o filme não usasse uma estrutura tão similar com a do terrível Fim dos Tempos (de 2008 - e considerado não só um dos piores filmes do diretor, mas um dos piores filmes, ponto). Diálogo completamente artificial (e terrível), atores que parecem em uma peça infantil da 4ª série de Wagstaff e close-ups que reforçam ainda mais essas escolhas (terríveis) dos atores...

E talvez seja intencional...? Quer dizer, considerando Fim dos tempos com as mesmas escolhas do mesmo diretor (e os dois são filmes terríveis), será que é mera coincidência ou o diretor apostou numa certa ressurgência com o sucesso de alguns de seus filmes mais recentes para reforçar a aposta na produção, bem, disso (roteiro incoerente, personagens idiotas, diálogo mal escrito acompanhado de péssima leitura das falas) e mesmo que colocou no papel de protagonista um Josh Hartenett trazendo a tona o máximo de seu Mark Whalberg interior (ou seria exterior) afinal ele claramente parece simular a performance de Marky-Mark ao máximo - só que, sabe, com bem mais talento...

Se você acredita que o material é irônico e por isso você não precisa levar a sério a estrutura e narrativa afinal isso faz parte de uma crítica social mais complexa e etcs, bem, eu confesso que não vejo como isso funcione. Honestamente não vejo que ser irônico ou servir como crítica social equivaler a ser mal escrito.

Ripley lançado mais cedo esse ano é um thriller tenso por quase toda a sua duração ainda que tenha toda uma estrutura e camadas de críticas sociais e não obstante é consideravelmente irônico e eu francamente acho que é uma das coisas melhor escritas que eu assisti esse ano todo. Armadilha é só preguiçoso e pretensioso (ou, basicamente a fórmula Shyamalan).

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