Ainda que possamos dizer que Bacurau seja o melhor filme brasileiro de todos os tempos, a gente precisa lembrar em um primeiro momento que o cinema nacional produziu pérolas como Inspetor Faustão e o Mallandro (sim), todos uns quarenta filmes dos Trapalhões (com aqueles efeitos especiais lindos que você conhece) e não uma mas duas cinebiografias do Edir Macedo, não é exatamente um elogio.
Sabe, é como ser o melhor pescador em um laguinho menor que o quintal da minha casa... Não é exatamente algo digno de comemoração.
Mas, ainda assim, é possível de fato dizer que é o melhor filme brasileiro? Consegue competir com O Pagador de Promessas de 1962 ou Terra em Transe de 1967 ou mesmo Cidade de Deus de 2002...? E a resposta é, bem, eu não sei.
Com certeza está ali no patamar desses filmes no mais alto quartil de produções nacionais, mas, se é tão bom ou melhor que eles, bem, isso já é mais difícil de dizer por uma série de motivos, e aqui cabe mais na condição do próprio filme, que, particularmente são o que me incomodam e faz com que eu não veja tanto motivo para o prestígio recebido pelo filme (ou o veja como exacerbado).
Primeiro, é importante destacar que é um filme pro qual a surpresa é um elemento fundamental. Saber da história - das reviravoltas, personagens e ações - pode influenciar bastante a percepção da trama. Eu assisti ao filme sem ver sequer um trailer, então sabia tão somente o nome do longa, mas, sabendo hoje da trama, não consigo imaginar que a segunda visita a Bacurau seja tão interessante...
E, claro, se eu soubesse de qualquer que seja dos pontos do filme antecipadamente, creio que seria uma experiência bem mais frustrada (o que pode acabar reduzindo o impacto de rever o filme).
O filme contém um bocado de gorduras em cenas que pouco ou nada acrescentam ao maior desenvolvimento da trama - com as cenas de sexo, por exemplo, pra ficar em apenas um ponto, mas tem mais, vai por mim, beeem mais. E é algo bem confuso para um filme com pouco mais de duas horas TER esse tipo de gordura.
Além disso tem a violência. Como é um tipo de filme que quanto menos você souber da trama, melhor, é fácil se surpreender com a violência, e o filme vira um banho de sangue muito rápido.
Não é necessariamente ruim - ainda que também não seja bom.
"Ah, mas você elogiou Coringa que é sobre um maníaco homicida matando todo mundo e agora critica um filme nacional que tem violência!"Ainda que a violência nos dois filmes seja bem diferente, Bacurau literalmente tem baldes de sangue escorrendo pelas ruas... E eu fui assistir a Coringa sabendo que era sobre um maníaco homicida, não estava esperando algo como a versão série de Cine Holliúdy... E eu não estou criticando o filme pela violência, francamente.
Me chamou a atenção pelo tom, ao meu ver, excessivo, pelos galões de sangue - que eu tenho quase certeza que já vi filmes de terror com menos sangue e morte (O Iluminado vem à mente) - mas, como disse na resenha do Coringa, é resultado de nossa super exposição à mortes violentas no que se passa por noticiários mais que uma vez ao dia.
Dos positivos, vale destacar que é um filme competente e bem sólido (exceções já citadas, não vamos nos repetir por favor). Funciona bem na sua estrutura e composição, tem ótimas atuações, com uma série de surpresas que estruturam um ótimo filme, e não apenas um ótimo filme nacional.
E claro, é uma tremenda (e certeira) alegoria política que precisa ser vista e discutida, principalmente no cenário atual.
Nota: 8,5/10
Nenhum comentário:
Postar um comentário