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6 de fevereiro de 2020

{Resenhas de Quinta} A Chave e a Fechadura: Bem-vindo a Selva baby! (Geektopia)

Escrito por Joe Hill (filho de Stephen King) e ilustrado por Gabriel Hernandez, o material começou a sair pela IDW em 2008 e após 32 edições, com minisséries cada uma com seis edições até a final publicada em 2013 o material chegou ao fim. E, sinceramente, é bem ruinzinho apesar de algumas ideias boas.

Eu já tinha lido Joe Hill com 'A Estrada da Noite' de 2004, e, ainda que não seja um dos piores livros que eu já li na minha vida, também não acredito que eu consiga fazer algum elogio além de 'não é um dos piores livros que eu já li na minha vida'.
Não é inteligente, não é bem escrito e, mesmo que eu tenha lido há quase quinze anos, eu não consigo me lembrar de um único momento memorável do livro mesmo que me ofereçam uma enorme quantia de dinheiro agora.

Tudo bem, é o primeiro livro do cara e ele é filho do Stephen King, que, pessoalmente eu acho um autor bem ruinzinho com boas ideias (basicamente a mesma coisa que eu disse no primeiro parágrafo), e 'A Estrada da Noite' consegue ser melhor que muito livro do Stephen King que eu já li, ainda que, novamente, isso não signifique exatamente grandes coisas.

Com Locke & Key, no entanto, Hill já tinha alguns anos como escritor de bagagem, ao que faria sentido que tivesse aprendido alguma coisa no caminho, e, Gabriel Hernandez ainda que não seja um dos melhores ilustradores do mercado é bastante competente e consegue criar uma cena de maneira orgânica, desenvolver personagens com características individuais marcantes e estruturar cenários e locações com grande beleza e detalhamento, então, pra todos os efeitos não é por culpa da arte que o material seja ruinzinho.

O que acontece, para ser mais direto e sem entrar em território de spoilers, é que a ideia da casa assombrada com portas misteriosas que vão para lugares sinistros, mas que tem um encantamento que somente crianças são capazes de vislumbrar é uma puta sacada.
O começo da história (com o assassinato chocante e brutal) é impactante, e bastante marcante para o desenvolvimento da história. E os personagens individualmente são interessantes e tendem a capítulos fascinantes - quando dado o devido tempo a eles.

Só que o devido tempo é algo que a hq não sabe se utilizar.
Ainda que Hill talvez esteja em sua primeira hq aqui mesmo com algum renome editorial deve ter pensado 'ei, quão difícil poderia ser?' e bolou o roteiro para a primeira minissérie 'Bem-vindo a Lovecraft' que é impactante e bem construído em seu primeiro capítulo mas vai degringolando conforme a história avança e os capítulos não parecem mais funcionar nem isoladamente, nem como parte de uma história maior.

Isso é um problema comum em quadrinhos relacionado a escrita de histórias publicadas mensalmente e que eventualmente são reeditadas para um novo formato de publicação encadernado. Não era algo comum até os anos 90 quando a ideia de escrever para o encadernado, planejando arcos e histórias maiores começou a se tornar a força dominante na indústria dos quadrinhos dos EUA.
É algo bem comum quando vemos uma história de, por exemplo, Brian Michael Bendis seja nos Vingadores, no Demolidor ou no Superman em que o final de uma edição imediatamente se reflete já no primeiro quadro da próxima edição.

Outros autores, principalmente mais antigos como o caso de Walt Simonson de Thor da semana passadam ou Jack Kirby de Novos Deuses, bem, eles trabalham mais num estilo de cada história individual e encapsulada em seu restrito número de páginas, ainda que haja uma narrativa maior se degringolando.

Nenhum desses estilos (histórias individuais à Jack Kirby ou histórias maiores planejando o encadernado à Brian Bendis) é particularmente ruim, mas não é possível combinar os dois estilos e formar algo coeso e coerente ainda mais para os moldes narrativos do século XXI, e é meio o que Joe Hill tenta fazer com Locke & Key.

Enquanto a ideia seria que cada história focasse em um personagem ainda que faça parte de uma trama maior, o problema é que cada história individual não funciona no esquema da trama maior. Parece confuso mas eu vou explicar.
No capítulo III em que vemos os conflitos de Kinsey (a irmã do meio) lidando com seus trauma, ansiedade e adaptação em uma nova vida escolar, e o capítulo termina com a garota fazendo uma amiga... Que não aparece mais pelo resto da história.
E isso acontece mais um bocado de vezes, o caçula Bode parece ter problemas de adaptação na nova escola, mas isso é prontamente ignorado, o problema da mãe com alcoolismo, e, claro, o principal e mais irritante para mim, o fato que um garoto adolescente comum (que é o principal antagonista da história) se transforma num misto de Diabo da Tasmânia com o Coringa sob esteroides.

De novo, sem spoilers, mas é justamente nas tramas secundárias que ganham exposição desnecessária que a história perde tempo da trama principal e fica muita coisa em aberto, sem explicação ou, pior ainda, sem o devido desenvolvimento.
Somos lançados no meio da história com o choque do assassinato mas muito pouco nos é apresentado da família para nos importar.
Somos apresentados aos mistérios da casa, mas muito pouco do fascínio de sua magia nos é apresentado para parecer interessante (e não somente algo que um garoto imaginativo que está lidando com trauma está criando para cooptar).

Resumindo: As ideias boas estão ali, só que com o desenvolvimento ruim da história, a coisa toda degringola para algo que é muito pior do que deveria ser.
Tentarei ler o segundo volume, e até mesmo dar uma chance à série da Netflix para ver se com desenvolvimento apropriado para cada personagem (com mais tempo por episódio que uma hq de 25 páginas) a história flua de maneira mais inteligente.
Por enquanto, é só uma história ruinzinha com boas ideias.
Nota: 5,5/10

E se eu posso usar alguns spoilers, e eu vou, toda a seqüência do assassino fugindo da penitenciária até chegar a Lovecraft na Keyhouse é uma das coisas mais mal construídas da história dos quadrinhos que eu já li, e pior, sem o devido desenvolvimento. O cara vai de um estudante de colégio com alguns problemas familiares para um estudante de colégio capaz de matar guardas, roubar armas e fazer tudo o que for necessário para chegar a seu destino... E ninguém parece capaz de impedi-lo. Não, sério... Ele mata todo mundo em um ônibus (sim, um colegial franzino obviamente seria capaz de superar várias pessoas) ou em um barco (tudo bem, aqui ele estava sozinho, mas o dono do barco poderia dar um jeito e subjugá-lo ou jogá-lo na água).

Falta o talento para Hill para construir isso direito e formar essa sequencia de maneira lógica, para que, ou ele tenha algum tipo de poder sobrenatural (mesmo que isso faça pouco sentido) ou, ele não precise (como se ele estivesse foragido ao invés de preso).

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