Primeiro, antes de mais nada, sim, eu comprei a primeira edição das três que faz parte da coleção da Salvat do Poderoso Thor de Walt Simonson durante a Black Friday de 2019, mas MESMO com o preço promocional da época, o material ainda é bem caro - e com o valor cheio de capa que está hoje cobrando no site - é absurdo.
E é justamente por isso que alguns dos pontos que discutirei aqui pesam mais.
Se fosse uma edição de R$50,00, com acabamento inferior, verdade seja dita, eu nem me sentiria indignado com alguns dos problemas aqui descritos... Mas não é caso.
Quiseram montar uma coleção altamente luxuosa para uma fase, que, verdade seja dita, é meramente curiosa.
Simonson escreve muito bem e gasta muito de seu talento na composição deste material, criando algo grandiloquente e expansivo mas com espaço e brechas para desenvolvimento pessoal e momentos mais íntimos dos personagens. Por mais que seja algo bem diferente do que se vê hoje em dia (ou mesmo na época) com um estilo de compor narrativas secundárias, terciárias e outras tantas mais para ir aos poucos desfraldando cada pequena trama ao foco da história maior, nem sempre isso se justifica ou desenvolve de maneira orgânica (ficando em dados momentos uma sensação de que parte da história se perde em detrimento do desenvolvimento orgânico da narrativa, como bem visto, principalmente, no caso da história de Thor 345 do Doutor Willis - sem spoilers - e a caixa dos Invernos Antigos).
E ainda que Simonson consiga abordar histórias tanto mais heroicas como mais tolas sem muito esforço, fica quase sempre uma sensação de que alguma coisa está faltando. De que Simonson não sabe se decidir se tomará um tom mais sério ou mais cômico para sua história, e, talvez até parte desse(s) problema(s) se deva em parte na divisão do trabalho do autor entre arte e roteiro, e nenhum dos dois realmente salte aos olhos. Claro, claro, nenhum capenga também, mas está longe de, digamos, um Frank Miller.
Claro, é algo épico quando Surtur implacavelmente marcha para Asgard para destruir o universo e essa história vem sendo contada desde a primeira edição deste volume para eclodir em uma grandiosa batalha, e as histórias de Thor, Balder e cia remetem aos velhos contos da mitologia nórdica misturada com uma pitada de ficção científica e contos de fadas como nunca (sendo quase um precursor do Sandman de Neil Gaiman... Tipo uma máquina de escrever para um computador, mas um precursor ainda assim). Até porque o estilo de escrita é bem datado (cheio de recordatórios desnecessários e um texto bastante verborrágico que pouco ou nada acrescenta para a história) ao mesmo tempo que algumas decisões em dados momentos sejam bem, ham, complicadas para dizer o mínimo (de novo, o Doutor Willis na edição 345 vem à mente).
Legal. Nada disso faria qualquer pessoa se arrepender de comprar o material ou é um defeito crucial tanto para o material original quanto para a versão da Salvat.
O grande problema dessa edição da Salvat, bem, para essa coleção propriamente dita, reside em uma falha a meu ver colossal da equipe editorial: Eles não publicaram o final desse volume.
Isso mesmo.
O volume 1 (Ragnarok & Roll) que reúne as edições 337 a 352. 400 páginas, volume grande 16 edições com alguns extras (que não valem muita coisa) mas sem o final da saga de Surtur, a edição 353 (Eles LITERALMENTE dizem na capa "The FINALE of the Surtur Saga!" ou em português bem claro "O FINAL da saga de Surtur!").
"Ah, mas aí o volume teria mais que 400 páginas e ficaria mais difícil/caro de produzir"... OU, e, me escute nessa, eles não publicassem os extras e as capas originais (o que sozinho já sobraria 16 páginas das 22 necessárias para a edição 353, e poderiam publicar todas no volume final).
O volume teria a conclusão de sua história - ainda que com um gancho certeiro para o próximo volume ao invés de parecer incompleto custando quase cem pratas!
Perto disso, errinhos de português ou outros detalhes irritantes passam desapercebidos, mas é um trabalho mal feito não importa como você tente justificar.
Pior: Com essa cagada no volume 1, o volume 2 TAMBÉM termina sem final (a edição 366 conclui o arco do Sapo do Trovão), o que não aconteceria se o volume 1 estivesse completo!
Então... Vale a pena?
Numa bela promoção ou sebo com um baita desconto sem dúvida.
Mas de preferência completa porque tem essa bela falta de ideia dos editores... E mesmo assim, esteja bem ciente do tipo de material que você está adquirindo.
Está loooonge de ser um clássico que merece ser redescoberto e, vai por mim, quando alguém elogia e rasga a seda desse material é 90% nostalgia falando.
Nota: 6,0/10 (caso a edição 353 estivesse aqui iria para um 7,0 pelo menos).
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