100 Balas é, de muitas formas, um retrato extremamente pungente da cultura obcecada com armas norte-americana, e se forma em meio a, tanto o contexto social que inicia a trama (da oportunidade de vingança sem ramificações e desdobramentos que vem com a maleta com 100 balas irrastreáveis).
Enquanto imagino que, verdade seja dita, a maleta do agente Graves causaria estragos no mundo todo, a estrutura como a narrativa de Azzarello vai destrinchando desde a premissa inicial até os desdobramentos para os motivos (de gente que lucra incitando essa violência, e justifica a existência desse artifício), expondo as vísceras de um sistema injusto que ou só pode ser corrigido a base de violência - ou somente assim se conclui em virtude das idiossincrasias intrínsecas das sociedade - e quanto mais esse sistema vai se desmoronando, menos de fato parece que somos capazes de entender a lógica disso tudo.
Curiosamente, a história da violência e impunidade incitada pelo agente parece cada vez mais atual com os inúmeros massacres que se vê nos EUA (quebrando recordes sobre a administração de Trump, mas idiotas ainda dizem que ele é um homem brilhante e inspirado - e que a mídia o persegue, obviamente), parece bastante com a trama de Azzarello, como se Graves estivesse percorrendo os estados e distribuindo maletas para incitar a violência para quem quer que assim deseje.
O que isso de fato significa? Se é a vida imitando a arte ou, o que mais me parece, a arte retratando brilhantemente a vida de maneira extremista que cada vez mais se parece realista, e que vale ser lido e relido para compreendermos melhor (ou, ao menos, UM POUCO melhor) nosso bizarro mundo.
Ou ao menos, sem qualquer pretensão, pelo menos ler uma ótima história de crime e violência.
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