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14 de agosto de 2019

{O Mau Humor} O humor de Alzheimer

O Brasil é um grande expoente no humor de péssima qualidade com exemplos e mais exemplos de humoristas racistas, misóginos, com piadas pouco (ou nada) inteligentes, repetitivas, com pouco conteúdo, repetitivas e normalmente tão descartáveis quanto os contínuos e perpétuos programas 'humorísticos' dos quais fazem parte.

Um dos expoentes desse mau humor vem claro da tradicional e recorrente marca associada ao humor de baixa qualidade no Brasil: A Praça é Nossa.
É fácil descartar o material como de péssima qualidade por motivos óbvios, e não se faz necessário mais que cinco minutos do 'humorístico' para chegar a essas conclusões, mas a premissa desse texto é destrinchar um pouco mais as razões pelas quais o programa do SBT é tão pobre (e porque ele continua a existir).

O primeiro problema, como é de se imaginar, é que o humor é velho. Datado mesmo, do tipo de coisa que se fizer um teste de carbono 14 consegue encontrar algo da mesma idade que dinossauros.
Velho, em partes por esses motivos mas principalmente porque se atém em âncoras e fatos que são antigos e extremamente desatualizados (indiferente do grau de referência utilizado)...
Droga, até outro dia o programa tinha ex-ator pornô fazendo papel de um Robin homossexual em dupla com o Batman se encontrando com a Xena.

Destrinchando essa última frase: O seriado da Xena terminou em 2001 (a piada está 14 anos atrasada na referência); Esse papo de Batman e Robin gays é desvario de um pseudocientista da década de 1950 (a piada está atrasada mais de sessenta anos nessa aqui), e é homofóbico (Batman por ser um homem rico e solteiro com um filho adotivo, obviamente tem de ser gay, conforme a ótica da pseudociência de Friederich Werthram que também dizia que a Mulher Maravilha era lésbica e o Superman comunista);
Isso em 2014.
Depois do(s) estrondoso(s) sucesso(s) de bilheteria do Christopher Nolan - que ainda sucedeu um enorme sucesso na década de 1990 com Tim Burton e os fiascos do Joel Schumacher que ainda foram comercialmente muito bem - a piada que esse pessoal "consegue" fazer é a de que Batman é gay.
E mesmo ESSA piada ruim é recauchutada da Vera Verão (que, lembra, toda a piada era que ela era gay)...

E esse é o segundo ponto e problema do humor de péssima qualidade da Praça: As piadas são todas de uma única nota.
Claro que existe o problema pungente dos personagens de péssima qualidade criados por humoristas horríveis que acham (ainda, no século XXI) que BORDÕES são uma forma lógica para concluir uma piada.
É verdade que bordão é mais uma coisa pela qual o Zorra Total ficou conhecido (e pretendo falar mais sobre o humorístico da Globo em outro momento), mas várias piadas do 'humorístico' do SBT, mesmo com gente genuinamente talentosa como o Batoré ou mesmo o grande Zé Américo do Café com Bobagem... E a lista de bordões é bem grandinha.

Mas aparte disso, os personagens são unidimensionais e a premissa de suas 'piadas' estão sempre atreladas às mesmas (e repetidas) condições.
A senhora com deficiência auditiva que vai ouvir errado e dizer coisas constrangedoras...
O sujeito falando no telefone público (é, não foram inventados celulares ainda) falando alto e atrapalhando a conversa de um sujeito incauto...
O político desonesto dizendo que odeia o povo (e) pobre...

Mesmo o Ary Toledo (que pelo menos oferece alguma mínima variedade em seu repertório) é aquela estrutura de humor velho, e tão velho que é o humor de contar piadas e não de contar histórias que o stand-up faz já há umas quatro décadas... E ele serve hoje no papel do humorista de talento em meio ao enorme poço sem fundo de falta de talento e personagens unidimensionais.
Algo que antes já foi lugar de Ronald Golias (um monstro que conseguia fazer o texto horroroso da Praça fica engraçado) ou do brilhante comediante cego Geraldo Magela.

Essas piadas repetitivas que tem sempre a mesma premissa, mesmo mote e o mesmo final são o que eu chamo de 'humor de Alzheimer'. Ele não tem a mínima memória do que ocorreu na semana anterior, ou na outra, ou no mês anterior, e só assim é capaz de repetir ad infinitum essas mesmas situações sem aprender absolutamente nada.
Os personagens se encontram presos em um limbo infernal que os força a reviver semana após semana a mesma situação com mínimas variações enquanto o espectador, igualmente está diante da mesma piada, de novo, e de novo e de novo. Nem ao menos se esforçam para variar e produzir resultados diferentes com a mesma piada ou cenário - como, o já bem antigo seriado Chaves...

Mesmo o 'âncora' do programa, Carlos Alberto com sua posição que deveria ao menos oferecer alguma plataforma para (e)levar a piada dos 'comediantes' do programa, mesmo ele pouco ou nada faz além de servir como uma samambaia decorando (?) o palco e continuando como o velho que lê jornal em um banco de praça... Algo que já era velho quando ele, Carlos Alberto herdou a Praça da Alegria (que foi ao ar de 1956 a 1978) do pai, Manoel de Nobréga, (que morreu em 1976, só pra contexto).

E se o papel dele é o de descobrir talentos e definir/redefinir a estrutura do programa, bem, já passou da hora de fazer qualquer um dos dois - nessa ordem inclusive.
Começando pela estrutura, acho que o parágrafo anterior já mostra bem isso (ele herdou do pai o formato e mudou tão pouca coisa que chega a ser vergonhoso), e mesmo assim já passou da hora de mudar elementos. Gente lendo jornal em praça? Nos meus trinta e tantos anos de vida nunca vi uma única pessoa fazendo isso (e eu moro em cidade de interior!).
Pedinte, pichação, nóia e pombo eu vejo direto em praça, mas gente lendo jornal? Tô pra ver...
Mais que isso... Pra que a ideia de gravar (ou fingir que grava) em um estúdio com público pra rir das piadas?
Isso fazia sentido nos primórdios da televisão em que a ideia de estúdios para gravação era mais eficiente para capturar tanto um tino de teatro quanto para verificar a reação do espectador (principalmente quanto a risadas), mas quem de fato ri das piadas da Praça?

Quanto a talentos, no entanto, a coisa fica ainda mais bizarra. Com o programa no ar desde 1956 (SESSENTA E TRÊS ANOS!) o número de talentos que surgiram dali para almejar vôos mais altos é lamentavelmente baixo.
Comparemos com o Saturday Night Live com pouco mais de 40 anos (o programa de Bill Murray, Mike Myers e inclusive Robert Downey Junior - é, o Homem de Ferro começou lá), e tentemos ver quantos grandes nomes saíram da Praça? Droga, se compararmos com o Zorra Total da Globo para ver quantos artistas conseguiram sair para estrelar materiais próprios (mesmo que no Multishow que também é da Globo), o material de Carlos Alberto já falha miseravelmente!

Foi o que? A Filomena (que teve um programa que durou uns três episódios e agora desapareceu) e o Paulinho Gogó (que agora está no Multishow)...?
Em sessenta e três anos de programa os exemplos são esses só?
Ou eu devo incluir gente que fez parte do humorístico em algum momento mesmo que tivesse uma carreira aparte do programa como Ronald Golias e a Hebe?

Entende o que estou falando quando comento de "talento"?
Não era pra bem mais gente alavancar uma carreira depois de passar por ali e produzir séries, filmes e muito mais...? Não deveria ser esse o mote de Carlos Alberto de ser algo mais próximo do Lorne Michaels do SNL facilitando o caminho e produções desse talento...
Só o CQC já levou mais gente para programas solo (e algum reservado estrelato) que todos os sessenta anos da Praça é Nossa.

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