{Spoilers de Quinta} Vingadores - Ultimato (2019)

Primeiro eu preciso destacar que o nome em português 'Ultimato' falha em capturar o motivo do nome do filme em si.

No anterior, enquanto o Doutor Estranho, Homem de Ferro e cia se preparam para enfrentar Thanos no espaço, o mago avisa que existem milhões de possibilidades mas eles venceriam em apenas uma delas. Numa das falas da seqüência enquanto os personagens de Cumberbatch e Downey Jr conversam, o primeiro diz que esse é o 'Endgame' (ou meio que literalmente, o "jogo final" e até mesmo "ultimato")... Só não é o que aparece nas legendas ou o que a versão dublada diz...

Talvez a Disney relance daqui uns anos editando/reeditando o filme de 2018 mas na versão cinematográfica e lançada em dvd e blu ray o que temos é isso.

Do filme em si, bem, eu não consigo falar dele sem spoilers e é justamente por isso que já no título do post vem o aviso... É uma excelente peça de marketing, sem a menor sombra de dúvidas.
Além de um tremendo estandarte para a plataforma Disney+, o material ajuda pra caramba a chamar a atenção para a mais de uma década de filmes já lançados (alguns deles mais velhinhos e que muita gente ignorou na época de seus lançamentos). Mas como filme, veja bem, eu não gostei muito e eu preciso explicar os argumentos para não gostar do filme (o que pode estragar surpresas).

Dos positivos, é preciso destacar que os finais de vários personagens são bem legais e emocionantes (principalmente do Capitão América, que, bem, os diretores estiveram envolvidos de alguma forma ou de outra desde o primeiro filme). Achei que foi uma conclusão digna na forma como tentaram fechar com chave de ouro essa 'fase' do MCU com uma grande homenagem aos fãs (inclusive com os 'autógrafos' dos principais atores aparecendo junto de seus nomes) e não vou nem quero especular se isso pode degringolar bastante daqui por diante (caso de fato a Disney pretenda singrar os universos X e dos Vingadores em futuros projetos). Vamos deixar pelo que é e seguir em frente.

Eu gostei de um bocado do que acontece na primeira uma hora do filme. Mesmo a grandiosa batalha final é algo interessante de se ver, ainda que não acredite que esteja nem de longe em pé de igualdade com as batalhas do último filme - e eu tenha uma série de dúvidas sobre o quanto dela de fato funciona e o quanto é simplesmente estúpido (mais sobre isso adiante).

E é isso... O que eu acho muito pouco para um filme de três horas com notas tão altas (tava em 9,1 no IMDB quando escrevi, e o IGN deu 9,5).

Até entendo a tentativa de fazer algo diferente, de tentar sair do metiê de filmes de super herói, até mesmo buscar formas de reinventar o gênero enquanto homenageia a pouco mais de uma década de filmes do MCU (assim como o recém falecido Stan Lee)... E acho louvável o que os Russo tentaram.

Só não acho que dá pra bater palmas para toda idiotice como se fosse brilhante.

Por favor, não pense que eu não entendi o filme e seus motivos e por isso não gostei do filme. Faz sentido que Homem de Ferro, Capitão América e Thor partam para o confronto final com Thanos no terceiro ato como uma referência direta de que foram eles que iniciaram o MCU e o Marvel Studios, assim como o fato que quem de fato vence a luta e garante que tudo flua bem são os Vingadores originais (os personagens sem poderes Gavião Arqueiro e Viúva Negra mesmo se demonstram mais úteis que Thor por quase todo o filme), e mesmo que o filme revisita eventos dos outros filmes meio que para forçar a mão dos fãs complecionistas a buscarem rever os outros filmes, assim como entendo as 'soluções' dadas com margem de manobra e permissividade para mudanças futuras e adequações (até porque agora que abriram as portas para viagem no tempo, Kang o Conquistador pode surgir como ameaça e reescrever a história se for conveniente para alavancar uns milhões a mais na bilheteria).

Sim, é o 'último' filme do MCU como conhecemos, daquele que começou com O Incrível Hulk de 2008 (que a própria Marvel finge que não faz parte do MCU), uma vez que a partir deste ano com o Disney+, a casa do Mickey Mouse vai remodelar suas franquias da Marvel e, com a aquisição da Fox é bem provável que veremos um futuro bem diferente deste universo (afinal, personagens de X-men e Quarteto Fantástico podem aparecer e ganhar a devida relevância). Então entendo plenamente o sentido de fechar as cortinas neste filme e o propósito de fazer uma grande retrospectiva e homenagem, e tudo mais.

O grande problema com o filme vem da confusa cronologia que advém, obviamente, da trama que requer viagem no tempo como o componente... E toda a viagem no tempo é algo bastante convoluto, confuso e bagunçado indiferente de como seja feito. SÉRIO, pergunte a David Tennant e suas coisas wibbly wobbly timey wimey que explicam a viagem no tempo para um seriado que existe há mais de cinquenta anos com regras muito bem estabelecidas e que vira a mexe se embanana... Aqui são partículas Pym e uma enormidade de absurdos ridículos que tentam referenciar os outros filmes (e explicar que por tabela todos esses filmes estão errados), mas, pelamor... Isso é pseudociência, porra, vamos parar de fingir que algo nisso tudo faz (ou deveria fazer) sentido.

E essas viagens no tempo bastante convolutas ocupam quase metade do filme, e, apesar de render alguns momentos satisfatórios (principalmente com o Gavião Arqueiro e a Viúva Negra, ambos concluindo seus arcos), me faz perguntar se de fato era parte do plano original para concluir o filme do ano passado (até porque eu não consigo assistir sem me perguntar se esse é de fato o único cenário de vitória que o Doutor Estranho fala no filme anterior - consigo ver uns dois ou três cenários naquele filme mesmo que poderiam terminar com vitória dos Vingadores).

Não só da viagem no tempo estão os problemas da cronologia, afinal o filme pula cinco anos no tempo dos eventos do filme anterior para assim (em 2023) iniciar a jornada das viagens no tempo (destacando que todas elas partem do ano de 2023 e depois, como obviamente aconteceria, personagens de ANTES dos eventos do filme de 2018 vão para o futuro de 2023!).

Quer dizer, beeeem bagunçado... Todo o desenvolvimento do filme revolve em torno de uma enorme viagem no tempo pelos greatest hits dos últimos 900 filmes do MCU, e, enquanto eu entendo a ideia, acaba parecendo muito mais marmita recauchutada do que um prato novo e saboroso (mesmo quando nessas viagens o filme TENTA oferecer algo novo).

Termina com um grandioso espetáculo pirotécnico (que não faz o menor sentido, inclusive nas regras dessas viagens no tempo do próprio filme... Quer dizer, como o Thanos de 2014 consegue partículas Pym suficientes para viajar com toda a sua armada para 2023?) que é mais luz que substância.
E muita dessa luz mesmo parece pouco relevante ou interessante.
Nada parece ter muito peso, e fora alguns personagens que ganham seu devido destaque, as coisas parecem mais confusas e bagunçadas do que deveriam, e a verdade é que as regras não valem pra muita coisa e tudo é bem artificial (droga, a Capitã Marvel peita o Thanos COM A MANOPLA DO INFINITO!)

No fim eu realmente me pergunto como diabos esse é o único possível cenário em que os Vingadores venceriam que o Doutor Estranho vê no filme anterior (sério, era só o Thor mirar o machado um pouco mais pra cima, ou pro lado cortando o braço com a manopla com o pessoal do HISHE destacou)...

Resumindo: Ótima peça de marketing, filme fraquinho.
Nota: 4,0/10