Espero que seja o último post, e até faria um 'explicando o fim' se achasse que realmente existe o que explicar (sem soar presunçoso como um bocado de vídeos no youtube explicando os fins mais idiotas de filmes - droga, tem um explicando o final do Dumbo!)
Mas ao contrário de meus comentários anteriores sobre a série eu pretendo explorar alguns dos momentos chave da temporada final e discuti-los (prioritariamente o final da Longa Noite, a reviravolta com a Daenerys).
Primeiro, volto ao ponto do comentário de ontem de que as escolhas externas influenciam (e muito) as decisões dos personagens em qualquer contexto (sejam filmes, seriados, quadrinhos ou o que for) e isso pode mudar, obviamente, de acordo com a reação dos fãs (dando mais espaço para um personagem pequeno - como a garota Mormont que foi crescendo no seriado, por exemplo - ou tirando espaço de algum personagem que não agrade exatamente o público - como o verdadeiro herdeiro de Jon Arryn, Robert Arryn).
Considerando que sempre é bom deixar uma porta aberta para garantir uns trocos a mais, seja com um spin off como Frasier para Cheers ou Segura a Onda para Seinfeld (e isso só citando os sucessos) ou uma reunião do elenco daqui alguns anos para rememorar o sucesso de outrora (como os recentes revivals de shows antigos como Arquivo X, Gilmore Girls e outros tantos), parecia bem pouco provável um final negativo (com os caminhantes brancos tomando toda Westeros como alguns especularam) já de cara, e um longo final feliz com tudo dando certo e os personagens se dando bem e gargalhando parece bem pouco característico para dizer o mínimo.
Então com isso em mente os criadores do seriado da HBO tiveram que moldar esse final, e é bem provável que o considerassem já bem antes da temporada final. Bem antes da sétima temporada inclusive quando foram trilhando o caminho para esses episódios finais.
Fez-se um vilão todo poderoso e unificador na forma do Rei da Noite, o grande-chefão-ultra-poderoso dos caminhantes brancos e que era a maior ameaça (talvez até a única ameaça digna de consideração) para o continente de Westeros (sabe, aquele lugar que teve guerras, lidava com fome, pestilência e mais uma caralhada de problemas nas temporadas anteriores?), trazendo consigo um apocalipse zumbi (representando assim a morte para completar os quatro cavaleiros do apocalipse de maneira ainda mais óbvia na cara para apontar o simbolismo até pro mais idiota espectador).
A construção desse vilão ultra-poderoso-mother-fucker-das-galáxias serve como o motivador e fio condutor da trama para as temporadas seis e sete, levando tudo para o que parece sua conclusão lógica, e com isso uma conclusão épica e grandiosa.
Só que isso é Game of Thrones e não O Senhor dos Anéis... Os personagens morrem de maneira anti-climática (como em uma guerra de cinco reis que um deles meio que morre escorregando de uma casca de banana), e não tinha em absoluto como o Rei da Noite ser uma ameaça digna para a temática do show (a mudança de poder e governantes neste continente medieval) além da representação antropomórfica de um problema real (o inverno terrível que faz parte do lema da casa Stark e que viria trazendo fome, devastação, falta de suprimentos e obviamente o fim do mundo).
Só que as pessoas sobrevivem ao cataclismo.
O inverno vem e passa e tudo continua como dantes. Os maesters estavam certos e esperar o inverno passar era mais lógico que enfrentá-lo de armas em punho... E é aí que reside o real brilhantismo da conclusão de A Longa Noite, nessa conclusão anti-climática de eliminar o grande vilão e com isso dissipar completamente sua trama (e sua ameaça).
Ele e seus caminhantes brancos nunca foram a real ameaça... Ao que posso quase que ouvi-lo(a) caro(a) leitor(a) perguntando: Mas então qual era a real ameaça?
E é aí que o seriado passa a caminhar em gelo fino ao tentar compilar oito temporadas que não tinham um único fio condutor e problema central para uma grande e única (e unificadora) ameaça que fosse coerente com o contexto de tudo que veio antes.
A ameaça jamais seria o Rei da Noite, e isso é claro como o sol (ele seria só mais um dos problemas a serem superados, talvez somente a personificação deste problema), mas como justificar o depois desta ameaça de maneira satisfatória?
Aqui voltamos aos problemas de escolhas que escrevi no post anterior e no começo deste. Poderiam fazer temporadas mais compridas, poderia terminar a temporada anterior com a Longa Noite e partir daí para esta temporada final com mais episódios para lidar com o que veio depois da ameaça do Rei da Noite e a reconstrução de Westeros. E a resposta é sim, poderiam.
Mas quem se importaria?
Quem esperaria por dois anos por uma conclusão depois do grande vilão ser derrotado?
De que importaria a reconstrução de um continente ficcional destroçado e a batalha final pelo controle do trono? Quem se importa realmente com as alianças e quem se aliaria a quem ou deixaria de aliar depois de tudo o que se sucedeu?
E nisso foram as escolhas tomadas pelos executivos da HBO de fazer de maneira bem mais rápida e quase imediata a conclusão tanto da trama do Rei da Noite como do Trono de Westeros num curto intervalo.
Funcionaria melhor com mais episódios entre eles? Talvez. Talvez o interesse se dissipasse e a conclusão/epílogo - com um episódio só pros eventos após Jon matar Daenerys - não conseguisse cativar o interesse do mais aficionado fã.
Então escolheram apressar o processo para que a conclusão ocorresse da maneira mais orgânica possível sem que um novo Greyjoy surgisse para discutir a aliança com os Targaryen ou alguma família do Ninho da Águia questionasse a aliança com o Norte para combater os Bolton.
Tudo que não estivesse de alguma forma de ou de outra atrelada à conclusão das tramas individuais dos protagonistas (os Lannister, os Stark e os Targaryen) era irrelevante para o grande esquema das coisas.
O que Qyburn tramou em Westeros enquanto os episódios focavam no Norte? O grande exército que Cersei recruta? Os Greyjoy e as ilhas de Ferro? O forte do Pavor após a morte dos Bolton?
Olha eu posso fazer mais um bocado de perguntas se eu quiser mas todas terão a mesma resposta/pergunta: De que importa?
Não é a história de Shagga, filho de Dolf e líder dos Corvos de Pedra que importa a qualquer pessoa.
Então tiveram de cortar um bocado de gordurinhas para um final mais enxuto e direto.
Só que o problema é que esse é um seriado conhecido por excessos e gordurinhas. São as aulas de gemidos para prostitutas (sério, isso aconteceu) ou, droga, tudo que aconteceu em Dorne por todo o período em que essa trama seguiu ou mesmo em Bravos, Meereen e qualquer cidade que não seja do Norte ou King's Landing (onde a trama principal sempre correu).
Não digo que isso é bom ou ruim, é uma escolha focando num possível spin off numa possível continuação, num seriado todo focando em Meereen depois que Daenerys partir para Westeros por exemplo.
Dito isso, claro que o final (ou as temporadas finais) tiram o escopo grandiloquente para buscar uma condição mais lógica para a conclusão o que exige sacrificar tramas paralelas (como alternativa elimina casas como os Tyrell ou boa parte do pessoal de Dorne) tentando oferecer o mínimo de pontos focais possíveis para que HAJA uma trama unificadora que lide com esses personagens.
O que obviamente dividiria os fãs do que veio antes (uma grandiloquente trama que vai para todo lado) com os fãs que queiram apenas as conclusões para tramas mais interessantes/importantes.
No segundo ponto vimos praticamente todos os personagens encontrando um desfecho de suas tramas (Sam, Bronn, Tyrion, Brienne e Davos formando o pequeno conselho, outros personagens pequenos que se tornam nobres e passam a liderar suas famílias, Bran Stark que se torna o líder regente e por aí vai).
Se são conclusões satisfatórias? Bem, isso depende bastante do que se considera como satisfatório em uma conclusão.
Elas concluem de maneira coerente com os personagens, mas nem todas são conclusões positivas (Jon parte pro exílio como era bastante provável que acontecesse assim que descobrisse sua origem Targaryen - algo já anunciado quando ele foi para a muralha e foi descobrindo os segredos de lá).
Ao que leva para a grande reviravolta da temporada por parte de Daenerys violentamente destruindo King's Landing no quinto episódio The Bells.
Enquanto eu entendo algumas das reclamações de fãs, eu não consigo dizer honestamente que via outro final para a personagem como mais coerente levando em conta tudo até aquele momento.
Ao final do primeiro livro (ou temporada) talvez Danny seria uma rainha benevolente e justa.
Só que isso é como How I Met Your Mother. No final da segunda temporada fazia sentido que Ted terminasse com a Robin. No final da última, depois de Barney se casar com ela e as várias idas e vindas, o final planejado quando a série foi concebida deixa de fazer sentido.
Daenerys vai espalhando um reino de terror e caos por onde passa conforme as temporadas seguem mas ignoramos isso porque ela foi derrubando gente pior do que ela (e sim, Tyrion diz isso no episódio final). Ela mata os ricos donos de escravos, mas as cidades não ficam minimamente melhor sem a escravidão.
Na verdade com a égua descorada varrendo a Baia dos Escravos, ela não se esforça minimamente para trazer remédios, médicos ou o que fosse... Se importa mais com os filhos da Harpia (que de fato queriam matá-la) que com a doença afligindo seu povo.
Enquanto ela é inicialmente vista como a grande libertária e alguém que trazer a mudança, como a grande mãe dos pobres e aflitos, ela parte sem resolver a fome, doença ou distribuição de renda e desigualdade de Meereen e cidades vizinhas ela simplesmente parte para Westeros para conquistar seu trono deixando um mercenário em seu lugar.
Goste ou não, o trono se torna o foco da personagem desde muito cedo em sua jornada (ao se casar com um bruto bárbaro para garantir um exército - e mesmo antes disso em coisas que os livros e o seriado vai apontando sobre tudo que ela fez/faz antes disso ainda), e a ameaça constante a seu domínio (como um herdeiro mais querido do povo e com melhor direito de herança, mas em Meereen não foi necessário sequer isso, e a morte de dois de seus três dragões não ajudam muito o controle de sua influência) ao ponto que sair de uma postura benevolente para alguém que quer instilar medo faça sentido para a personagem. É o arco dessa personagem por bem ou por mal.
E francamente, pra mim funciona bem.
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