Nota: 7,5/10 |
O segundo romance de Kazuo Ishiguro de 1986 (quatro anos após o romance de estreia ainda inédito no Brasil com título de A Pale View of the Hills, ou algo como "Uma Vista Pálida das Colinas" em tradução literal), já mostrava um autor bastante seguro e competente na sua arte e nos temas que viria a desenvolver nos anos por vir.
Ainda que seja um romance mais pé no chão que outras das suas obras mais próximas de fantasias, ainda estão aqui temas que seriam abordados em romances futuros. As más recordações e memórias distorcidas e a ação do tempo na formação de nosso caráter e percepção de eventos.
É como uma versão 'light' de O Gigante Enterrado de 2015 (que na época eu destaquei o excesso de páginas) com pouco mais de 200 páginas contra as 400 do livro de 2015, com a diferença que eu acho que aqui ao menos o livro poderia (e deveria) dar mais espaço para os eventos do protagonista.
O artista e protagonista que narra a história é um senhor já de idade e que apoiou os esforços de guerra japoneses na segunda guerra, mas o livro faz uma série de voltas sobre esse fato para que cheguemos a essas conclusões.
Na verdade o livro nunca detalha exatamente quais ou quantos foram esses esforços efetivamente, até porque a falta de confiabilidade do autor vai deixando cada vez mais difícil confiar nas memórias e histórias do protagonista, e, uma vez que se trata de uma figura ficcional, fica difícil entender ou julgar o reflexo de suas ações.
Quer dizer, sim, sei que o Japão guerreou com a China e bombardeou Pearl Harbor (iniciando um brutal conflito com os EUA) na segunda guerra, mas nunca fica exatamente claro e nítido o que o artista Ono fez além de alguns panfletos pró-guerra ou participado de alguma organização conservadora de moral e bons costumes, explicando muito mais dos arranjos do casamento da filha mais nova ou da compra de uma casa ou outras histórias similares.
É interessante, mas pra mim acaba faltando um pouco mais da dimensão das ações do protagonista para dar efetivo peso a suas memórias. Algo mais para Mother Night do Kurt Vonnegut.
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