Também chamado 'Pérolas aos porcos', Deus o abençoe, Sr Rosewater' lançado em 1965 e, que até onde eu sei nunca foi publicado no Brasil - ou adaptado para o cinema, apesar de uma versão musical na década de 70 - esse é, até onde eu vejo, o livro de Vonnegut com maior inclinação ao comentário social.
E não apenas qualquer comentário social, mas um comentário claro contra o capitalismo e sua lógica injusta e sua estrutura exclusivista, desde o mote da história até sua conclusão. Quer dizer, que tipo de texto que não crítico ao capitalismo teria como uma pessoa caridosa tratada como louca (e internada a uma instituição para tratamento)?
Por isso, é claro e evidente, a obra não é para todo mundo... Aqueles incapazes de reflexão e raciocínio verão nesse único argumento o ponto para criticar toda a obra e colocá-la sob a ótica comunista/petista/petralha.
O que é uma baita pena.
O argumento de Vonnegut é coerente ao desconstruir a ideia do capitalismo, a ideia das famílias que se construíram (com a falácia do dinheiro dos Rosewater moldado com base em corrupção, manipulação do mercado e mentiras - que incluem os dois irmãos Rosewater seguindo caminhos opostos e montando os dois ramos da família, com um desprezo típico dos Hatfield-McCoy), inclusive com a reflexão da noção de gente com dinheiro - e sem - e o que isso simboliza e significa, de como vemos o dinheiro, e tratamos as pessoas com, e sem dinheiro, e como tratamos essas pessoas de maneira diferente.
Como a pobreza é vista como a lepra ou algo pior, enquanto aqueles que tem dinheiro (mesmo que sem cultura, classe ou qualquer outro argumento) são tratados como uma classe (ou casta) superior.
Ainda que eu ache esse mais um dos ótimos livros de Vonnegut, existe um trecho pela metade da narrativa que começa a discursar sobre reencarnação e coisas do tipo que eu realmente me perdi (e fiquei na dúvida se não era um erro na impressão/edição mesclando algum texto religioso ao trabalho do autor), e partes da narrativa vão se arrastando para chegar à conclusão da história de Elliot (o claro protagonista). Não chega a comprometer, ainda que seja estranho demais e não mude em nada a conclusão da obra...
No fim, a verdade é que a obra é grande demais para o que Vonnegut pretendia ao que sua conclusão acaba apagada, diminuta em virtude de um problema complexo (ou seja, a disparidade financeira) e grande demais para ser resolvido por uma obra de ficção.
Nota: 8,0/10
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