É difícil explicar esse livro de maneira rápida e coesa.
Resumi-lo, francamente impossível sem ser severamente injusto com seu conteúdo. Franzen é lento e gradual na apresentação de seus personagens (tecendo vagarosamente a teia que interliga cada um deles e mais importante contextualizando seus passados e ações pregressas), e por mais que uma cena inócua e boba possa parecer, ela invariavelmente repercute ou é explicada em algum momento da trama.
Porque é o desespero de Chip ao roubar nove dólares ou enfiar um peixe nas calças para um jantar com os pais que contextualiza sua decisão mais adiante no livro, só que é o que acontece antes que o leva ao desespero de roubar nove dólares e enfiar um peixe nas calças e é a forma gradual do autor de expor os fatos, e, principalmente, a sua forma gradual e coesa (afinal É algo para poucos, e Franzen faz com maestria) de cortar e recortar histórias e personagens para entrepor e sobrepor eventos.
Corta de Enid e Alfred (os pais idosos, ele com mal de Parkison e ela se esforçando para manter um segredo custoso ao casal) para Denise (a filha mais nova divorciada de quem Enid tem algum ressentimento por se casar com um judeu) ou Chip (o filho demitido de um cargo de professor de uma universidade que tenta vender um roteiro para Hollywood) ou mesmo trechos do roteiro de Chip, uma propaganda aleatória ou o preço das ações no mercado do Sri Lanka (talvez esse não esteja no roteiro, mas você entende).
Tudo é orgânico e funcional de maneira que a progressão natural tem de ser mais lenta para culminar nos eventos e absurdos. É algo muito parecido com o que Kurt Vonnegut fez em boa parte de sua obra, com principal destaque para a construção da trama de Cama de Gato (Cat's Cradle - and the silver spoon - de 1963) ou os cortes e mudanças de estrutura textual de Café da manhã dos Campeões (Breakfast of Champions de 1973) com a exata mesma ideia de expôr o absurdo através do normal, construindo algo típico e comum para aos poucos ir inserindo aqui e ali aquela peculiaridade para explorar melhor a perspectiva ampla da coisa toda, desse universo construído delicadamente para ser, ao mesmo tempo parecido com o mundo real e levemente exagerado (para assim extrapolar as críticas e comentários sociais).
De novo, como na obra de Vonnegut.
De novo, como na obra de Vonnegut.
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