Comprei recentemente o box da série Twin Peaks (imagem ao lado) que traz em uma coleção de 10 dvds com as duas temporadas da série que incluem todos os prólogos da Dama do Tronco, e uma enorme quantidade de extras como os bizarros comerciais japoneses para uma bebida energética a base de café (não estou brincando), um documentário e a sátira do Saturday Night Live. Na verdade tem mais algumas coisas, com a única notável ausência do filme 'Fire Walk With Me' (algo como 'O Fogo Caminha comigo' em tradução livre, que estrela Kiefer Sutherland e o próprio David Lynch numa espécie de prólogo/epílogo ainda mais estranho para a série).
Minto, também faltam alguns outros extras, como o bizarro jantar de David Lynch com a família Palmer vinte e cinco anos depois (todos devidamente no personagem, inclusive destacando que Laura e Leland estão mortos), mas verdade seja dita, são coisas das quais é possível abrir mão.
Minto, também faltam alguns outros extras, como o bizarro jantar de David Lynch com a família Palmer vinte e cinco anos depois (todos devidamente no personagem, inclusive destacando que Laura e Leland estão mortos), mas verdade seja dita, são coisas das quais é possível abrir mão.
Saído diretamente da cabeça insana de David Lynch em parceria com Mark Frost, a série que em grande parte é a investigação criminal do bizarro e chocante assassinato de Laura Palmer, mas tem o outro aspecto mais abrangente que tange sobre as peculiaridades de pessoas, situações e coisas comuns. A cidade, que é uma típica comunidade rural com pouquíssimos habitantes e aquele ar bucólico montanhoso esconde centenas de milhares de segredos, que vão desde coisas simples (casos extraconjugais) a coisas mais cabeludas (como a vítima do assassinato Laura guardando em um cofre de banco uma revista pornô com uma bela quantidade de dinheiro) e claro simplesmente bizarras (sim, você sabe que é a sala vermelha com o Homem de Outro Lugar dançando Jazz e falando em rotação alterada).
O geral é a condição de que não conhecemos de fato as pessoas - que todo mundo guarda segredos, às vezes mesmo as coisas mais mundanas - e é aí que o talento de Lynch em brincar com o bizarro dá vazão a personagens peculiares e fascinantes como a Dama do Tronco ou o brilhante Agente Cooper (o entusiamo de Kyle MacLachlan na entonação de suas falas é cativante ao ponto de destacar bastante o personagem de ser só mais um policial dentre tantos dos seriados), mas sem dúvidas ainda existem vários personagens que merecem destaque como a secretária da polícia Lucy e seu marido Andy (o policial sensível que chora em cenas de crime).
No entanto, e isso é igualmente importante dizer, nem tudo funciona ou envelheceu bem.
Ainda que seja uma escolha estilística para fazer o material mais parecido com uma novela - ao ponto que existe o paralelo constante com uma novela que quase todos os personagens assistem - não dá para ignorar o quanto muitas das situações são ridículas mesmo para os mais Pedro Camacho (o excêntrico autor de novelas de Tia Júlia e o Escrevinhador de Mario Vargas Llosa, que se embola todo nas mil tramas de suas novelas). No que, claro, sobram sósias, irmãos gêmeos malvados, passagens secretas por hotéis e mais um bocado de coisas que nem os melhores autores fazem soar verossímeis (de novo, sei que é escolha estilística, só nem sempre funciona).
Ainda que seja uma escolha estilística para fazer o material mais parecido com uma novela - ao ponto que existe o paralelo constante com uma novela que quase todos os personagens assistem - não dá para ignorar o quanto muitas das situações são ridículas mesmo para os mais Pedro Camacho (o excêntrico autor de novelas de Tia Júlia e o Escrevinhador de Mario Vargas Llosa, que se embola todo nas mil tramas de suas novelas). No que, claro, sobram sósias, irmãos gêmeos malvados, passagens secretas por hotéis e mais um bocado de coisas que nem os melhores autores fazem soar verossímeis (de novo, sei que é escolha estilística, só nem sempre funciona).
Há um excesso de personagens com um esforço por serem peculiares sem serem interessantes (Bobby que parece saído de um filme dos anos 50, ou a irritante sra com o tapa-olho, Nadine), e mesmo os personagens mais 'normais' não são todos interessantes ou bem desenvolvidos. Suas interações e vínculos com a história principal que vão embarrigando a história (com os casos extraconjugais de personagens terciários que nada acrescentam à trama principal, com algum excesso de bobagem sobre o controle acionário do hotel onde o pai de Laura trabalha ou a serralheria da namorada do xerife).
É um seriado curto (em duas temporadas não chega a 30 episódios, o que é menos que o também curto Gravity Falls, com 42 - e que bebe um bocado da fonte de Peaks), nem tudo é perfeito, mas no que ele acerta... Bem, só posso dizer que fica com você pro resto da vida.
David Lynch sabe construir o surreal com uma elegância que poucos diretores foram capazes até hoje (Eraserhead é suficiente para demonstrar isso, mas Lynch já fez beeeem mais que isso de maneira bem mais sutil como em Mulholland Dr.). E claro, ao final ficam muito mais perguntas que respostas concretas.
Talvez a nova temporada/série a ser lançada em 2017 traga alguma luz obre o que se deu com o Agente Cooper e o grande vilão da série, talvez ano que vem só trará mais questionamentos.
Só sei que vale a pena conhecer a cidadezinha (com cuidado, afinal, nem todo mundo será capaz de voltar).
Se ficou alguma dúvida, sim, teremos um 'Explicando o fim' para Twin Peaks no sábado próximo (não nesse que é véspera do dia dos Namorados, no outro).
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